Cientista político Marco Aurélio Nogueira, da Unesp, analisa situação institucional do país e aponta para uma “disputa insana de poder” entre os Três Poderes Política, -transcricao-de-videos-, crise IOF, Decreto IOF, derrubada IOF, Governo Federal, nós contra eles, politica, STF (Supremo Tribunal Federal), William Waack CNN Brasil
O Brasil enfrenta uma crise política de proporções inéditas, marcada por tensões entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário após impasse acerca do decreto que aumentou as alíquotas do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). Esta é a avaliação do cientista político Marco Aurélio Nogueira, professor titular de Teoria Política da Unesp (Universidade Estadual Paulista).
“Nós temos uma crise grave e, de certo modo, uma crise inédita, que põe em xeque a relação entre os poderes e põe em xeque também o Executivo, de modo mais particular”, disse Nogueira em entrevista à CNN nesta segunda-feira (7), durante participação no jornal WW.
Em meio a esse cenário turbulento, o STF (Supremo Tribunal Federal) tenta mediar um conflito entre o Congresso Nacional e o Palácio do Planalto, após o ministro Alexandre de Moraes determinar a suspensão dos atos do governo federal e do Congresso sobre o IOF e convocar uma audiência de conciliação entre os Poderes para debater o tema. “Uma conciliação que me parece cada vez mais distante”, ressalta Nogueira.
O professor da Unesp destaca que a falta de diálogo e a intransigência das partes envolvidas ameaçam não apenas a estabilidade institucional, mas também a capacidade do país de enfrentar seus desafios mais urgentes. Para ele, a solução para esta crise, portanto, passa necessariamente por um esforço conjunto de todos os setores da sociedade e da política brasileira para reestabelecer pontes e buscar um caminho de entendimento mútuo.
O cientista político ainda destaca um fenômeno que ele avalia como preocupante: “o empoderamento artificial do STF”. Nogueira explica que este fortalecimento do Judiciário decorre da “inatividade ou do atropelo do Congresso e do poder Executivo”. No entanto, ele adverte que o Supremo não deve ser visto como o poder que governa, nem como o responsável por construir consensos.
Paralisia democrática e falta de diálogo
Nogueira também aponta para uma aparente incapacidade das partes em conflito de avançarem em direção a um consenso estratégico que priorize os interesses maiores do país.
“A gente está assistindo, na verdade, a uma disputa insana de poder, no qual ninguém abre mão das suas posições e ninguém qualifica as suas posições”, afirma o cientista político.
Além disso, Nogueira chama a atenção para o que considera uma “paralisia dos democratas”, sejam eles de esquerda ou de centro. Segundo ele, esses atores políticos se acomodam em suas posições e falham em esclarecer à sociedade suas visões sobre a relação entre os poderes e a situação geral do país.