Defensor de serviço gratuito de ônibus e integrante do Partido Democrata, ele pode se tornar o primeiro muçulmano a comandar a cidade Internacional, Donald Trump, Estados Unidos, Nova York, Partido Democrata CNN Brasil
Zohran Mamdani, o candidato que venceu as primárias do Partido Democrata para ser a indicação do partido para disputar a prefeitura de Nova York, triunfou com demandas progressistas por mudança.
O resultado oficial das primárias só será conhecido pelo menos em 1º de julho, quando a cidade divulgar os resultados iniciais do sistema de votação por ordem de preferência.
No entanto, Mamdani tinha uma clara vantagem na noite de terça-feira (24), e o adversário Andrew Cuomo, ex-governador de Nova York, informou seus apoiadores que havia ligado para Mamdani e reconhecido a derrota nas primárias.
Os eleitores democratas rejeitaram Cuomo, um ícone do partido envolvido em escândalos. Em vez disso, apoiaram o socialista democrata de 33 anos que energizou jovens eleitores e progressistas com uma campanha que poderia representar o primeiro esboço de uma nova estratégia da sigla.
“Lutarei por uma cidade que funcione para vocês, que seja acessível para vocês, que seja segura para vocês”, afirmou Mamdani em seu discurso de comemoração pouco depois da meia-noite.
“Podemos ser livres e nos alimentar. Podemos exigir o que merecemos”, adicionou.
Quem é Zohran Mamdani?
Zohran Mamdani é um deputado estadual que representa partes do Queens, um bairro de Nova York e uma das áreas mais diversas do país. Ele está no terceiro mandato.
Mamdani é um imigrante de Uganda que foi criado na Cidade do Cabo, na África do Sul, e, depois, na cidade de Nova York, onde estudou na prestigiosa Bronx High School of Science antes de se matricular no Bowdoin College.
Ele é filho de Mahmood Mamdani, professor da Universidade de Columbia, e Mira Nair, cineasta indiana que já trabalhou em “Mississippi Masala” e “Casamento à Indiana”.
Antes de sua campanha para prefeito, Mamdani ganhou as manchetes nacionais em 2021, quando se juntou aos taxistas de Nova York em uma greve de fome de 15 dias em busca diminuição de dívidas excessivas.
Ele também trabalhou como rapper sob o nome artístico de Mr. Cardamom, cantando sobre chapati, um pão indiano achatado, e como conselheiro de prevenção de execuções hipotecárias.
Se eleito prefeito, ele se tornaria um dos mais jovens a ocupar o cargo. Mamdani também se tornaria o primeiro prefeito muçulmano na história de Nova York — lar de mais de meio milhão de muçulmanos e uma das maiores populações judaicas fora de Israel.
Quais são as propostas de Zohran Mamdani?
Mamdani quer congelar o aluguel de quase 1 milhão de nova-iorquinos que vivem em apartamentos com aluguel estabilizado e oferecer serviço gratuito de ônibus urbano, creches universais e supermercados subsidiados pela cidade.
Ele afirmou que pagará por tudo isso aumentando os impostos dos mais ricos da cidade, embora tenha pouco poder para isso por meio da Prefeitura.
Os impostos só podem ser aumentados ou reduzidos pelos legisladores estaduais com a aprovação do governador.
A governadora democrata Kathy Hochul já jogou água fria na proposta, afirmando que a medida provavelmente levará mais nova-iorquinos a deixarem a cidade e se dirigirem para a Flórida e outros destinos com impostos mais baixos.
A campanha de Mamdani arrecadou US$ 7 milhões de milhares de doadores individuais e mobilizou um exército de voluntários. Ele obteve o apoio da deputada Alexandra Ocasio-Cortez, do senador Bernie Sanders, de Vermont, e do sindicato United Auto Workers.
“Esta corrida não é apenas simbólica para o futuro da cidade de Nova York, esta corrida é simbólica para o futuro do nosso país”, afirmou Ocasio-Cortez durante um comício lotado com mais de 2 mil apoiadores na semana passada.
“Por muito tempo tivemos uma liderança política, inclusive no Partido Democrata, que só queria jogar pelo seguro”, adicionou.
Por que alguns integrantes do Partido Democrata estão preocupados?
A preocupação do establishment do Partido Democrata ficou clara em uma teleconferência pré-eleitoral realizada pela Third Way, um think tank nacional que defende uma agenda política centrista.
