Para o setor produtivo, o que é importa é que se retome o diálogo Brasil-EUA e volte à mesa de negociações. Não importa de quem foi a ideia. Do ponto de vista diplomático, e da narrativa política, contudo, faz toda a diferença. E, segundo quatro fontes que acompanham o presidente Lula em Nova York ouvidas pelo JOTA, partiu do americano o gesto de aproximação. “Trump quis estar ali”, afirmou uma delas.
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O encontro se deu em uma sala reservada, próxima ao plenário de onde o brasileiro saía para dar a vez ao Republicano, o segundo a falar durante a 80ª Assembleia Geral da ONU. Trump fez o movimento em direção a Lula para cumprimentá-lo e falou da conversa entre os dois, para a surpresa dos presentes. Segundo fontes do governo brasileiro, os detalhes do encontro, que deve ser virtual, “por dificuldades de agenda”, serão acertados pelos assessores de ambos os lados ao longo dos próximos dias.
O encontro dos presidentes durou 39 segundos, pela contabilidade de Trump. Era o tempo que ele poderia ter de atraso para entrar no salão sem precisar cruzar com o homólogo brasileiro a quem criticaria minutos depois do púlpito. Fontes garantem que o americano assistiu ao discurso de Lula, que estava na plateia para ouvir o dele.
O aparente distensionamento é visto com bons olhos. Mas os preparativos para este encontro, ainda que virtual ou telefônico, devem se cercar de garantias para que este seja um novo ponto de partida para a retomada das negociações e não um ponto final. A avaliação é a de que reuniões presenciais ofereceriam ainda mais risco de situações de constrangimento semelhantes às vividas por Volodymyr Zelensky, da Ucrânia, ou de Cyril Ramaphosa, da África do Sul. Mas um telefone não estaria isento de riscos, na avaliação de fontes diplomáticas. Aliás, lembra um interlocutor: “Quando Trump disse que o Lula poderia ligar a qualquer momento, não teve a ligação. Espero que agora tenha continuidade”.
Nesta quarta-feira (24/9), Lula falará na segunda edição do evento “Em defesa da democracia contra o extremismo”, co-patrocinado por Brasil, Chile, Colômbia, Espanha e Uruguai. Seu discurso tem o potencial de destacar os irritantes da relação, entre eles a regulação das plataformas e da internet, considerado um dos pilares da defesa da democracia pelo grupo e tema que deve voltar com força à pauta bilateral Brasil-EUA.
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Em seu discurso na AGNU, Lula disse que a internet não pode ser terra sem lei e que “regular não é restringir”. Ele afirmou que atacar a regulação é dar garantias de investidas contra a democracia e mencionou a Lei Felca. Lula ainda defendeu a governança multilateral da IA e voltou a falar no Pacto Digital Global, aprovado pela ONU.
A imprevisibilidade de Trump 2.0 continua a ser a sua marca registrada. Nesta mesma terça-feira 23/9) em NY, ele não só quebrou o protocolo e improvisou um afago em Lula, como numa guinada de 180 graus, depois de todos os gestos de amizade e proximidade para com o russo Vladimir Putin desde que tomou posse em janeiro, afirmou que a Ucrânia pode vencer a guerra contra a Rússia, com a ajuda da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), recuperar seus territórios e até mais um pouco.
A terça-feira, na avaliação do governo brasileiro, foi um bom dia. Mas nada como um dia atrás do outro. Aliás, para os frequentadores assíduos da Assembleia Geral da ONU, não passou desapercebido o silêncio da plateia enquanto ouvia o discurso de Trump. Seis anos antes, suas bravatas e ironias ainda provocavam risos.

