Republicano precisa lidar com crise na base de apoiadores mais fiéis após prometer que iria divulgar documentos e depois desistir Internacional, Casa Branca, Donald Trump, Estados Unidos, Jeffrey Epstein CNN Brasil
Em 2021, JD Vance, atual vice-presidente dos Estados Unidos, acusou o governo de ocultar uma “lista de clientes” de Jeffrey Epstein. Agora, o próprio governo Trump-Vance afirma que a lista não existe.
“Se você é jornalista e não está fazendo perguntas sobre este caso”, disse Vance, “você deveria ter vergonha de si mesmo”.
Hoje, há, sem dúvida, mais perguntas do que nunca – em grande parte, graças à condução do assunto pelo próprio governo que Vance agora atua.
O Departamento de Justiça de Trump informou que concluiu que Epstein de fato cometeu suicídio e que não havia nenhuma “lista de clientes”.
Isso não significa que tenha acontecido uma ampla conspiração envolvida.
Aqui vamos trazer algumas das perguntas importantes para entender o que pode estar atrás de uma mudança de postura da Casa Branca.
1 – Por que de repente os documentos que eram importantes se tornaram tão insignificantes?
A estratégia de Trump para lidar com a reação negativa da base de apoiadores se resume basicamente a: sigam em frente, pessoal.
“Vocês ainda estão falando de Jeffrey Epstein!?”, disse Trump na semana passada.
O presidente acrescentou em uma publicação nas redes sociais no domingo: “Vamos… Não desperdiçar tempo e energia com Jeffrey Epstein, alguém com quem ninguém se importa.”
O diretor do FBI, Kash Patel, repetiu essa frase no fim de semana, postando no X: “As teorias da conspiração simplesmente não são verdadeiras, nunca foram.”
A equipe de Trump está repleta de pessoas, incluindo Patel, que chamaram no passado a saga de Epstein de enorme escândalo iminente, que só precisava de alguns líderes dispostos a desmascará-lo.
Em fevereiro, por exemplo, a procuradora-geral Pam Bondi, fez alarde dizendo que documentos seriam divulgados em breve e sugeriu, durante uma entrevista, que tinha a chamada lista de clientes em sua mesa. Agora, ela diz que estava se referindo a outros documentos.
Questionamentos de aliados de Trump no passado sobre o caso

“Que possível interesse o governo dos EUA teria em manter os clientes de Epstein em segredo? Ah…”, postou Vance sugestivamente em 2021.
“Vistam suas calças de garotão e nos contem quem são os pedófilos”, disse Patel em 2023.
“Escutem, essa história do Jeffrey Epstein é um grande negócio”, disse o agora vice-diretor do FBI, Dan Bongino, no mesmo ano. “Por favor, não deixem essa história passar. Fiquem de olho nisso.”
“Quem está nessas fitas?”, acrescentou Bongino em fevereiro, pouco antes de entrar para o governo. “Quem está nesses registros secretos? Por que eles estão escondendo isso?”
Recapitulando: as pessoas mais diretamente responsáveis por este assunto – e agora insistindo que não há nada ali – também são as mesmas que garantiram que havia muito a descobrir e sugeriram que as coisas estavam sendo acobertadas.
Então a questão é: estão admitindo que estavam simplesmente errados?
Eles parecem não querer dizer isso. Mas, talvez de forma reveladora, Bongino disse à Fox News no mês passado: “Não sou mais pago pelas minhas opiniões. Agora trabalho para o contribuinte. Sou pago por evidências.”
2 – Trump está nos arquivos de Epstein?
Para ser claro, isso não é o mesmo que perguntar se os arquivos mostram alguma irregularidade cometida por Trump.
Mas vale a pena perguntar se ele está lá – especialmente considerando o fracasso de seu governo em cumprir as promessas de divulgar os documentos.
É público que no passado Trump e Epstein eram próximos até se desentenderem.
Trump certa vez chamou Epstein de “cara incrível” e brincou sobre a afinidade de Epstein por mulheres mais jovens.
