A Ineos pertence a um grande grupo homônimo (com 36 empresas, 194 centros de produção em 29 países e 26.000 funcionários) cuja principal atividade é a fabricação de produtos petroquímicos e petrolíferos. Para um público mais amplo, o nome provavelmente soará familiar porque está impresso nos carros e nos macacões dos pilotos da Mercedes–AMG, na Fórmula 1 (a Ineos é dona de um terço da equipe). O Grenadier é um jipe projetado à imagem e semelhança do antigo Defender.
Por carecer de experiência e conhecimento no desenvolvimento de veículos, a Ineos recorreu a parceiros para criar seu veículo. Assim, a austríaca Magna Steyr entrou com a engenharia; o forte chassis de longarinas é construído pela espanhola Gestamp; a suspensão é fornecida pela italiana Carraro; os painéis da carroceria são da austríaca Voestalpine; os motores (de seis cilindros diesel e gasolina) são da alemã BMW; e, na transmissão, o câmbio vem da alemã ZF e a caixa de transferências da mexicana Tremec.

A produção começou no final de 2022, na antiga planta da Smart, em Hambach, na França, comprada da Mercedes, dois anos antes. Mas somente agora o carro pode ser encontrado em diferentes partes do mundo, com a criação de uma rede de distribuidores em diversos países. No Brasil, pelo que se sabe, já existe pelo menos uma unidade do Grenadier rodando, trazida via importação independente.
O Grenadier está à venda nas versões SUV e picape, com diferentes configurações, que poderíamos chamar de passeio e comerciais, com chassi longo, com dimensões semelhantes às do Defender 110. O preço da versão SUV (chamada Station Wagon) de cinco lugares, na Inglaterra, parte de 71.385 libras (R$ 551.850).

Nosso test-drive foi numa das etapas da exigente expedição das Terras Altas, da Escócia, até Londres, na Inglaterra. O Grenadier SW de cinco portas mede 4,9 metros de comprimento, tem largura de 1,93 m e altura de 2,03 m (um Defender clássico tem a mesma altura, mas é mais curto e, acima de tudo, mais estreito).
A porta traseira é bipartida, com abertura lateral, com um dos lados menor para permitir o acesso ao porta-malas em locais com pouco espaço atrás do carro, existindo também uma escada e o estepe fixado na parte maior.

O interior não é muito espaçoso (considerando as dimensões exteriores) e os materiais de acabamento são bastante básicos, embora a qualidade de construção e a sensação de montagem e acabamento inspirem confiança. A área central do painel é repleta de botões grandes e volumosos, agrupados de acordo com a função, o que torna mais fácil a sua localização e utilização quando o Grenadier está em movimento ou mesmo se o motorista estiver de luvas.

Alguns comandos estão montados no teto, como nos aviões, geralmente relacionados com a condução fora de estrada mais exigente (como luzes auxiliares, cabo de reboque e outros acessórios).
O piso pode ser revestido com tecido ou borracha, neste caso para que possa ser lavado com uma mangueira (há ralos para drenar a água). E o ambiente é bem iluminado, de dia, graças às extensas superfícies de vidro, havendo dois painéis sobre os assentos dianteiros que podem ser removidos. Os bancos Recaro são bastante largos e confortáveis, transmitindo uma qualidade percebida positiva.

A posição de dirigir é correta e o condutor obtém todas as informações de que necessita (menos a da velocidade, que não existe…) por meio da instrumentação estreita e da tela tátil maior, de 12,3”, na parte superior do console central, com conexão sem fio com Apple CarPlay e Android Auto.
Carro imparável
O Ineos assenta numa sólida estrutura de longarinas e apresenta eixos rígidos, tração nas quatro rodas com caixa de transferência, redução e bloqueio de diferenciais e ampla articulação de eixos, característica confirmada pela geometria de suspensão com 35,5o de ataque, 36,1o de saída, 28,2o ventral, bem como uma altura do solo de 25,8 cm e uma capacidade de imersão de 80 cm.


O chassi é feito de aço (até 3,5 mm de espessura), os eixos rígidos estão ancorados ao chassi por quatro braços longitudinais e usam molas helicoidais progressivas Eibach, barras estabilizadoras e uma barra Panhard.
A maior parte destes recursos foi colocada à prova durante nossa expedição de mais de 2.000 km, com direito a cruzar profundos cursos de água, descer ou subir caminhos com fortes inclinações, passar sobre pisos muito enlameados ou cheios de rochas. O sistema 4×4 permanente tem bloqueio do diferencial central de série (operado por uma alavanca no console central).


