Após um ano do lançamento da obra Jurídico 5.0 e Operações Exponenciais, veio a ideia de atualizar o artigo “Jurídicos enxutos e o relacionamento com a organização”, escrito por mim e minhas colegas da Rock World (Rock in Rio, The Town e Lollapalooza); agora no jurídico da Tomorrowland convidei a Thays para se juntar a mim e repensar alguns pontos do texto original.
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Os jurídicos corporativos vêm sendo cada vez mais demandados a entregar resultados com maior eficiência, agilidade e qualidade, mesmo contando com equipes reduzidas. O modelo tradicional – baseado em grandes times, segmentados por especialidade e processos burocráticos e custosos – tem dado lugar a estruturas mais enxutas estratégicas, apoiadas em tecnologia e voltadas a agregar valor diretamente ao negócio.
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Nesse contexto, o jurídico interno assume papel central como parceiro estratégico da empresa, com capacidade de atender de forma abrangente as demandas cotidianas, assegurando agilidade nas tomadas de decisão e otimização de riscos. Por aqui, o apoio de escritórios externos deixa de ser uma prática recorrente e passa a ser utilizado apenas em casos excepcionais, que envolvam questões altamente especializadas ou de grande complexidade.
Esse reposicionamento evita dependência excessiva de serviços terceirizados, reduz custos e reforça a autonomia da equipe jurídica interna. O investimento em tecnologia e eficiência operacional permite que o jurídico atue de forma proativa, próxima às áreas de negócio, consolidando-se como um centro de inteligência e solução interna e não apenas como um elo de conexão com escritórios externos.
- Conheça os clientes internos, mapeie e elimine desperdícios
Um jurídico, mesmo em estrutura enxuta, deve se orientar pelos princípios do Lean, focando no que realmente gera valor para os clientes internos e eliminando atividades que não contribuem para os objetivos do negócio. Para isso, é essencial conhecer profundamente as áreas atendidas, compreender suas necessidades reais e identificar como o jurídico pode entregar soluções que equilibrem qualidade, agilidade, flexibilidade e custo.
A produtividade e a qualidade são pilares fundamentais para um jurídico eficiente. Isso significa reduzir desperdícios de tempo e recursos, construindo um fluxo de trabalho contínuo, funcional e alinhado às necessidades estratégicas da empresa e projetos dos clientes internos.
Tradicionalmente, muitos jurídicos se organizam a partir de uma visão “de dentro para fora”, priorizando rotinas e controles internos que, na prática, não refletem a experiência de quem utiliza seus serviços. O resultado é uma equipe sobrecarregada, dedicada a atividades de baixo impacto estratégico – “equipes tarefeiras”. Para evitar esse cenário, é necessário adotar uma perspectiva centrada no cliente interno: ouvir, mapear e compreender suas demandas, de forma a entregar suporte que efetivamente viabilize projetos e mitigue riscos.
Nesse modelo, a otimização do jurídico passa por mapear os clientes internos, identificar seus principais pontos de dor, revisar fluxos de trabalho e investir em tecnologia para automatizar tarefas repetitivas. Assim, o departamento fortalece sua atuação como parceiro estratégico da empresa, com capacidade de atender de ponta a ponta. E reforçamos que, por aqui, os escritórios externos passam a ser acionados apenas em situações pontuais, de alta especialização ou complexidade, garantindo uso racional de recursos e reforçando o papel central do jurídico interno na geração de valor para o negócio.
- Baseie-se em dados para decisões, não percepções
Um jurídico enxuto não pode, e não deve, operar no escuro. Para direcionar seus esforços de forma eficiente, é indispensável contar com informações organizadas e acessíveis. Em equipes reduzidas, o gerenciamento de demandas já representa um desafio por si só. Ter métricas claras trazem um foco que permite entender quais atividades realmente geram valor e quais apenas consomem energia.
