Tecnologia detecta anomalias imperceptíveis, calcula riscos estruturais e gera relatórios técnicos para orientar ações de manutenção e prevenir colapsos Macroeconomia, CNN Brasil Money, Inteligência Artificial, Pontes, tecnologia CNN Brasil
No Brasil, mais de 5 mil pontes em uso têm mais de meio século de existência e desabamentos dessas estruturas até resultaram em mortes. Diante desse cenário, o país tem recorrido à inteligência artificial (IA) como aliada na prevenção de tragédias e na manutenção de pontes em diversas regiões.
Alguns estados brasileiros têm adotado a chamada manutenção preditiva, que utiliza algoritmos de machine learning — ramo da inteligência artificial que permite aos computadores aprender com dados — e análise de imagens para antecipar falhas em pontes antes que se tornem riscos reais.
O sistema permite detectar, por exemplo, pequenas anomalias invisíveis a olho nu, calcular o risco estrutural e organizar intervenções com base em prioridades técnicas.
Essa iniciativa tem sido liderada no país pela empresa italiana Franchetti S.p.A. que atualmente tem atuado em 2.500 pontes brasileiras, incluindo grandes estrutura como a Ponte Rio-Niterói e a Ponte Anita Garibaldi, em Santa Catarina.
Segundo a empresa, essa tecnologia já foi empregada em mais de 40 mil pontes pelo mundo, com mais de 10 mil estruturas reabilitadas.
Em fevereiro deste ano, sete associações de engenharia divulgaram um manifesto alertando para a necessidade de ações coordenadas de prevenção e manutenção de pontes em todo o país.
O comunicado foi publicado dois meses após o desabamento de uma ponte na BR-226, entre Aguiarnópolis (TO) e Estreito (MA), que deixou ao menos 14 mortos.
Paolo Franchetti, CEO da Franchetti S.p.A., defende que os estados elaborem planos de intervenção antes que ocorram tragédias como a da BR-226. “É preciso evitar agir apenas em situações emergenciais e estabelecer previamente planos de manutenção de longo prazo”, afirmou.
O CEO explicou que quando a tecnologia utilizada pela empresa identifica falhas estruturais é emitido relatórios técnicos com base nas normas brasileiras, classificando os problemas por nível de gravidade.
A decisão sobre as medidas corretivas — como reforços, inspeções adicionais ou monitoramento constante — cabe aos gestores da ponte, geralmente entes públicos ou concessionárias.
A empresa atua no Brasil desde 2013 com o objetivo de identificar anomalias estruturais em pontes. Os contratos são firmados tanto com o setor público quanto com empresas privadas, por meio de processos seletivos, licitações ou parcerias com universidades e agências reguladoras.
De acordo com Franchetti, o Brasil se tornou um dos mercados estratégicos da companhia, tanto pelo número de pontes quanto pela escala dos projetos de infraestrutura.
Novas tecnologias
Em 2023, a empresa anunciou um passo além na integração entre engenharia e tecnologia: a criação de uma nova companhia em sociedade com o grupo austríaco Palfinger AG.
O objetivo é acelerar o desenvolvimento de soluções digitais baseadas em IA para diagnosticar pontes, túneis e barragens. O investimento foi de 1,874 milhão de euros.
Uma das ferramentas centrais desse avanço é o Strucinspect, um software inteligente de inspeção que utiliza algoritmos treinados com mais de 20 anos de dados.
A plataforma é capaz de identificar falhas estruturais a partir de imagens fotográficas, gerar modelos tridimensionais das estruturas e monitorar a evolução de danos ao longo do tempo.
O sistema já foi aplicado em projetos como o metrô de Los Angeles (EUA) e a represa Clunie, na Escócia.
Em relação ao custo para contratar a tecnologia da empresa, Paolo Franchetti explicou que variam conforme o tipo de técnica utilizada — desde inspeções visuais de rotina até monitoramentos especiais com sensores e drones — e a frequência das análises.
“Em média, o valor investido em manutenção preventiva representa apenas uma fração mínima do custo necessário para reconstruir uma ponte após um colapso”, afirmou o CEO.
A expectativa da Franchetti é que, com mais investimentos e planejamento público, o uso de IA e diagnóstico preventivo se torne a regra, e não a exceção, nas estruturas que sustentam as estradas brasileiras.