Ainda é possível dotar o Grenadier (de série nesta versão Trialmaster e opcional nas restantes) com bloqueio eletrônico de diferencial dianteiro e traseiro (gestão feita através de interruptores no painel do teto) os eixos rígidos foram escolhidos pela sua resistência, contando com cinco braços e molas helicoidais para maximizar a articulação das rodas (9o à frente, 12o atrás). Dito de forma resumida, o Grenadier mostra-se imparável mesmo sem os bloqueios de diferenciais ativados (mas, quando instalados, torna-se possível guiar tanto em “baixas” como em “altas” com o diferencial bloqueado ou não).

A alavanca usada para bloquear o diferencial central tem quatro posições (altas, baixas com ou sem bloqueio) e exige força para ser movida, combinando com a sua aparência também muito raiz, mas contrastando com a do seletor da caixa de velocidades, que é o mesmo comando eletrônico usado pela BMW.
A redução deve ser engrenada com o Grenadier parado e a sua desmultiplicação é de 2,5 para 1 (o Defender tem 2,9:1 e um Wrangler 2,7:1). O diâmetro de giro do volante é grande (13,5 m), mas exatamente o mesmo espaço necessário para dar uma volta completa num antigo Defender de cinco portas.

O motor BMW de 3.0 litros e seis cilindros em linha (com 56,1 kgfm de torque e 249 cv de potência) torna o trabalho do câmbio quase desnecessário na maioria das situações.
Em asfalto, não espere um empurrão forte contra o banco pisando fundo no acelerador, pois o Grenadier pesa mais de 2,8 toneladas (além de ter uma aerodinâmica tão apurada como a de um caminhão cara chata). Esta versão diesel, apenas desenvolvida para a Europa, pode rebocar até 3.500 kg, a que se podem acrescentar mais 800 kg de carga útil e os 150 kg que podem ser carregados no bagageiro de teto.

O consumo médio anunciado de 10 km/l (na vida real é difícil ficar acima dos 7 km/l, principalmente em 4×4) é algo que assusta nos dias de hoje (e quando o posto de abastecimento mais próximo está a quilômetros de distância). O diretor de vendas e marketing da Ineos na Europa, Klaus Hartmann, afirma que não haverá nenhuma versão com baterias porque iriam ser precisos mais 800 quilos de acumuladores, o que faria o Grenadier chegar a um peso mais do que excessivo. Mas Klaus anuncia que os motores elétricos deverão ser oferecidos, no futuro, porque a Ineos está desenvolvendo uma versão a hidrogênio (fuel-cell) juntamente com a Hyundai.
Em busca da perfeição
Um comentário positivo é merecido pelo surpreendente refinamento do rolamento, bem como pelos baixos níveis de ruído interno. O Grenadier, com molas de regulação suave, digere facilmente os solavancos, a carroceria inclina-se menos do que seria de esperar e os pneus mantêm a aderência mesmo em superfícies muito irregulares.
Comparado com um Defender da velha escola, a integridade da engenharia mecânica parece décadas à frente (na verdade é…) e a carroceria mostrou sempre muita relutância em deixar escapar um queixume ocasional que seria aceito em situações de amplos cruzamentos de eixos com duas ou mais rodas no ar.

A direção foi o aspecto dinâmico que menos convenceu, o que resulta de uma condicionante técnica: é que o eixo rígido dianteiro requer um sistema de direção com esferas recirculantes e não o conjunto pinhão e cremalheira que é comum nos automóveis leves e isso faz com que o volante se sinta sempre muito pesado e lento nas respostas, com uma nítida diferença entre os movimentos do volante e a reação das rodas. Mas o COO, Hans-Peter Pessler, admite que este é um aspeto que pode ser melhorado: “Estamos em contato com o nosso fornecedor nesta área porque sabemos que há margem de progresso”. Com as tecnologias que existem disponíveis na indústria, isso não será problema.
Veredicto – O Grenadier satisfaz o desejo dos que queriam um Defender apenas atualizado tecnologicamente.
Ficha técnica – Ineos Grenadier
Preço: 71.385 libras esterlinas (R$ 551.850)
Motor: diesel, diant., longitudinal, 2.998 cm³, 249 cv, entre 3.250 e 4.200 rpm, 56,1 kgfm entre 1.250 e 3.000 rpm
Câmbio: automático, 8 marchas, 4×4
Direção: hidráulica, esferas recirculantes
Suspensão: eixos rígidos, molas helic. progressivas, barras estabilizadoras, braços longitudinais e barra Panhard
Freios: disco ventilado (diant.) sólido (tras.)
Pneus: 265/70 R17
Dimensões: comprimento, 489,6 cm; largura, 193 cm; altura, 203,6 cm; entre-eixos, 292,2 cm; peso, 2.800 kg; porta-malas, n/d; tanque, 90 l
Desempenho*: 0 a 100 km/h, 9,9 s; veloc. máx., 160 km/h
*Dados de fábrica