Elon Musk, como parte de sua dramática desavença com o presidente, afirmou no mês passado que Trump estava de fato nos arquivos.
“Hora de soltar a bomba de verdade: (Donald Trump) está nos arquivos de Epstein”, escreveu Musk no X. “Essa é a verdadeira razão pela qual eles não foram tornados públicos.”
Musk nunca detalhou como teria obtido acesso a arquivos não divulgados, e depois apagou a publicação e expressando arrependimento.
Posição de Trump sobre os documentos
Trump também tem se mostrado menos interessado do que outros ao seu redor em divulgar os documentos. Durante uma entrevista à Fox News no ano passado, ele concordou rapidamente que desclassificaria documentos sobre o 11 de Setembro e o assassinato de John F. Kennedy, mas hesitou antes de dizer que faria o mesmo com os documentos de Epstein.
Ele explicou que “você não quer afetar a vida das pessoas se houver material falso lá”.
Questionado depois pelo apresentador de podcast Lex Fridman sobre o motivo da hesitação, Trump disse repetidamente que não havia ido pessoalmente à ilha de Epstein.
“Eu não estou envolvido”, disse Trump. “Felizmente, nunca fui à ilha dele, mas muita gente foi.”
3- O que aconteceu com os arquivos prometidos?
A grande notícia da semana passada foi que o governo afirmou que Epstein se suicidou e que não havia uma lista de clientes. Mas essa não foi a única razão pela qual os apoiadores fiéis de Trump ficaram decepcionados.
O governo também encerrou o caso e disse que não divulgaria mais nada, apesar de ter prometido muito que tornaria documentos públicos.
A Casa Branca fez questão de divulgar um lote inicial de documentos em fevereiro. Porém, os documentos eram, em grande parte, notícias antigas.
Então, o governo prometeu que mais estava a caminho.
“Conseguiremos tudo”, disse a procuradora-geral à Fox News no início de março. “Teremos tudo em nossa posse. Vamos editá-lo, é claro, para proteger as informações do júri e as testemunhas confidenciais, mas o povo americano tem o direito de saber.”
A secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, acrescentou em maio: “Sei que a procuradora-geral se comprometeu a divulgar esses arquivos… Quando ela fez uma promessa no passado, ela a cumpriu, e tenho certeza de que o fará também neste caso.”
Mas o governo não divulgou nada de realmente significativo desde então.
O memorando do Departamento de Justiça da semana passada afirmou que grande parte dessas informações estava “sujeita a sigilo judicial” e que “apenas uma fração desse material teria sido divulgada publicamente se Epstein tivesse ido a julgamento”. Expressou o desejo de “não expor terceiros adicionais a alegações de irregularidades”.
“Por meio dessa revisão, não encontramos base para revisitar a divulgação desses materiais”, dizia o memorando.
4 – Epstein era um agente de inteligência?

Quando Bondi tentou se explicar na semana passada, esta foi uma pergunta que, por algum motivo, ela deixou em aberto: se Epstein tinha ligações com a inteligência.
“Como ele é um agente, não tenho conhecimento disso”, disse a procuradora-geral aos repórteres, antes de acrescentar: “Podemos entrar em contato com vocês sobre isso”.
Essa teoria não surgiu do nada. Essas perguntas já vêm sendo feitas há muito tempo.
O agora vice-diretor do FBI, Dan Bongino, afirmou em 2023, que ficou sabendo, com segurança, que Epstein era um agente de inteligência de um país do Oriente Médio.
E na segunda-feira, o ex-primeiro-ministro israelense Naftali Bennett achou por bem negar que Epstein fosse um agente israelense.
“A acusação de que Jeffrey Epstein de alguma forma trabalhou para Israel ou para o Mossad, comandando uma rede de chantagem, é categórica e totalmente falsa”, disse Bennett.
O senador republicano Mike Lee, do estado de Utah, insistiu na hipótese de que Epstein poderia ter se beneficiado por ser um agente.
Parece que a secretária-geral deveria ter uma resposta mais precisa para essa pergunta. Mas a falta de respostas satisfatórias parece ser uma tendência atual.

