Russo marcou o futebol argentino com serenidade, liderança e paixão, deixando legado dentro e fora dos campos Futebol Internacional, Boca Juniors, CNN Esportes, Futebol internacional CNN Brasil
Durante anos, o técnico argentino Miguel Ángel Russo parecia falar com a serenidade de quem já havia entendido tudo. À beira do campo, enquanto outros gesticulavam e gritavam, ele mal levantava a voz. Seus times, porém, costumavam fazê-lo por ele.
Russo nasceu em Lanús, província de Buenos Aires, em 9 de abril de 1956, mas seu nome ficou gravado na história de La Plata. O site do Estudiantes o define como “um jogador lendário do Pincha” e um dos poucos que vestiram uma só camisa em toda a carreira. Foi capitão, referência e, mais tarde, treinador. Estreou como profissional em 1975, sob o comando de Carlos Bilardo, e se aposentou em 1988, após 432 partidas oficiais e 12 gols com a camisa alvirrubra.
Volante de marcação firme, Russo fez parte de um meio-campo histórico com Trobbiani, Ponce e Sabella. Conquistou os torneios Metropolitano de 1982 e Nacional de 1983, tornando-se um dos símbolos da chamada “escola bilardista”.
Se como jogador foi homem de um só clube, como técnico foi um verdadeiro andarilho. Dirigiu Lanús, Estudiantes, Vélez, Rosario Central, Boca Juniors, Racing, San Lorenzo e também clubes no Chile, México, Colômbia, Peru, Paraguai e Arábia Saudita. Em todos, deixou marcas de firmeza e serenidade.
No Boca Juniors, viveu três ciclos. No primeiro, conquistou a Copa Libertadores de 2007 e levou o time à final do Mundial de Clubes, contra o Milan. Voltou entre 2020 e 2021 para vencer a Superliga e a Copa da Liga Profissional, e em 2025 retornou para disputar o Mundial de Clubes novamente. Na estreia contra o Benfica, aos 69 anos, tornou-se o técnico mais velho a comandar o Boca em toda a história.
Desde 2017, Russo lutava contra um câncer de bexiga e de próstata. “Fiz quimioterapia e dois dias depois fui campeão”, contou certa vez. A doença não o afastou da paixão pelo campo, nem da serenidade que o definia.
Ex-jogadores o descrevem como um líder simples e humano. “Miguel te diz duas ou três coisas, as importantes e as que acontecem em campo”, contou Matías Cahais. Para Jesús Dátolo, campeão da Libertadores de 2007, “Miguel foi um pai e um companheiro. Em Boca isso não é fácil”.
Miguel Ángel Russo fez da calma uma forma de liderança. Em um futebol movido pelo grito, escolheu o silêncio. Em uma profissão que devora os impacientes, decidiu durar. Dentro e fora de campo, mostrou que o jogo — como a vida — se joga até o fim.
Libertadores 2025: veja classificados e confrontos da semifinal