Entre 2 e 4 de outubro, agência estará em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos; Jorge Viana vê oportunidade de “inserção de mais de 450 produtos nesse comércio” Macroeconomia, apexBrasil, CNN Brasil Money, estilo-cnn-money, exportações brasileiras, Jorge Viana, Oriente Médio, tarifaço de Trump CNN Brasil
O Brasil está lidando com a pressão do tarifaço imposto pelos Estados Unidos de uma forma melhor do que o previsto, avalia Jorge Viana, presidente da ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), em entrevista à CNN.
Deflagrada em agosto, a sobretaxação em 50% para uma série de produtos brasileiros vendidos ao mercado norte-americano resultou em demissões e aumento das incertezas aos segmentos que não foram incluídos na lista de exceções.
Mesmo assim, Viana destaca a diversificação de mercado proposta pelo governo federal como forma de contornar a problemática.
“Identificamos 195 produtos brasileiros potencialmente impactados pelas tarifas e a partir disso trabalhamos para inserir esses produtos em novos mercados, diversificando destinos e diminuindo a dependência das empresas brasileiras de um único parceiro comercial”, explica.
A busca de novos parceiros, porém, vem de antes do anúncio de Trump, em julho. Desde 2023, a agência vem realizando uma série de encontros com os Secoms (Setores de Promoção Comercial e Investimentos), Sectecs (Setores de Ciência, Tecnologia e Inovação) e adidos agrícolas de diversos países.
Após nove missões, a ApexBrasil viaja a Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, entre os dias 2 e 4 de outubro, encerrando o ciclo global de articulação diplomática e comercial para inserção internacional do Brasil, percorrendo todos os continentes do mundo.
Num balanço do projeto, o presidente da Apex, Jorge Viana, destaca que, entre 2023 e 2025, foram abertos mais de 400 mercados para produtos do agronegócio.
A seguir, os principais destaques da entrevista
A iniciativa é anterior a esse momento conturbado para o comércio exterior, mas como esse tipo de ação pode ajudar a mitigar os problemas correntes?
Acredito que estamos nos saindo melhor do que o imaginado dessa situação porque a diversificação de mercados é um fator central da política do governo Lula.
O primeiro encontro com os Secom, Sectecs e adidos aconteceu em junho de 2023, desde então foram nove encontros, nos encaminhando para a finalização com o décimo na próxima semana.
Se contar as várias outras ações como fóruns presidenciais, missões comerciais, feiras e outras iniciativas lideradas pela ApexBrasil e em parceria com o governo federal, estamos sempre buscando inaugurar relações, aprofundar outras, sempre com o objetivo de levar os produtos brasileiros para o mundo.
Agora não é diferente. A Apex mapeou, estado por estado, os setores mais dependentes das exportações para os Estados Unidos.
Identificamos 195 produtos brasileiros potencialmente impactados pelas tarifas e a partir disso trabalhamos para inserir esses produtos em novos mercados, diversificando destinos e diminuindo a dependência das empresas brasileiras de um único parceiro comercial.
Qual a expectativa da Apex com a missão ao Oriente Médio? Qual a relevância e potencial desse mercado para o agro brasileiro?
O Encontro de Secoms, Sectecs e adidos agrícolas é uma oportunidade estratégica para dialogar com os agentes que atuam para ampliar a presença do Brasil nesse mercado dinâmico que é a região do Oriente Médio, Cáucaso, Ásia Central, parte do Sul da Ásia e Turquia.
São países altamente relevantes tanto para o agronegócio e para a indústria de transformação. Em 2024, as exportações brasileiras para os Emirados Árabes Unidos, por exemplo, somaram US$ 4,5 bilhões, o que posicionou o país como o 14º destino das vendas externas do Brasil.
Estamos falando de um mercado tradicionalmente atrativo para o agro. Produtos como açúcares e melaços, carnes de aves e carne bovina lideram a pauta exportadora, mas há espaço para a diversificação das nossas vendas com a inserção de mais de 450 produtos nesse comércio. Produtos como motores diesel, coque de petróleo calcinado, laminados de aço, ônibus e móveis de madeira tem muitas oportunidades.
