Cogumelos encontrados no ambiente extremo podem ser marcadores de efeitos das mudanças climáticas Tecnologia, Antártica, Ciência, Cogumelo, Fungos CNN Brasil
Um grupo de cientistas brasileiros identificou quatro novas espécies de cogumelos crescendo na Antártica, um dos ambientes mais inóspitos à vida de nosso planeta.
Os fungos, todos pertencentes ao gênero Omphalina, foram encontrados na Ilha Livingston, em meio ao Oceano Antártico. A descoberta foi publicada no periódico científico Mycological Progress, em um artigo assinado por sete brasileiros.
“O surgimento dessas espécies num ambiente tão inóspito demonstra como a vida consegue se adaptar e sobreviver até nas piores condições do planeta Terra”, falou Fernando Bertazzo-Silva, doutor em ciências biológicas, pesquisador da Unipampa (Universidade Federal do Pampa) e um dos autores do estudo.
Conhecido por ser um ambiente extremo – com alta radiação UV, alta salinidade, disponibilidade limitada de água e nutrientes e temperaturas baixíssimas –, apenas 1% do solo da Antártica não é coberto de gelo. Foram nesses locais, onde crescem campos de musgos, que os pesquisadores encontraram os cogumelos, batizados de Omphalina deschampsiana, Omphalina ichayoi, Omphalina frigida e Omphalina schaeferi.
A ameaça das mudanças climáticas
Fernando explicou que o objetivo do projeto não era, inicialmente, descobrir novas espécies, mas sim catalogar e estudar a biodiversidade de plantas e fungos na Antártica – “mas quando tu trabalha com fungos, que é um grupo que poucas pessoas trabalham, tu já vai sabendo que possivelmente vai encontrar espécie nova”, acrescentou ele.
Essa diversidade e abundância de cogumelos no continente gelado é algo recente, segundo o cientista.
“É algo bastante incomum para a área. A gente acredita que pode ser influência das mudanças climáticas, porque além de aquecer a Antártica, esse aquecimento acaba derretendo o gelo. Se derrete o gelo, ele acaba tornando o solo úmido e propício para fungos”, explicou Fernando.
Para ele, esse fator só ressalta a importância de mapear e identificar a biodiversidade do local o quanto antes, para que seja possível acompanhar as mudanças no ambiente e nos seres vivos da Antártica causadas pelo aquecimento global ao longo dos próximos anos.
A importância do trabalho científico
Segundo Fernando, muita gente costuma se questionar qual a importância de descobertas desse tipo, ou de promover o trabalho de cientistas brasileiros em local tão distante quanto o Polo Sul. Mas os avanços começam sempre com o trabalho científico.
“A Antártica influencia consideravelmente o clima, as correntes marítimas e toda a biologia do Hemisfério Sul”, falou. “Além de conhecer o ecossistema e a diversidade da Antártica, descrever essas espécies faz a gente conseguir analisar como ele pode influenciar o resto do mundo nos próximos anos.”
A descoberta de novas espécies também é o primeiro passo para descobrir compostos que podem ser usados na indústria farmacêutica ou outras áreas de aplicação prática. “Toda pesquisa que envolve a aplicação biotecnológica e a bioprospecção inicia com a descrição das espécies”, disse Fernando.
Aspergillus flavus: conheça os fungos que inspiraram “The Last of Us”

