Produtores brasileiros ponderam que movimento entre as duas maiores potencias econômicas do globo pode beneficiar preços da commodity Macroeconomia, China, CNN Brasil Money, estilo-cnn-money, EUA, Soja CNN Brasil
O acordo comercial entre Estados Unidos e China, que prevê compras de até 25 milhões de toneladas por ano de soja americana, acendeu um alerta entre produtores brasileiros.
Ao mesmo tempo, especialistas ouvidos pelo CNN Money apontam que o movimento pode trazer oportunidades de valorização da commodity.
As tarifas impostas pelo governo de Donald Trump levaram a China a interromper as compras de soja americana em maio, deixando agricultores com bilhões de dólares em safras não vendidas.
Nesse cenário, entre maio e outubro deste ano, o Brasil exportou cerca de 21,2 milhões de toneladas de soja para o mercado chinês, com destaque para maio, que registrou aumento de 37,5% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo dados da Administração Geral de Alfândegas da China.
Para André Nassar, presidente da Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais), o cenário reflete o impacto da guerra tarifária entre Brasil e EUA, e o consequente posicionamento do Brasil como maior fornecedor da commodity ao gigante asiático.
“Durante o impasse comercial entre China e Estados Unidos, o Brasil ampliou significativamente suas vendas, com crescimento estimado de 16% nas exportações de soja para a China em 2025”, diz, citando dados do Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços).
Apesar da reabilitação de um concorrente direto na venda de grãos aos chineses gerar preocupação, Maurício Buffon, presidente da Aprosoja Brasil, pondera que o acordo entre Trump e Xi pode refletir no aumento dos preços, o que também beneficiaria os produtores brasileiros.
Segundo os especialistas, os preços dos contratos futuros negociados na Bolsa de Chicago estavam em baixa, o que pressionava os valores no Brasil. Após o anúncio do acordo, a cotação futura subiu 1,14%.
Além disso, a janela de negociação da China coincide com o período de colheita nos Estados Unidos, que estão com altos estoques. Já a safra brasileira só começa a ser colhida em fevereiro de 2026.
“Vemos uma força momentânea agora, mas o cenário para o ano que vem parece ser benéfico para o Brasil. O volume acordado não preocupa tanto os produtores. Os 12 milhões de toneladas agora são suficientes para suprir a demanda chinesa até janeiro”, avalia Samuel Isaak, especialista em commodities agrícolas da XP.
Retomada do padrão anterior
O impacto do anúncio também foi mitigado pela retomada do patamar de exportações de soja dos EUA para a China ao o que era visto anteriormente, sem o aumento expressivo de pedidos, apontam os especialistas ouvidos pelo CNN Money.
O “boicote” da China ao produto plantado em solo norte-americano acendeu alertas no país. No início deste mês, a American Farm Bureau Federation, entidade agrícola centenária que representa 6 milhões de agricultores nos EUA, publicou relatório mostrando os impactos da medida.
Segundo eles, o volume embarcado de soja dos EUA ao mercado chinês recuou quase 78% na comparação entre janeiro e agosto deste ano com o mesmo período de 2024 — quando o gigante asiático foi responsável pela compra quase metade das exportações norte-americanas.
O período coincide com a escalada da guerra tarifária entre as duas maiores economias do globo, em um movimento de arrefecimento e recuo dos dois lados. Após uma série de discussões, Pequim estabeleceu as tarifas sobre a soja made in USA próximas de 20%.
“Durante junho, julho e agosto, os EUA praticamente não enviaram soja para a China e a China não comprou nenhuma soja da nova safra para o próximo ano comercial”, cita o documento, assinado pela economista Faith Parum.

