Após queda em 2024, índice sobe mais de 24% neste ano, impulsionado por fluxo estrangeiro, dólar fraco e corte de juros nos EUA Investimentos, Bolsa, CNN Brasil Money, Ibovespa CNN Brasil
Após encerrar 2024 em queda de mais de 10%, com o Ibovespa na casa dos 120 mil pontos e um clima de pessimismo marcado pelo risco fiscal e juros elevados, a B3 tem surpreendido em 2025 com uma forte recuperação.
Apesar da volatilidade global — impulsionada por eventos como o anúncio de tarifas comerciais nos EUA em abril — o Ibovespa engatou uma alta consistente, renovando máximas históricas.
Analistas ouvidos pelo CNN Money apontam uma série de fatores domésticos e internacionais para o bom humor, como a entrada robusta de capital estrangeiro e o enfraquecimento do dólar. Também dão força resultados corporativos sólidos, distribuição de dividendos e expectativas de corte na taxa de juros americana.
O Ibovespa iniciou o ano aos 120 mil pontos e caminha para encerrar próximo dos 150 mil, acumulando valorização de 24,5%. No mesmo período de 2024, o índice recuava 3,33%, pressionado pelo cenário fiscal doméstico.
“O enfraquecimento do dólar, a rotação global de recursos para países como o Brasil e a percepção de estabilidade política reforçada pelo encontro entre Lula e Donald Trump colocaram o país novamente no radar dos investidores internacionais”, disse Leonardo Terroso, analista de investimentos da AMW, asset da Warren.
Setores cíclicos lideram a alta
Entre as maiores altas do Ibovespa até outubro, três papéis se destacaram: Cogna (COGN3) subiu 243%, C&A Modas (CEAB3) avançou 115% e Cury (CURY3) valorizou 112%, segundo dados da Elos Ayta.
Todas atuam em setores cíclicos, sensíveis ao cenário econômico e foram impulsionadas pelo fim do ciclo de alta da Selic.
Além do ambiente macroeconômico mais favorável, cada companhia teve fatores específicos que impulsionaram suas ações, segundo Bruna Sene, analista da Rico:
- Cogna (COGN3): A ação disparou após a empresa passar por reestruturação financeira e estratégica, incluindo a proposta de fechar o capital da controlada Vasta nos EUA. A expectativa de queda na Selic favoreceu o setor educacional.
- Cury (CURY3): A construtora se beneficiou da perspectiva de queda nos juros e da maior demanda por habitação. Entregou resultados consistentes e manteve margens saudáveis.
- Direcional (DIRR3): Valorizou 107% com forte lucratividade, margens brutas elevadas e dividend yield robusto, tornando-se uma escolha atrativa no setor imobiliário.
Os maiores contribuidores para a alta do Ibovespa até outubro foram os índices imobiliários, de utilidade pública e financeiro.
“À medida que os investidores antecipam a virada no ciclo de juros, setores mais cíclicos, como varejo e construção civil, voltaram a ganhar protagonismo”, disse Sene.
Destaques negativos do Ibovespa
Por outro lado, o setor de materiais básicos teve a menor performance relativa. Mesmo com a recuperação do índice, algumas ações não acompanharam o ritmo:
- Raízen (RAIZ4): Enfrentou margens pressionadas na distribuição de combustíveis e resultados abaixo do esperado. O cenário de juros elevados pesou sobre o endividamento e aumentou a percepção de que a empresa está queimando caixa.
- Braskem (BRKM5): Sofreu com reprecificação global de commodities, alta volatilidade e desafios operacionais e ambientais, além de incertezas regulatórias em Alagoas.
- Brava (BRAV3): Após fusão com a Enauta e mudança de nome (antes 3R Petroleum), enfrentou queda na demanda e dificuldades operacionais. A ausência de resultados consistentes aumentou a cautela dos investidores.
Brasil surfa onda dos emergentes
O Ibovespa acompanhou o bom desempenho dos mercados emergentes entre janeiro e outubro de 2025, impulsionados por um dólar mais fraco e maior apetite global por risco. O índice subiu 38% em dólares, enquanto o Mexbol (México) avançou 42%.
O ETF EEM, que reúne ações de emergentes, teve alta de 36%.
“Não é só o Brasil performando bem, mas os mercados emergentes como um todo. A alta reflete o enfraquecimento do dólar e os cortes de juros nos EUA, cenário que beneficiou países como o Brasil”, disse Marcos Praça, diretor de análise da Zero Markets Brasil.
O índice DXY, que mede a força do dólar frente a uma cesta de moedas, caiu 8% até outubro. Frente ao real, a moeda americana desvalorizou 15%, e frente ao peso mexicano, 11%.
Segundo Cândido Piovesan, trader da Nippur Finance, 2025 é caracterizado como um ano de consolidação e confiança para o mercado brasileiro.
“O Ibovespa atingiu sucessivos recordes históricos, sustentado por fatores macroeconômicos positivos, dólar fraco e fluxo estrangeiro, enquanto segmentos mais sensíveis ao crédito ainda enfrentam um caminho de ajuste mais lento.”
Mais da metade dos brasileiros vive no limite do salário, diz pesquisa

