Quando o assunto é inteligência artificial, independentemente de estarmos falando de machine learning, visão computacional ou IA generativa, a tentação inicial costuma ser pensar logo em ferramentas: “qual software devo contratar?” ou “qual tecnologia resolve meu problema mais rápido?”. Mas a verdade é que nenhuma iniciativa terá sucesso se não partir de um ponto mais básico: entender como o trabalho ou projeto está organizado.
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O framework de organização do trabalho, que se aplica perfeitamente também para projetos, mostra esse caminho de forma clara. Todo projeto, produto ou serviço é sustentado por funções, e cada função é composta por tarefas. É nesse nível – o das tarefas – que a Inteligência Artificial pode ser implementada de maneira mais sistematizada para quem está na dúvida sobre como começar e dar mais tração para alcançar o objetivo do Jurídico.
Neste artigo, você vai ver como aplicar esse raciocínio em cinco passos simples, que podem servir de guia para iniciar essa transformação.
Fonte: organograma elaborado pelas autoras, com design da IA do ChatGPT
1) ENTENDA ONDE VOCÊ QUER CHEGAR E QUE PROBLEMA PRECISA RESOLVER
Antes de pensar em tecnologia, defina qual é o resultado que você quer alcançar e/ou que problema você está resolvendo. Em outras palavras: verifique se e como esse projeto, produto ou serviço suporta as necessidades do Jurídico e se ele atende ao objetivo final da sua empresa ou escritório.
São exemplos de “onde eu quero chegar” e do que eu “quero fornecer”:
- Contratos revisados e aprovados dentro dos prazos de negócio
- Pareceres consistentes para apoiar decisões estratégicas
- Conformidade regulatória assegurada em diferentes frentes
- Dados em tempo real para subsidiar as decisões do negócio
Essa clareza evita o risco de “tecnologia pela tecnologia” e facilitará com que você realize essa transformação digital onde de fato o jurídico possa gerar valor.
2) MAPEIE AS FUNÇÕES QUE SUSTENTAM ESSE PROJETO, PRODUTO OU SERVIÇO
Cada entrega do jurídico depende de funções específicas (como mostrado no framework), tais como:
- Gestão contratual
- Consultoria interna (societário, regulatório, trabalhista, etc.)
- Compliance e proteção de dados
- Gestão de contencioso
Esse mapeamento organiza o trabalho em blocos maiores, ajuda a enxergar quem são os responsáveis por cada etapa e onde estão as oportunidades de transformação digital.
3) DETALHE AS TAREFAS DENTRO DE CADA FUNÇÃO
É no nível das tarefas (a base do framework) que o uso de tecnologia poderá trazer ganhos mais imediatos e assertivos. Pergunte-se: quais atividades são manuais, repetitivas ou sujeitas a maior quantidade de erros?
- Gestão contratual: triagem de contratos por tipo, preenchimento de dados em sistemas internos, verificação de cláusulas padrão
- Consultoria interna: elaboração de respostas para dúvidas recorrentes de áreas de negócio, padronização de pareceres simples
- Compliance e proteção de dados: análise de pedidos de titulares (LGPD), atualização de registros de tratamento
- Contencioso: fornecimento de subsídios, acompanhamento de andamentos processuais, alimentação de sistemas com prazos e decisões
Essas tarefas, embora possam aparentemente ser pequenas, consomem tempo e energia e podem ser delegadas a soluções tecnológicas sem prejuízo de qualidade.
4) SELECIONE AS TAREFAS PRIORITÁRIAS
Nem tudo deve ou precisa ser automatizado de uma vez. Para decidir por onde começar, descubra qual é o seu pior ofensor, o que pode ser feito utilizando os seguintes critérios:
- Frequência: quanto mais vezes a tarefa se repete, maior o ganho
- Tempo: atividades que tomam muito tempo têm mais potencial
- Risco de erro: tarefas onde o erro humano custa caro são candidatas ideais
- Impacto: priorize as que influenciam diretamente o negócio
Um exemplo simples: em vez de tentar automatizar toda a revisão de contratos, comece pela triagem inicial ou pelo preenchimento de campos em sistemas internos. Só esse movimento já libera tempo valioso da equipe para focar em cláusulas críticas e negociações estratégicas.
5) PROTOTIPE, PILOTE E DEPOIS ESCALE
A recomendação é não tentar transformar tudo de uma vez. Escolha uma ferramenta simples, aplique em uma tarefa pontual, teste com uma amostragem pequena, colete feedback da equipe, faça os ajustes necessários e, só depois, amplie para outros processos.
Para entender se o piloto está funcionando é fundamental metrificar. Defina metas claras (ex.: reduzir em 30% o tempo investido na tarefa ou alcançar 90% de precisão na extração de dados), estabeleça um prazo de teste para medir resultados concretos, organize a coleta de feedback com a equipe que usa a solução e mapeie erros e gargalos e use esse aprendizado para corrigir e melhorar antes de escalar.
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E é claro, antes de contratar uma nova ferramenta ou expandir o uso da tecnologia, verifique quais sistemas você já tem acesso. A escolha da solução tecnológica deve considerar a capacidade de integração da sua realidade para que os dados fluam sem duplicidade e sem criar processos paralelos. Isso garante eficiência e sustentabilidade no longo prazo.
O ciclo “piloto” → “levantamento de dados” → “aprendizados” → “melhorias” → “expansão” reduz riscos e aumenta a chance de sucesso sólido e sustentável.
Vamos? Da organização do trabalho à transformação digital!
A adoção de tecnologia envolve investimento, não apenas financeiro, mas também de tempo e dedicação das pessoas envolvidas. Encarar esse investimento como parte do processo é fundamental para alcançar resultados consistentes.
Inteligência artificial não substitui a função do advogado, mas libera tempo gasto em tarefas para que se concentre no que gera impacto real para o negócio. O framework de organização do trabalho é uma forma prática de começar.
Quando a transformação tecnológica é planejada, o retorno vem em forma de eficiência, redução de riscos e mais foco estratégico. Esse passo inicial é o que abre caminho para resultados concretos e para um jurídico mais ágil e conectado às demandas da empresa ou escritório.