O presidente Donald Trump chacoalhou a política brasileira com o surpreendente post em defesa do direito de o ex-presidente Jair Bolsonaro se candidatar nas eleições de 2026. Ele usou a própria rede, Truth Social, para atacar a “perseguição” política a que o aliado estaria sendo submetido. E adicionou no jogo de 2026 um elemento ansiado por bolsonaristas, mas que não garante por si só uma vantagem eleitoral para a direita.
Este conteúdo foi antecipado na segunda-feira (7/7) para os assinantes corporativos do JOTA PRO Poder, uma plataforma de monitoramento político com informações de bastidores que oferece mais transparência e previsibilidade para empresas. Conheça!
Com a mira em 2026, o presidente Lula reagiu rapidamente, com discurso enfatizando a defesa da “soberania nacional” e com apelo patriótico, acusando seu antecessor de “subserviência” aos EUA. Em tom irônico, disse que “cada país é dono do seu nariz” e que “não é correto um presidente da República ameaçar os outros pela internet”.
A declaração de Trump, junto com a ameaça da véspera de uma tarifa de importação extra nos EUA em reação aos movimentos da reunião de cúpula dos Brics, reforçou em setores do bolsonarismo a expectativa de que o governo americano esteja iniciando um movimento de apoio ao ex-presidente brasileiro que deverá ir além dessas falas, com possíveis medidas de retaliação a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), por exemplo.
Os movimentos do americano e o fogo cruzado com o governo brasileiro reforçam a estratégia de Bolsonaro de carregar sua candidatura até o limite. E, por consequência, impactam as pretensões em torno da candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, defendido por setores do centrão, pela chamada “Faria Lima” e por parte do empresariado paulista.
Visão do Planalto
O Planalto entende que Tarcísio seria um adversário mais duro para Lula em 2026 do que qualquer um vinculado ao clã Bolsonaro, seja o ex-presidente, algum de seus filhos ou a esposa, Michelle. Isso porque o governador paulista, na visão desses interlocutores, seria capaz de organizar melhor os partidos de centro-direita, garantindo um apoio mais robusto do mercado, do empresariado e até da mídia.
Entretanto, também há uma avaliação de que nas últimas eleições nem sempre a política funcionou com a lógica tradicional. Quando Bolsonaro ganhou a eleição em 2018, quem contava com apoio desses setores, além de tempo de TV, dinheiro, alianças ao centro, era o hoje vice-presidente Geraldo Alckmin, à época no PSDB. Ele teve um desempenho pífio que mudou o jogo de forças na política brasileira, colocando o antipetismo nas mãos dos seguidores de Bolsonaro.
Sem ter a benção de Bolsonaro, o risco de Tarcísio ter a mesma trajetória de poucos votos das alternativas anteriores de centro é uma possibilidade relevante. Não à toa, o governador tenta publicamente se colocar somente como postulante à reeleição ao Palácio dos Bandeirantes e se mostrar convictamente ao lado de Bolsonaro.
Tarcísio estrategicamente promove fala de Trump
Nesse sentido, Tarcísio, que já vestiu o boné do MAGA (Make America Great Again), correu para repercutir a fala de Trump e defender a candidatura de seu ex-chefe e padrinho político. A postagem, também no X, acabou servindo de gancho para ataques em massa da esquerda contra o governador de São Paulo, tanto na linha de que Bolsonaro já teve a avaliação das urnas (ao ter sido derrotado em 2022), mas também na linha de reforçar uma crítica de falta de patriotismo e “vira-latismo” por parte do espectro da direita.
No Planalto, fontes interpretam também que o apoio de Trump fortalece o clã Bolsonaro na disputa e os nomes de Eduardo, Flávio ou Michelle Bolsonaro como alternativas a serem acionadas na undécima hora no provável caso de o ex-presidente seguir inelegível, em detrimento da opção Tarcísio.
Interlocutores do governador, por sua vez, enxergam menos estrago das declarações de Trump sobre as intenções presidenciais dele do que dos movimentos dos familiares do ex-presidente. O entorno de Tarcísio aponta que “todos os dias plantam algo contra ele” e que essa atuação bolsonarista trava movimentos da política em prol da possibilidade de unção do governador paulista.
Pesquisas apontam Bolsonaro como pior cenário para Lula
Apesar de a leitura do Planalto ser de que Tarcísio seria um adversário mais difícil, no consenso das pesquisas calculado pelo JOTA, o cenário mais desfavorável para Lula seria Bolsonaro. Contra ele, Lula perde na maioria das simulações tanto no primeiro quanto no segundo turno. Pelo menos até agora, a cerca de 450 dias da eleição.
Nas projeções mais recentes do agregador, Bolsonaro tem 40% no primeiro turno, contra 36% de Lula. No segundo turno, a vantagem é mais apertada: 46% a 44% para Bolsonaro. Dada essa vantagem e o grau de incerteza envolvido, o modelo atribui a Bolsonaro 67% de chance de vitória — e a Lula, 33%. Vale, porém, sempre destacar que os dados de hoje devem ser alterados até o momento da eleição, respondendo a uma miríade de fatores, políticos e econômicos.
Estratégia do Planalto com Trump
A despeito dos inúmeros cenários eleitorais possíveis, auxiliares de Lula têm hoje uma leitura política de que brigar com o Trump é bom eleitoralmente, aproveitando-se do discurso nacionalista que a postura do homólogo americano permite.
Assine gratuitamente a newsletter Últimas Notícias do JOTA e receba as principais notícias jurídicas e políticas do dia no seu email
Antagonizar com uma figura vista largamente como “vilão do Planeta” e que é mal avaliado no mundo inteiro pode trazer dividendos para Lula. Usam como exemplo extremo o que aconteceu no Canadá, quando a centro-esquerda conseguiu virar uma eleição parlamentar praticamente perdida ao se contrapor ao presidente americano.
Há, porém, uma percepção inicial de que esse embate no Brasil reverbera menos do que tem sido visto no Canadá e México, países fronteiriços aos EUA. Essa “guerra com Trump” não é capaz de virar uma eleição em favor da esquerda, como no Canadá. Mas confere a Lula um inimigo comum e um discurso nacionalista, que costuma render dividendos eleitorais.
O Planalto dá como certa a condenação de Bolsonaro pelo STF, independentemente da pressão de Trump. Mas há uma leitura entre auxiliares de Lula de que a declaração do americano praticamente pode induzir a Suprema Corte brasileira a ser ainda mais dura. Do ponto de vista jurídico, portanto, a ajuda de Trump pode ser um tiro no pé do ex-presidente.
