O caso ocorre depois que o Carnaval, um meio local de streaming, divulgou várias gravações privadas de funcionários do governo, entre elas, uma suposta conversa da irmã do presidente dentro da casa de governo Internacional, Argentina, Corrupção, Javier Milei, Karina Milei CNN Brasil
O governo da Argentina denunciou à Justiça Federal uma suposta “operação ilegal de inteligência com o objetivo de desestabilizar o país em plena campanha eleitoral”.
O anúncio foi feito nesta terça-feira (2) pelo porta-voz presidencial, Manuel Adorni, através de suas redes sociais, após o surgimento de novos áudios que envolvem a irmã do presidente, que também é secretária-geral da presidência, Karina Milei.
“Foram gravadas conversas privadas de Karina Milei e outros funcionários, que foram manipuladas e divulgadas para pressionar o Poder Executivo”, disse Adorni em uma publicação no X.
A CNN entrou em contato com a Casa Rosada para pedir mais informações.
A denúncia ocorre depois que o Carnaval, um meio local de streaming, divulgou várias gravações privadas de funcionários do governo, entre elas, uma suposta conversa da irmã do presidente dentro da casa de governo.
O presidente da Argentina, Javier Milei, enfrenta um dos momentos mais críticos de seu governo com sua principal aliada pessoal e política, em meio a uma denúncia criminal que envolve o suposto recebimento de propinas de pelo menos US$800 mil por mês, em um ano de eleições legislativas nacionais e locais.
Karina Milei foi acusada criminalmente de ser beneficiária direta de um esquema de possível corrupção, com retorno de recursos através da Andis (Agência Nacional de Deficiência).
O governo não responde às acusações de suposta corrupção. Apenas argumenta que se trata de uma operação política
As denúncias contra a irmã do presidente e um de seus colaboradores mais próximos, Eduardo “Lule” Menem, chegaram à justiça após um relatório jornalístico do mesmo veículo divulgar áudios nos quais se ouve uma suposta conversa privada de um funcionário explicando um esquema de cobrança e pagamento de propinas relacionadas à compra e fornecimento de medicamentos, gerando um sobrepreço de 8%, do qual 3%, segundo a denúncia, era enviado à Secretaria-Geral da Presidência.
A CNN não pôde verificar os áudios de forma independente, mas seu conteúdo consta no processo judicial ao qual a CNN teve acesso.
Na rede social, o porta-voz presidencial faz referência não apenas a esses áudios, mas também a uma nova gravação divulgada pelo mesmo veículo, cuja autenticidade a CNN também não conseguiu confirmar de forma independente, na qual supostamente se escuta uma conversa privada, desta vez na voz de Karina Milei, falando com colaboradores.
Embora os áudios não contenham informações particularmente delicadas, deles se conclui algo alarmante: a gravação de reuniões do círculo mais poderoso do Executivo dentro da casa de governo.
“Se os áudios forem verdadeiros, estamos diante de um escândalo sem precedentes”, escreveu Adorni nas redes, “seria a primeira vez na história argentina que se grava um funcionário dentro da Casa Rosada”.
“Censura prévia” alerta para intimidação à liberdade de expressão
Após a denúncia do governo, um juiz federal determinou uma medida cautelar para suspender “a divulgação dos áudios gravados na casa de governo da nação atribuídos a Karina Milei”, conforme comunicado por Adorni em suas redes sociais.
Diante dessa decisão, o Fopea (Fórum de Jornalismo Argentino) rejeitou a medida e alertou que se trata de “um caso de censura prévia”.
Por sua vez, a ministra da Segurança, Patricia Bullrich, entrou com uma medida cautelar na justiça para solicitar o cumprimento de mandados de busca nas residências dos jornalistas Mauro Federico e Jorge Rial, que divulgaram os informes jornalísticos, e na emissora Carnaval, onde os áudios foram difundidos. Na denúncia, ela relacionou o vazamento a “serviços de inteligência russos”.
Tanto Rial quanto Federico responderam publicamente que agiram profissionalmente e que se trata de uma manobra para silenciá-los.
“Qualquer mandado de busca ou medida dessas características pode se tornar um ato intimidatório contra a liberdade de expressão, conforme estabelecem diversos parâmetros internacionais”, declarou o Fopea em seu comunicado.
O presidente Javier Milei se manifestou sobre o vazamento dos áudios e disse, sem apresentar provas, que há “espiões que se disfarçam de jornalistas”. “A cada passo fica mais claro a rede de espionagem ilegal da qual um grupo de jornalistas faz parte”, escreveu no X.
Escândalo e agressões contra os Milei próximo às eleições
Em pouco menos de dois meses, no dia 26 de outubro, serão realizadas as eleições legislativas em âmbito nacional.
Antes disso, no próximo domingo (7), os eleitores de Buenos Aires irão às urnas em um distrito chave. Historicamente, a província de Buenos Aires é reduto tradicional do peronismo kirchnerista e concentra uma grande parcela do eleitorado do país — cerca de 37% do total. Atualmente, é governada por Axel Kicillof, o principal líder kirchnerista no poder.
Em meio ao escândalo das supostas propinas na Andis, na semana passada, durante uma caravana de campanha na província de Buenos Aires, manifestantes atiraram pedras contra o veículo em que Javier Milei fazia um ato de campanha.
O governo sofreu uma derrota em nível local na província de Corrientes, onde foram eleitas autoridades governamentais, e seu candidato obteve menos de 10% dos votos, ficando em quarto lugar.