A relação bilateral também se fortalece no campo dos investimentos: os Emirados Árabes Unidos aportaram US$ 2 bilhões no Brasil em 2023, com empresas como Acelen, Porto Sudeste, Rota das Bandeiras e Embraport entre as maiores do país.
O que motivou o início desse ciclo de viagens?
Essa é uma iniciativa inédita que surgiu da necessidade de aproximar ainda mais a política de promoção comercial e de inovação da realidade dos diferentes mercados internacionais e dos setores produtivos brasileiros.
Hoje, o Brasil conta com uma ampla rede de representação no exterior, são 128 setores de promoção comercial em embaixadas, consulados e missões multilaterais; 60 setores de ciência, tecnologia e inovação; e 40 adidâncias agrícolas, número que deve chegar a 50 até o fim do ano.
Foi um giro ao redor do mundo para perceber os desafios e oportunidades específicas que cada região traz. Nosso primeiro encontro foi em Joanesburgo, África do Sul e percebemos as dificuldades de infraestrutura e de pessoal e entendemos a importância das missões comerciais e da participação em feiras setoriais como forma de aumentar nossa presença no continente africano.
Já na Europa, onde o Brasil mantém relações comerciais mais consolidadas, o foco está em inteligência de mercado e nosso grande debate se concentrou no acordo Mercosul-União Europeia.
Foram momentos de muita troca diretamente com diplomatas, adidos e técnicos que atuam diariamente na ponta, mas também de ouvir as empresas brasileiras sobre os obstáculos e oportunidades que encontram no exterior.
Esse diálogo é essencial para alinhar estratégias, ampliar mercados e fortalecer a presença do Brasil no comércio internacional.
Que frutos já tem sido colhidos? O agro brasileiro tem sido melhor visto no exterior?
Entre 2023 e 2025, foram abertos mais de 400 mercados para produtos do agro. Essas conquistas são fruto de uma atuação articulada entre ApexBrasil, Ministério da Agricultura e Pecuária, Ministério das Relações Exteriores, Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços e o setor privado; atores que se reuniram nesses encontros e puderam alinhar suas expectativas e trabalhar juntos para ampliar as oportunidades de mercado, consolidando o agro nacional como referência mundial.
Um dos principais frutos é a memória gerada a partir dos encontros. Compilamos desafios e oportunidades identificados pelos setores de promoção comercial, ciência e tecnologia e adidâncias agrícolas.
Esse mapeamento nos permite direcionar ações de forma mais estratégica, beneficiando setores como o agronegócio.
E o quão simbólica é essa próxima missão, encerrando a passagem por todos os continentes?
Esse evento marca o encerramento de um ciclo inédito, como eu já disse, de encontros que percorreram todos os continentes.
Será a décima reunião dessa natureza realizada em parceria entre a ApexBrasil, o Itamaraty e o Ministério da Agricultura e Pecuária e será muito especial, pois articularemos representantes de 22 países.
É um marco relevante por duas razões principais. Em primeiro lugar, porque consolida um trabalho de articulação global que envolveu adidos agrícolas, setores de promoção comercial, ciência, tecnologia e inovação, além das equipes da ApexBrasil, em uma série de reuniões estratégicas.
Em segundo lugar, porque o encontro em Dubai encerra esse ciclo com foco em uma região de importância crescente para o agro e para a economia brasileira como um todo.
Trata-se de um feito que resultou em diagnósticos, estratégias e prioridades definidas ao longo de reuniões enriquecedoras. O objetivo é, a partir de cada encontro, traçar um plano de ação claro para os próximos anos, sempre com foco na promoção dos produtos brasileiros no exterior e na atração de investimentos para o país.
Esse não é apenas o encerramento de uma série de encontros, mas um símbolo do compromisso do Brasil com uma estratégia global integrada, fortalecendo nossa presença internacional em todos os continentes.
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