O ex-presidente Jair Bolsonaro já articula a estratégia para 2026 com uma novidade: a inclusão do vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ) na lista de candidatos ao Senado. Com isso, ele teria a possibilidade de emplacar quatro integrantes da família na Casa Alta do Congresso. Além de Carlos, Michelle e Eduardo se juntariam a Flávio, que já é senador. Embora esteja bem acordado com a cúpula do PL, o planejamento esbarra em queixas de aliados e críticas de catarinenses.
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Até o início do ano, a ideia do ex-presidente era lançar o filho 02 à Câmara dos Deputados. Entretanto, o jogo mudou após incentivos de aliados, como o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), que vinha aconselhando Bolsonaro publicamente a investir no Senado, e de pesquisas que indicam possibilidade de vitória de Carlos Bolsonaro. Com a ideia em mente, faltava escolher o estado pelo qual o vereador seria lançado candidato.
Nas conversas o com a cúpula do PL, surgiram ao menos três opções de estado: Mato Grosso, Paraná e Santa Catarina. A partir daí foi feita uma conta complexa na qual cada nome com potencial de vitória foi levado em consideração em um xadrez eleitoral que evitasse o mínimo possível de disputa entre os próprios bolsonaristas. No Paraná, por exemplo, se Carlos saísse candidato, haveria uma disputa com o deputado Filipe Barros (PL-PR).
Nesse cenário, a melhor composição foi formada em Santa Catarina. Lá, a chapa de reeleição do governador Jorginho Mello (PL) seria com Carlos e a deputada Caroline De Toni (PL) como candidatos ao Senado. Mas há um acordo em curso entre o PL e o PP para que Bolsonaro apoie a reeleição de Esperidião Amin. Se mantido, o ex-presidente apoiará Carlos e Amin. E a deputada disputaria reeleição na Câmara.
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Essas cadeiras na Câmara também foram levadas em conta. Apesar de o Senado ser prioridade por ter prerrogativas diferentes da Câmara, como ser a Casa em que tramitam pedidos de impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), a cadeira de deputado vale muito. Isso porque 95% do Fundo Partidário que uma sigla recebe é proporcional à votação obtida na eleição para a Câmara dos Deputados.
Esse fator explica, por exemplo, o fato de nomes relevantes com potencial de entrar na disputa pelo Senado serem avaliados dentro do partido como boas apostas para a Câmara. Um exemplo é o da deputada Julia Zanatta (PL-SC), que tinha possibilidade de concorrer ao Senado, caso Carlos Bolsonaro não fosse a aposta do momento. Outro exemplo é o da deputada federal Bia Kicis (PL-DF), que poderia disputar o Senado se a escolha mais forte para a chapa não fosse a de Michelle Bolsonaro junto ao atual governador do DF e aliado de Bolsonaro, Ibaneis Rocha (MDB).
Além das chapas de Carlos e Michelle, Bolsonaro articula a candidatura do deputado licenciado Eduardo (PL-SP), que está morando nos Estados Unidos. A ideia é que Eduardo volte ao Brasil ainda em tempo de se lançar ao Senado em 2026. Se concretizado o plano do ex-presidente, sua família passará a representar quase 5% do número total de senadores e quase 10% da maioria simples necessária para votação de projetos de lei. A bancada dos Bolsonaros seria mais numerosa que a de qualquer estado: todas as unidades da federação contam com 3 senadores. Em termos de comparação, esses quatro nomes na Câmara representariam menos de 1% (0,78%) dos atuais 513 deputados.
Reações em Santa Catarina
As contas da cúpula do PL buscaram gerar o mínimo de reação, mas ainda assim não foram bem recebidas por aliados que se sentiram preteridos e por setores da sociedade. O maior desgaste foi registrado em Santa Catarina, onde há uma reação pelo fato de Carlos não ter vínculo forte com o estado. Editorial do ND Mais, único jornal impresso de Santa Catarina que circula em todo estado, diz que a estratégia de Bolsonaro é “um desrespeito à inteligência e à maturidade política dos catarinenses”.
O texto, repleto de críticas à gestão do ex-presidente, ressalta que o bolsonarismo criou raízes na cidade “não por submissão cega ao líder, mas por afinidades evidentes. Diz ainda que “Santa Catarina não é — e jamais será — o curral eleitoral de qualquer liderança política”.
Expoentes da direita, como Silvio Grimaldo, também reagiram mal à ideia. “Dois senadores cariocas em Santa Catarina é desgraça demais para um estado que soube cuidar dos seus próprios problemas. SC é o único lugar que tem uma direita organizada e funcional”, escreveu Grimaldo no X. Para que Carlos possa concorrer ao Senado pelo estado, terá que mudar seu domicílio eleitoral até 4 de abril.