Banco Central passa a adotar avaliação contínua e governo abandona modelo adotado desde 1999
Este conteúdo foi originalmente publicado em Mudança no cálculo da meta de inflação amplia incerteza, indica especialista no site CNN Brasil. Macroeconomia, Banco Central, Gabriel Galípolo, Inflação, IPCA, Lifetime Investimentos, Marcela Kawauti, Meta de inflação, Roberto Campos Neto, William Waack CNN Brasil
O cálculo que define se o Banco Central (BC) cumpriu ou não a meta de inflação mudou no dia 1º de janeiro. A partir deste ano, a autoridade monetária perseguirá uma meta contínua e não mais a variação anual do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) observada no dia 31 de dezembro de cada ano.
Com a alteração, o BC só descumprirá a meta se o acumulado de 12 meses ficar fora do intervalo proposto ao longo de seis meses consecutivos.
O novo cálculo dá mais flexibilidade e permite à autarquia se adaptar a choques conjunturais na inflação. Mas também contribui para o cenário de incerteza que se acumulou no fim do ano passado, causado pela falta de confiança do mercado na política fiscal do governo Lula e que causou a disparada do dólar e a fuga de capital estrangeiro.
O risco é de que a mudança atrase a resposta do BC à uma possível escalada na inflação. Um modelo calculado pela Lifetime Investimentos mostra, por exemplo, que a autoridade monetária teria cumprido a meta em dezembro de 2024 caso o modelo atual já estivesse valendo — uma vez que a inflação acumulada só estouraria a meta nos últimos três meses.
A expectativa é de que a divulgação do IPCA de dezembro — marcada para a próxima sexta-feira (10) — confirme que o Banco Central estourou o teto da meta para 2024, que era de uma inflação acumulada de 4,5%.
Se a tendência se confirmar, o Banco Central será obrigado a enviar ao Congresso Nacional uma carta dando explicações sobre por que não conseguiu atingir a meta.
“A ideia do novo modelo é que se há algum barulho em um único mês — como uma safra ruim ou um pico de dólar — você não vai descumprir a meta. É mais flexível. E isso é bom por um lado. Mas como estamos numa fase em que o BC precisa ser muito conservador, se ele der alguma indicação de que essa maior flexibilidade pode fazer com que ele seja mais leniente, a incerteza vai subir”, afirma Marcela Kawauti, economista-chefe da Lifetime Investimentos.
A economista ainda indica que o Banco Central e seu novo presidente, Gabriel Galípolo, podem mitigar o cenário de incerteza ao garantir que a instituição restrinja suas previsões e análises a comunicados oficiais, usando o Relatório de Inflação para apontar os próximos passos da autoridade monetária.
“Dar indicações em reuniões fechadas ou para a imprensa é muito ruim — como fez [Roberto] Campos Neto [ex-presidente do BC] lá trás. É muito importante que o BC se atenha aos documentos oficiais.”
Novo modelo aproxima Brasil do padrão internacional
O sistema contínuo de apuração das metas partiu de uma decisão do Palácio do Planalto, em 2023. E contou com o apoio do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do então presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
Esse modelo já é adotado em economias desenvolvidas, como Estados Unidos, Zona do Euro e Canadá, e também em países emergentes, como Chile, Peru e México.
Além da apuração dos resultados, a mudança ainda altera a maneira como é definida a própria meta da variação dos preços. Antes, o Conselho Monetário Nacional (CMI) — composto por dois ministros do governo e pelo presidente do BC — era responsável por definir a meta que seria perseguida pelo BC no ano seguinte, assim como o intervalo aceitável dentro dela.
Agora, qualquer mudança exige uma antecedência mínima de 3 anos.
“Ter um regime mais flexível é um sinal de maturidade. Isso é importante. O problema é o timing, que acabou sendo bastante ruim. Ninguém esperava que a gente ia terminar 2024 dessa forma. O Banco Central tem como manter a calma fazendo uma boa comunicação. Essa é a chave”, finaliza Kawauti.
Este conteúdo foi originalmente publicado em Mudança no cálculo da meta de inflação amplia incerteza, indica especialista no site CNN Brasil.