Durante viagem à Indonésia, Lula anunciou que será candidato à reeleição em 2026, escancarando o que vinha sendo dito nas entrelinhas, tanto pelo atual presidente quanto por seus aliados, desde o início de 2023. Nesta altura do campeonato, a declaração não poderia surpreender nem mesmo o mais ingênuo dos eleitores, mas, enquanto posicionamento público, possui o potencial de acelerar o clima pela disputa ao Palácio do Planalto em 2026.
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O momento é o melhor para o presidente desde os primeiros meses de seu mandato. A condenação de sua antítese, Jair Bolsonaro, o desempenho vexatório de Eduardo Bolsonaro junto à Casa Branca – que agora parece dar com os burros n’água – e a ainda incerta aproximação com Donald Trump vêm aumentando a popularidade de Lula, que, no início do ano, estava em seu pior patamar. A situação do governo parecia difícil, quando o jogo começou a mudar.
Por outro lado, no campo da direita, o futuro parece bastante incerto. Os setores mais conservadores se lançaram em um jogo perigoso ao se vincularem à família Bolsonaro. Após quase dez anos em uma relação simbiótica, o preço do pacto parece ser alto demais. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, parece sentir o peso em suas costas a cada declaração pública. Após passar os últimos anos flertando com a candidatura à presidência, o atual governador de São Paulo se viu em meio a uma “sinuca de bico”: para se colocar como principal opção das direitas à presidência, precisou pedir a bênção do eleitorado bolsonarista – aqui me refiro exclusivamente aos eleitores mais fiéis e radicais de Bolsonaro –, o que o obrigou a migrar para o espectro mais extremo da direita, levando-o a declarações tão estapafúrdias quanto as do ex-presidente, afastando, assim, parte do eleitorado de centro.
Embora Tarcísio tenha declarado estar mais interessado na reeleição ao governo de São Paulo – pleito no qual suas chances de vitória são altas –, é possível que a retração em seu posicionamento público se deva mais a uma estratégia de recuo agora que Bolsonaro está em prisão domiciliar e o bolsonarismo está em baixa. Nada indica que Tarcísio mude de ideia e termine disputando a presidência em 2026. Seu nome parece muito mais plausível que os outros candidatos deste espectro político, tais como o governador de Goias, Ronaldo Caiado, do União Brasil; Ratinho Júnior, governador do Paraná pelo Partido Social Democrático; e o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, do Novo.
Em comum, todos os governadores prometem a anistia para Bolsonaro e os envolvidos na tentativa de golpe de Estado em 2022. Pelo mesmo motivo mencionado anteriormente, todos sabem que os votos dos eleitores mais radicais não podem ser dispensados em uma disputa eleitoral que promete ser tão acirrada quanto às anteriores. E é aí que o ponto crucial reside.
As eleições de 2022 foram fundamentais para que o Brasil saísse de uma espiral de polarização e caos que marcaram o país desde 2013. É verdade que não se pode dizer que o país tenha voltado à normalidade, mas, três anos depois, o bolsonarismo, a maior ameaça à democracia que vigora desde 1988, vem se tornando uma caricatura de si mesma, e a futura prisão de seu líder pode finalmente reduzir sua influência política a níveis pouco significativos. Para que esta tendência se confirme, depende tanto das direitas brasileiras quanto das esquerdas e, nesse sentido, talvez o papel das primeiras seja ainda mais relevante.
Me explico: o fanatismo só pode ser combatido com moderação. A campanha de 2022 de Lula atraiu setores do centro político e mesmo das direitas democráticas e liberais que apresentavam tendências progressistas, mostrando-se como a melhor opção contra o radicalismo de Bolsonaro. Uma vez enfraquecido o bolsonarismo, cabe às direitas se livrarem de sua relação de dependência ao movimento, mudando sua roupagem e apresentando propostas que se vinculem aos problemas reais do país ao invés de delírios ideológicos que aspiram a um passado fantasioso.
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Seria uma ingenuidade acreditar que os governadores retirarão de suas pautas a questão da anistia de Bolsonaro e dos envolvidos na trama golpista. Porém, na política, sabe-se que as promessas são antes de tudo um aceno e muitas vezes não passam disso. É provável que Lula dispute em 2026, tal qual declarado. É também muito provável que esta será a última vez. As esquerdas brasileiras não têm opção a não ser se reinventarem. Com o bolsonarismo enfraquecido, as direitas têm uma oportunidade de fazer o mesmo. Basta não cumprirem com a promessa de indultar o ex-presidente e, portanto, demonstrarem compromisso com a democracia e o Estado Democrático de Direito.

			
		