Plano quadrienal do Exército tem apenas 16% de execução em 18 meses; implantação do Sisfron fica para 2039 Política, Governo brasileiro, Governo Lula CNN Brasil
A escalada do conflito no Oriente Médio ocorre em um momento de baixa velocidade dos projetos estratégicos de defesa no Brasil, que têm sofrido com cortes e imprevisibilidade orçamentária, enquanto as maiores potências militares reforçam seus investimentos no setor.
Depois de 18 meses, por exemplo, o Plano Estratégico do Exército (PEEx) para o período 2024-2027 executou apenas 16,4% do orçamento previsto.
Números obtidos pela CNN mostram que foram investidos R$ 1,54 bilhão dos R$ 9,42 bilhões planejados. Se esse ritmo for mantido, a execução completa do plano quadrienal levará seis anos.
Na tentativa de garantir mais investimentos para as Forças Armadas, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) resolveu incluir um eixo de defesa no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Quatro projetos da força terrestre foram contemplados: a modernização das viaturas blindadas, a ampliação da frota de helicópteros, a implantação do Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (Sisfron) e o desenvolvimento do Astros (mísseis táticos de cruzeiro).
Nem isso, entretanto, tem conseguido viabilizar plenamente os recursos previstos. O orçamento aprovado para este ano era de R$ 1,630 bilhão, mas R$ 361 milhões foram contingenciados ou bloqueados pela equipe econômica.
A defasagem crônica de investimentos já provocou seguidas readequações de cronograma para os projetos estratégicos.
O Sisfron, que busca aumentar a capacidade de vigilância sobre quase 17 mil quilômetros de fronteiras, é um dos casos mais emblemáticos.
O projeto original era de conclusão em 2021, mas menos de 30% foram efetivamente executados e o prazo já migrou para 2039, diante da escassez de recursos.
A última adequação do calendário havia arrastado a implantação do Sisfron para 2035, mas esse ajuste também ficou inexequível. Até o fim deste ano, pouco menos de R$ 3 bilhões dos R$ 15 bilhões necessários terão sido investidos, segundo dados do Exército acessados pela CNN.
O desenvolvimento dos mísseis táticos de cruzeiro, em fase bastante avançada, esbarra ainda na recuperação judicial da fabricante Avibras — que já teve diversas negociações frustradas para a transferência do controle.
Somente 11 países do mundo detêm essa capacidade atualmente. O Astros permitiria à artilharia do Exército atingir um alvo a 300 quilômetros de distância com erro de, no máximo, nove metros.
Na Marinha, o Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub) — em execução desde 2008 — entrou em nova fase neste ano.
Como mostrou a CNN em março, o orçamento do programa se estabilizou em torno de R$ 2 bilhões por ano.
Oficiais da Marinha já levaram ao Ministério da Defesa uma projeção de que, caso o orçamento fique nesse patamar, a conclusão do programa deve ficar para o fim da próxima década.
Para manter o atual cronograma do Prosub, com a entrega do submarino a propulsão nuclear entre 2034 e 2035, seria necessário aumentar esse aporte em pelo menos R$ 1 bilhão por ano.
Em meados da década passada, o orçamento do Prosub chegou a ter R$ 4 bilhões anuais.
A força naval desativará 43 embarcações — cerca de 40% de sua frota — até 2028, quando elas chegam ao fim de sua vida útil. Por enquanto, faltam garantias de reposição.
Os militares têm pressionado o Congresso a dar andamento à PEC 55/2023, proposta de emenda constitucional que fixa em 2% do PIB o gasto mínimo com as Forças Armadas.
O ministro da Defesa, José Múcio, já colocou o piso de 1,5% da receita corrente líquida como alternativa. Mesmo assim, o texto está parado.
Enquanto isso, o mundo investe cada vez mais. Em 2024, os gastos militares globais aumentaram 7,4% e alcançaram um recorde histórico de US$ 2,46 trilhões, segundo o Military Balance, estudo anual feito pelo respeitado Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS).
De acordo com os autores, a explosão das despesas reflete a instabilidade geopolítica e diplomática em várias partes do mundo, incluindo os conflitos no Oriente Médio e a guerra da Ucrânia.