Setores de pescados e madeira temem colapso com seguimento da tensão comercial Macroeconomia, CNN Brasil Money, Donald Trump, Empresariado, Estados Unidos, Governo Lula, Tarifas CNN Brasil
Paulo Roberto Pupo, superintendente da Abimci (Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente), disse à CNN que tinha saído da reunião interministerial com o governo com “a sensação de recado passado”.
Da última terça-feira (15) para cá vê, contudo, pouco andamento nas discussões comerciais com os Estados Unidos e “uma deterioração nas relações diplomáticas”.
Após o presidente norte-americano Donald Trump anunciar uma alíquota de importação de 50% para todos os importados brasileiros, a equipe de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi reunida num colegiado interministerial que tem buscado interlocução com o setor privado para encontrar caminhos para vencer o tarifaço.
Pupo vê uma iniciativa “perfeita” por parte da equipe capitaneada pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB). Porém, acredita que houve pouca evolução desde as conversas e alerta que “a cada dia que passa esse cronômetro fica ainda mais vermelho” para alguns setores.
“Falei ‘ministro, vamos pensar na pior hipótese possível, chegar dia 1º sem acordo, como fazemos com o que esta em água?’ Uma pergunta que fica sem resposta. O governo absorveu, a expectativa era de que fosse atrás, mas não aconteceu, e a sensação é de que piorou com declarações políticas.”
Os esforços do Executivo por um acordo têm enfrentado dois entraves principais: a dificuldade em encontrar um interlocutor oficial na Casa Branca e a tensão política entre o republicano e o petista.
O empresariado defende que as discussões sejam pautadas em questões técnicas e comerciais, buscando evitar o máximo possível a rusga ideológica entre Lula e Trump.
“Não tem nada haver com a briga política, a gente não tem alternativa, a gente precisa de um resgate do governo até que alguma negociação aconteça”, disse à CNN Eduardo Lobo, presidente da Abipesca (Associação Brasileira das Indústrias de Pescados), acrescentando que irá enviar uma carta ao presidente da República pedindo uma linha de crédito de até R$ 900 milhões para poder manter a saúde operacional do setor.
Lobo ressalta que os exportadores foram “muito bem recebidos” pelo vice-presidente Alckmin, mas indica que o pleito principal do setor produtivo ao governo não foi atendido, que era pedir imediatamente a postergação da entrada em vigor da tarifa, prevista para o dia 1º de agosto.
Pupo explica que a prorrogação é necessária para dar fôlego diplomático aos negociadores e logístico para os exportadores poderem descobrir como vão se adequar ao tarifaço.
Segundo o superintendente da Abimci, a transição da produção do setor para outros mercados é “praticamente impossível”, devido ao tempo necessário para readequar as normas e certificações de um produto que ia para os EUA.
O presidente da Abipesca pondera que “da reunião para cá, [o cenário] escalou, está tensionado. Nós empresários estamos assistindo de mãos atadas, sem qualquer tipo de possibilidade de contribuir ou de intervir no que está acontecendo”.
“O governo até sugeriu que o setor privado faça pressão aos importadores para que estes façam pressão no governo americano, mas isso para o setor de pescados não funciona. O importador americano de pescados não vai ligar para o presidente baixar tarifas, vai comprar mais barato do concorrente”, alerta.
O presidente da Abipesca lamenta que, depois de tomado o espaço dos peixes brasileiros na mesa de jantar norte-americana, dificilmente o produtor nacional vai conseguir voltar a ocupar esse “espaço conquistado com anos de investimento em qualidade, competitividade e fornecimento contínuo”.
70% dos pescados exportados pelo setor vão aos EUA. Hoje, o peixe brasileiro é embargado de entrar no mercado europeu desde 2017. Lobo vê uma perspectiva de melhora no cenário com o acordo de livre comércio Mercosul-UE (União Europeia), contudo, diz que é necessária uma ação urgente para garantir a sobrevivência do setor.
Paulo Roberto Pupo reforça que “os próximos dias serão cruciais, ou alguma coisa acontece, senão congela inteiro o setor, não tem como rodar”.
Os madeireiros do Brasil dependem fortemente das exportações aos Estados Unidos, com algumas de suas empresas dedicando 100% de suas produções aos norte-americanos. O setor começou a forçar férias coletivas e projeta a necessidade de demissões para poder se manter sem as vendas aos EUA.
No momento, o superintendete da Abimci vê o empresariado como “refém da negociação, passageiros nesse carro”. Para fortalecê-la, defende que sejam trabalhados argumentos técnicos, como a complementaridade entre as pautas produtivas brasileira e norte-americana.
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