Avi Melamed é um renomado especialista em geopolítica do Oriente Médio, analista de inteligência, autor, comentarista, educador, palestrante e fundador da Inside the Middle East Intelligence Perspectives (ITME).
Com uma carreira que inclui atuação como analista de inteligência israelense e fluência em árabe, Melamed já ocupou cargos de destaque em órgãos governamentais, de inteligência e contraterrorismo. Ele é amplamente reconhecido por suas análises perspicazes sobre os conflitos, dinâmicas políticas e religiosas da região. Em 2021, em parceria com a designer gráfica Maia Hoffman, Melamed lançou o livro Inside the Middle East: Entering a New Era.
Nesta obra, os autores se aventuraram a fazer previsões sobre o futuro da região, permitindo-nos agora, quatro anos depois, avaliar a precisão dessas previsões. O que eles dizem sobre o papel do Irã no Oriente Médio?
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Desde que a República Islâmica do Irã chegou ao poder, em 1979, tem seguido uma política externa multifacetada com o objetivo de exportar a Revolução Islâmica e assegurar sua posição como potência dominante na região. O Irã expandiu significativamente sua influência no Oriente Médio, especialmente no Golfo Árabe/Persa.
A influência do Irã é evidente em seu envolvimento em locais como Iraque, Síria, Líbano e Gaza. No entanto, enfrenta desafios significativos devido ao surgimento de nacionalismos nesses países e às alianças regionais contrárias, como a coalizão informal que inclui Egito, Israel, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos.
Os três pilares da estratégia do Irã são seu programa nuclear, programa de mísseis balísticos e sua rede de proxies e aliados. Esses elementos trabalham em conjunto para proteger os interesses do Irã e dissuadir ataques. A interdependência desses pilares cria uma espécie de “seguro mútuo” que fortalece a posição do Irã na região.
A Síria era crucial para a estratégia do Irã, servindo como pedra angular do crescente xiita. No entanto, o Irã enfrentou desafios ali, incluindo tensões com a Rússia e mudanças nas alianças do ditador Bashar al-Assad, que caiu em 2024. A perda de controle sobre a Síria poderia desestabilizar o corredor terrestre do Irã e enfraquecer sua influência no Líbano.
Embora Teerã tenha a capacidade de desenvolver armas nucleares, o livro sugere que pode se abster de fazê-lo devido a potenciais repercussões internacionais e ao interesse da China na estabilidade regional. A busca por armas nucleares poderia expor o Irã a sanções severas e até mesmo a ações militares.
A dissidência interna no Irã representa um desafio significativo para o regime. Questões econômicas, ambientais e sociais alimentam o ressentimento público, e há uma crença crescente de que o futuro do Irã pode não se alinhar com a visão do regime atual. A insatisfação está se infiltrando nas bases de poder do regime, incluindo o clero emergente, a classe média e os militares.
A influência de Teerã varia na região. Enquanto é dominante no Golfo, outras potências regionais estão ativamente trabalhando para conter sua influência. A capacidade do Irã de estabelecer um corredor terrestre totalmente controlado que ligue o país ao Mediterrâneo permanece incerta, enfrentando resistência tanto interna quanto externa.
O livro destaca a complexa interação das dinâmicas regionais, as ambições estratégicas do Irã e os diversos desafios que enfrenta. A capacidade de o regime dos aiatolás de manter e expandir sua influência dependerá de sua habilidade em navegar esses desafios e adaptar suas estratégias às realidades em constante mudança do Oriente Médio.
Essas perspectivas levantadas pelos autores há quatro anos estão amplamente realizadas. O que eles não previram, além da queda de Assad na Síria, é que um de seus proxies, o Hamas, atacaria Israel, paradoxalmente em uma área onde a população é base dos partidos de oposição a Netanyahu, além de uma festa de jovens, matando mais de 1.200 pessoas e levando mais de duas centenas como reféns. Nunca o povo judeu foi tão atacado e ferido desde o Holocausto.
Como era de se esperar, Israel reagiu, dando início, em outubro de 2023, às guerras de Israel contra o Irã.
A guerra contra o Hamas foi travada em áreas urbanas, enfrentando inimigos que se infiltraram entre a população palestina, resultando em milhares de mortes de civis e uma destruição brutal e desumana.
Para desviar a atenção de Israel, os proxies iranianos abriram novas frentes de batalha. Lutando em três delas, Israel destruiu a capacidade operacional do Hamas, mesmo sem conseguir recuperar os reféns, e diminuiu de modo expressivo a capacidade de ação do Hezbollah, além de responder aos ataques dos Houthis no Iêmen.
O primeiro ataque direto do Irã contra Israel ocorreu em 9 de maio de 2018, quando forças iranianas baseadas na Síria dispararam foguetes contra algumas posições militares israelenses nas Colinas de Golã. Não houve feridos no lado israelense, e os danos foram considerados limitados. Israel respondeu imediatamente com ataques a alvos iranianos na Síria.
Em outubro de 2024, o Irã lançou um ataque com mísseis contra Israel em resposta à morte de um alto oficial militar iraniano que operava no Líbano junto com as forças do Hezbollah. Israel contra-atacou dentro de uma estratégia de longo prazo para reduzir a força do programa de mísseis iraniano. Essa estratégia foi executada neste mês de junho.
Restava o terceiro pilar, a capacidade nuclear. Para reduzir esta ameaça, seria necessária a entrada na guerra da capacidade militar dos Estados Unidos. Isso ocorreu na noite do último sábado, 21 de junho.
Este cenário complexo e volátil no Oriente Médio continua a evoluir, e as ações de todos os atores envolvidos terão implicações significativas para a estabilidade regional e global. A capacidade do Irã de manter sua influência e alcançar seus objetivos hegemônicos será testada continuamente, enquanto as potências regionais e globais buscam equilibrar seus interesses e garantir a segurança na região.