Nenhum dos dois concede publicamente que suas próprias políticas possam ter influência nas taxas de juros
Este conteúdo foi originalmente publicado em Waack: Trump e Lula não gostam de Banco Central no site CNN Brasil. Macroeconomia, Banco Central, Donald Trump, Luiz Inácio Lula da Silva (Lula), Lula, Trump, Waack, William Waack CNN Brasil
Durante seu atual mandato, o presidente Lula (PT) passou boa parte do tempo criticando o presidente do Banco Central, chamando-o, no mínimo, de “sabotador”. Agora, Donald Trump parece ter chegado à mesma conclusão em relação ao presidente do Federal Reserve, o Banco Central americano. Nas palavras de Trump, o chefe do FED é alguém que “age contra a população do país” — uma acusação muito similar às que Lula fazia a Roberto Campos Neto quando este conduzia a política monetária no Brasil.
O motivo das críticas é idêntico: o impacto político dos juros altos. Aqui, “impacto político” deve ser entendido como a popularidade do governante. Tanto Lula quanto Trump acreditam que os juros elevados são resultado de má vontade — ou até mesmo más intenções — de pessoas desvinculadas do dia a dia da população e que, além disso, nunca foram eleitas para seus cargos.
Nenhum dos dois concede publicamente que suas próprias políticas possam ter influência nas taxas de juros. No caso de Trump, o FED vinha reduzindo os juros até que o ex-presidente iniciou uma guerra comercial protecionista com o mundo inteiro, em uma intensidade não vista há quase um século. Essa medida criou um ambiente de incerteza, dúvidas e expectativa de mais inflação, colocando o Banco Central diante de um dilema: se baixasse os juros, facilitaria a inflação; se não os reduzisse, poderia agravar a recessão.
Trump chegou a afirmar que, se quisesse, poderia demitir o presidente do FED rapidamente — uma questão que a Suprema Corte dos EUA terá de decidir. Essa é a grande diferença entre ele e Lula: no Brasil, o STF já reconheceu a autonomia do Banco Central, limitando o poder do presidente da República sobre a instituição.
Assim, enquanto Trump ameaça interferir diretamente no FED, Lula, apesar de suas críticas, não tem o mesmo poder para remover o presidente do BC. A divergência entre os dois líderes e seus respectivos bancos centrais reflete um conflito comum em muitas economias: o embate entre a política monetária técnica e os interesses políticos imediatos.
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