Nem Lula nem Tarcísio parecem enxergar, neste momento, qualquer grande vantagem em acenar para o centro do espectro político Política, anistia, Jair Bolsonaro, Luiz Inácio Lula da Silva (Lula), Tarcísio de Freitas, Waack, William Waack, ww CNN Brasil
A pacificação política no Brasil, hoje, soa como uma conversa para boi dormir. No atual cenário, essa pacificação não é considerada uma boa estratégia em termos de ganhos políticos eleitorais. Pelo contrário, os principais nomes cotados para a disputa presidencial de 2026 preferem, neste momento, fortalecer e galvanizar suas bases mais fiéis. O presidente Lula (PT), por exemplo, parece estar confortável com o clima de confronto com os Estados Unidos. É justamente no discurso duro, tanto voltado para o público interno quanto para o externo, que ele enxerga sua melhor alternativa política.
Por outro lado, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) — apontado como o nome mais forte da oposição para substituir o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nas urnas — embarcou em um cálculo eleitoral semelhante. Na prática, acabou se colocando como uma espécie de refém da família Bolsonaro. Chegou até mesmo a assumir o risco de uma crise institucional com o STF (Supremo Tribunal Federal), avaliando que tal postura poderia facilitar seu endosso político por parte da família do ex-presidente.
Nem Lula nem Tarcísio parecem enxergar, neste momento, qualquer grande vantagem em acenar para o centro do espectro político — justamente o segmento do qual ambos dependerão para vencer as próximas eleições. A dificuldade de se alcançar uma pacificação tem, na discussão sobre a anistia, um exemplo bastante claro. Seja aprovada ou rejeitada, a questão da anistia é vista por cada lado do embate político como algo de caráter existencial. Encontra-se hoje no centro de um complexo jogo de poder e de medição de forças.
O problema é que não há anistia possível quando ela representa a vitória de um lado e a derrota do outro — independentemente do mérito específico da questão. Para que uma anistia funcione de fato, seria necessária a existência daquilo que os espanhóis chamam de concertación: no fundo, algum grau mínimo de convergência entre forças políticas antagônicas. No entanto, não há sinais concretos de que isso esteja ocorrendo — tampouco de que existam lideranças capazes e interessadas em promover esse tipo de entendimento.