O grupo divulgou um memorando na semana passada, alertando que uma vitória de Mamdani seria “um golpe devastador na luta para derrotar o trumpismo”.
“Estamos realmente preocupados com todos os democratas daqui para frente se Mamdani vencer”, comentou Matt Bennett, vice-presidente executivo de relações públicas, a repórteres durante a teleconferência.
“Mesmo que ele não ganhe a eleição, se ele apenas conquistar a indicação democrata, isso pode prejudicar os democratas”, adicionou.
Andrew Cuomo fez de sua longa carreira no governo de Nova York e da experiência em relação ao presidente Donald Trump os pilares de sua campanha.
Ele alega que Mamdani é um líder inexperiente com ideias irreais e sugere que Trump o atacaria como “uma faca quente na manteiga”.
“Ele nunca fez nada do essencial. E agora você tem Donald Trump no comando de tudo isso”, pontuou Cuomo durante um debate recente.
Mamdani respondeu focando nos escândalos de assédio sexual do adversário, sua reputação e seus doadores bilionários. O ex-governador negou repetidamente as alegações de má conduta.
“Nunca precisei renunciar em desgraça. Nunca persegui as 13 mulheres que me acusaram de assédio sexual de forma crível. Nunca processei seus registros ginecológicos. E nunca fiz essas coisas porque não sou o senhor, senhor Cuomo”, comentou Mamdani durante um debate.
Críticas a Zohran Mamdani
Cuomo e outros rivais de Mamdani criticaram a maneira como ele abordou o antissemitismo e a guerra entre Israel e o Hamas.
O democrata acusou o governo israelense de realizar um genocídio na Faixa de Gaza e defendeu o uso do slogan “globalize a intifada” como um grito de guerra pelos direitos humanos palestinos durante uma entrevista ao The Bulwark.
Mamdani disse acreditar que a frase se referia a “um desejo desesperado por igualdade e direitos iguais na defesa dos direitos humanos palestinos”, explicando que o Museu do Holocausto dos EUA usou uma palavra árabe semelhante que significa “revolta” para descrever a Revolta do Gueto de Varsóvia contra os nazistas.
“Compartilhei minhas opiniões com os nova-iorquinos ao longo desta corrida, opiniões que sempre se voltam para a crença nos direitos humanos universais, o que significa enfrentar o antissemitismo e a islamofobia”, afirmou à CNN.
A campanha dele propôs um aumento de 800% para o programa municipal de combate a crimes de ódio.
Ainda assim, as críticas a esses comentários foram rápidas e furiosas. Mamdani foi condenado pelo Museu do Holocausto e por alguns colegas democratas por usar uma frase que acreditam incentivar a violência contra judeus.
O Controlador da Cidade, Brad Lander, que ficou em terceiro lugar nas primárias do partido disse que preferia que o colega evitasse completamente o termo.
Mamdani, por sua vez, se emocionou ao falar com repórteres sobre a reação negativa, detalhando as múltiplas ameaças e as ligações de assédio quase constantes que seu escritório recebe diariamente.
“Me dói ser retratado como se eu fosse, de alguma forma, [ruim] para os próprios nova-iorquinos judeus que conheço e amo, que são uma parte tão importante desta cidade”, disse Mamdani.
“Quando falo com emoção, sou caracterizado pelos rivais como um monstro. Recebo mensagens que dizem: ‘O único muçulmano bom é um muçulmano morto’. Recebo ameaças contra a minha vida, contra as pessoas que amo”, adicionou.
Ele também acusou um Comitê de Ação Política (PAC) pró-Cuomo de criar um panfleto de campanha que exibia sua foto aparentemente alterada para fazer sua barba parecer mais escura e espessa, ao lado de um texto que dizia que Mamdani “rejeita os direitos judaicos”.
A campanha de Cuomo afirmou que nunca enviou o panfleto e que ele foi criado por um fornecedor independente.
O que Zohran Mamdani disse sobre os ataques dos EUA ao Irã?
Zohran Mamdani chamou os ataques ordenados por Donald Trump contra o Irã de “um novo e sombrio capítulo em sua série interminável de traições”.
“Embora Donald Trump tenha responsabilidade imediata por essa escalada ilegal, essas ações são resultado de um establishment político que prefere gastar trilhões de dólares em armas a tirar milhões da pobreza, lançar guerras sem fim enquanto silencia os apelos por paz e disseminar o medo sobre os estrangeiros enquanto bilionários minam nossa democracia por dentro”, disse ele em um comunicado.