Membros do governo têm indicado que o presidente da República manifestaria uma “solidariedade regional” à Venezuela, que vive momento de tensão militar com a gestão de Donald Trump Política, Colômbia, Donald Trump, Estados Unidos, Gustavo Petro, Luiz Inácio Lula da Silva (Lula), Venezuela, William Waack CNN Brasil
Aliados do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), pregam falas mais amenas do mandatário na cúpula da Celac (Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos) junto à União Europeia para não atrapalhar os avanços na relação com a gestão de Donald Trump.
A previsão é que Lula vá à cúpula que acontece entre domingo (9) e segunda-feira (10) em Santa Marta, na Colômbia, embora a programação presidencial ainda possa ser reavaliada.
Membros da base de Lula no Congresso reconhecem ser difícil segurar o ímpeto do presidente em fazer discursos ideológicos. Porém, nos bastidores, há questionamentos à eventual defesa direta do governo venezuelano de Nicolás Maduro, que vive momentos de tensão militar com os Estados Unidos.
A avaliação é de que críticas mais enfáticas aos Estados Unidos ou defesas mais abertas à Venezuela podem abalar a relação ainda frágil do Brasil com Donald Trump.
Há uma expectativa de que o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, se encontre com o secretário de Estado americano, Marco Rubio, na semana que vem, em reunião do G7 no Canadá, dando continuidade ao esforço de reverter o tarifaço americano. As tratativas têm se atado a questões comerciais.
Até por isso, a expectativa de parte de aliados de Lula é de que na Colômbia ele apenas reforce a necessidade de manter a América Latina como região de paz.
É preciso lembrar ainda que eventual defesa da Venezuela contraria o posicionamento dos governos de Argentina, Uruguai, Chile, Paraguai e Equador, que devem mandar o segundo escalão ao encontro.
Outro ponto lembrado é que uma fala nesse sentido tem o potencial de afastar eleitores de centro, de olho na corrida presidencial em 2026.
O foco da cúpula é tratar de comércio e combate ao crime organizado transnacional, por exemplo. Mas, o governo brasileiro também pretende levar à mesa o momento de atritos entre Venezuela e Estados Unidos. Mauro Vieira disse que Lula manifestaria uma “solidariedade regional” ao país vizinho.
Para Celso Amorim, assessor especial da Presidência, é natural que o tema seja discutido.
“Nós temos que defender a América do Sul. Nós vivemos aqui. O Brasil tem fronteiras com dez países da América do Sul. Então, é diferente. Não estamos discutindo uma coisa distante, que você pode discutir por razões humanitárias, ou políticas, ou geopolíticas. Nós estamos discutindo uma coisa que é na nossa fronteira, praticamente. É natural.”
Nesta semana, o governo de Donald Trump atacou mais duas embarcações por suposto tráfico de drogas em águas internacionais no Caribe. Ao menos 60 pessoas já morreram nos ataques nos últimos meses — criticados pelo escritório de Direitos Humanos das Nações Unidas.
Os Estados Unidos aumentaram significativamente a presença militar na região. Maduro enxerga as ações como tentativas de desestabilizar o regime no país e busca apoio da Rússia. Trump chegou a dizer que os dias de Maduro estão contados.
A situação divide líderes de países que participam da cúpula. O anfitrião — presidente colombiano Gustavo Petro — também está envolto em uma série de troca de acusações com o governo Trump.
Petro foi sancionado pela Casa Branca, acusado de facilitar a atuação de cartéis. Para Petro, “forças externas à paz nas Américas” procuram o fracasso da cúpula.
Chefes de Estado veem a participação na cúpula como um risco à diplomacia com Washington e preferem manter distância. Nem a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, é mais esperada.

