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Há cinco meses, o presidente Donald Trump chamou a atenção ao afirmar que o presidente russo Vladimir Putin – o homem que invadiu a Ucrânia – queria a paz na Ucrânia.
“Acredito que ele quer a paz”, disse Trump, que também acrescentou: “Quer dizer, eu o conheço muito bem. Sim, acho que ele quer a paz. Acho que me diria se não dissesse… Confio nele nesse assunto.”
Trump tem cantado uma música bem diferente nos últimos dias, especialmente na terça-feira (8).
Após dias expressando descontentamento com o último telefonema com Putin, Trump foi ainda mais longe em uma reunião de gabinete. Ele sugeriu que o homem que apoiou e que passou anos curiosamente evitando criticar poderia não ser um interlocutor confiável.
“Ouvimos muita besteira de Putin, se você quer saber a verdade”, disse Trump. “Ele é muito gentil o tempo todo, mas acaba não fazendo sentido.”
Esta não é a única sugestão de que Trump está evoluindo em sua postura – ou pelo menos em sua retórica – sobre a guerra na Ucrânia.
Esta semana, o presidente americano reverteu uma breve pausa nos envios de armas defensivas para a Ucrânia — embora Trump tenha sugerido que isso foi feito por outros funcionários de seu governo.
Por enquanto, Trump abandonou em grande parte a culpabilização dos dois lados pela guerra, após quase sempre associar qualquer crítica à Rússia a uma crítica à Ucrânia – como se fossem parceiros iguais no prolongamento da guerra de agressão russa.
E na terça-feira (8), sem ser solicitado, Trump elogiou a “coragem” dos combatentes ucranianos, sugerindo que o enorme investimento que os Estados Unidos fizeram na defesa da Ucrânia não foi o desastre que muitos na base do Maga (Movimento Faça a América Grande Novamente) acreditam.
“E eu digo uma coisa, os ucranianos, quer vocês achem injusto que tenhamos dado todo esse dinheiro ou não, eles foram muito corajosos porque alguém tinha que operar essas coisas”, disse Trump. “E muitas pessoas que eu conheço não estariam operando.”

Então, o que está acontecendo aqui?
Longe de qualquer um sugerir que Trump realmente se voltou contra Putin e se colocou firmemente ao lado da Ucrânia. Trump tem sinalizado repetidamente nos últimos 10 anos que está disposto a parecer imprevisível no cenário mundial – seja chamando isso de “teoria do louco” ou qualquer outro nome. E mesmo após suas fortes declarações anteriores a Putin, suas declarações sobre os telefonemas subsequentes – incluindo um telefonema de aniversário do líder russo – não sugeriram que Trump esteja o pressionando diretamente para concordar com um cessar-fogo ou calibrar as represálias pelos ataques ucranianos.
Agora, é bem possível que os últimos comentários públicos de Trump sejam uma tentativa de pressionar Putin, em vez de sinalizar uma mudança firme na política do governo.
Notavelmente, o presidente americano se recusou na terça-feira (8) a se comprometer com um pacote de novas sanções à Rússia, que conta com o apoio de mais de dois terços dos senadores dos dois partidos. Na medida em que Trump realmente tenha se livrado de Putin, essa opção está à vista, e ele ainda não vai por aí.
Trump poderia facilmente tentar essa estratégia e adotar uma abordagem mais branda.
Mas criticar Putin duramente também é uma carta que Trump tem se mostrado extremamente relutante em usar.
A única outra vez em que ele chegou a esse ponto foi logo após a Rússia invadir a Ucrânia em 2022. Trump brevemente chamou a invasão russa de “apavorante”.
Mas isso pareceu ser, acima de tudo, uma correção de curso politicamente orientada. Trump, que estava iniciando outra campanha presidencial, havia sido duramente criticado por elogiar a “genialidade” e a “esperteza” de Putin na invasão da Ucrânia – em um momento em que praticamente todo o mundo ocidental a condenava.
Esses comentários foram chocantes, mesmo em comparação com os anos de intimidade de Trump com Putin. Então, o republicano repreendeu brevemente a invasão e seguiu em frente, retomando seu tratamento despreocupado com o líder russo.
A questão diante de nós é se a mudança de Trump hoje será tão passageira quanto foi. Talvez. Mas há sinais de que pode não ser.
Por um lado, parece que o presidente americano pode estar chegando à conclusão de que seus objetivos na Ucrânia são irreconciliáveis com os de Putin.
Para Trump, o importante é sempre obter uma “vitória” – neste caso, o acordo de paz que ele prometeu e não conseguiu obter no primeiro dia de sua presidência. Ele não pareceu se importar muito com a aparência real desse acordo de paz e sugeriu enormes concessões da Ucrânia. Mas Putin quase não deu nenhuma indicação de que esteja realmente interessado em fechar um acordo que envolva qualquer coisa além de obter toda a Ucrânia.
E os comentários de Trump na terça-feira (8) não foram apenas duros com Putin; eles pareciam refletir uma frustração mais profunda com o fato de seu colega russo estar o enganando. Em abril, Trump também sugeriu que Putin poderia estar “apenas me enganando”. Talvez Trump acreditasse genuinamente em sua habilidade para negociar e sinta que Putin o fez de bobo.

A porta-voz do Departamento de Estado, Tammy Bruce, foi solicitada na terça-feira a conciliar os comentários de Trump sobre Putin em fevereiro com suas últimas declarações, e sugeriu que Trump estava de fato respondendo a novas contribuições.
“Ele é um homem de mente aberta, mas não é ingênuo”, disse Bruce. “Ele tem princípios e é claro sobre o que quer alcançar. É isso que estamos vendo.”
Você certamente poderia entender Trump chegando a essa conclusão – ainda que tardiamente – após os eventos da semana passada. Logo após sua ligação com Putin, a Rússia lançou seu maior ataque de drones contra a Ucrânia.
E ninguém deve subestimar o papel do orgulho e da política interna em tudo isso. Trump deu a Putin mais benefício da dúvida do que praticamente qualquer outro líder ocidental, como evidenciado por seus comentários de fevereiro. Assim como fez em outras áreas estrangeiras, ele se recusou firmemente a fazer julgamentos morais sobre um líder autoritário cujas táticas e consolidação de poder ele genuinamente parece admirar.
Mas escolher um lado na guerra na Ucrânia não é apenas uma questão de moral, é também uma questão de “Realpolitik”. Talvez esse último cálculo, muito mais importante para Trump, esteja mudando.
Só o tempo dirá.