Entender as prioridades e planejar com base na realidade é essencial. No universo jurídico, sempre haverá imprevistos, seja um processo urgente, um contrato de última hora ou uma crise reputacional. Por isso, atuar com base em dados permite ao jurídico:
- Mapear o que é prioritário, especialmente o que representa riscos jurídicos, financeiros ou pode afetar relações com parceiros de negócio.
- Estabelecer prazos realistas considerando que urgências vão surgir; mas nem tudo pode ser considerado urgente.
- Balancear esforço, separando o que precisa da análise minuciosa do jurídico daquilo que pode ser tratado com automação, padronização ou apoio de outras áreas.
O uso inteligente de dados vai além do controle: é uma estratégia de sobrevivência. Ele permite que o jurídico não seja absorvido por imprevistos do dia a dia, mas consiga manter o foco no que realmente impacta o negócio, entregando valor de forma consistente e estratégica.
- Invista em tecnologia com propósito
Antes de adotar qualquer ferramenta, um jurídico enxuto precisa olhar para dentro e entender quais são os trabalhos mais massivos da área. São contratos com fornecedores? Processos trabalhistas? Demandas do time comercial? Esse é o ponto de partida para decidir onde a tecnologia realmente fará diferença e fazer a distribuição correta de recursos financeiros. Muitos jurídicos enfrentam sobrecarga com tarefas repetitivas e de alto volume, que poderiam ser simplificadas ou automatizadas. Ao mapear essas rotinas, torna-se mais fácil identificar as soluções com impacto direto na equipe.
Identificando:
- As demandas de maior volume e recorrência (sempre focando em melhor gestão do conhecimento e evitando retrabalho).
- Classificando com base no esforço exigido e no impacto estratégico gerado.
Facilita a escolha de ferramentas:
- Que gerem economia concreta, reduzindo horas contratadas de escritórios externos, custos com processos ou retrabalho interno.
- Que aumentem a autonomia do time para resolver questões operacionais com mais agilidade.
- Que tragam retorno rápido, com ganhos visíveis já nos primeiros meses.
A melhor tecnologia não é, necessariamente, a mais sofisticada, mas aquela que resolve problemas reais com retorno efetivo e mensurável. Um jurídico enxuto investe com foco em impacto imediato, priorizando soluções que eliminem tarefas manuais e repetitivas, abrindo espaço para que a equipe concentre esforços em atividades estratégicas, aquelas em que a análise humana é insubstituível e onde a energia do time realmente faz diferença.
- Reposicione o time jurídico
Um jurídico enxuto não deve ser visto apenas como um resolvedor de problemas ou como uma área consultiva acionada em momentos de crise. Seu papel precisa ser reposicionado como o de um verdadeiro parceiro de negócios e trusted advisor, presente desde a concepção das estratégias e decisões da empresa, agregando valor com visão de risco, viabilidade e inovação.
Para isso, é essencial capacitar a equipe para compreender e se comunicar na linguagem do negócio. Isso significa sair do discurso puramente técnico e jurídico e passar a traduzir riscos, oportunidades e soluções de forma compreensível e relevante para outras áreas.
A redefinição de papéis também é fundamental: nem toda atividade precisa ser feita pelo time jurídico. Cabe à liderança estabelecer o que deve permanecer sob a responsabilidade direta da equipe jurídica e o que pode ser delegado, automatizado ou absorvido por outras áreas, com o devido suporte e governança.
Além disso, criar uma cultura de autonomia e aprendizado contínuo é indispensável. Um time que aprende constantemente, se adapta e compartilha conhecimento consegue responder com mais agilidade às demandas do negócio e se tornar cada vez mais estratégico.
- Comece pequeno, mas com impacto real
A construção de um time interno eficiente não exige transformações radicais e imediatas. Os maiores avanços surgem de iniciativas pontuais, bem planejadas e de impacto visível. O ideal é iniciar com uma frente-piloto que represente a maior dor das áreas internas, como a gestão de contratos ou o atendimento de demandas repetitivas, e aplicar melhorias direcionadas, capazes de mostrar rapidamente o valor agregado pelo jurídico.
Pequenas melhorias contínuas, sustentadas por dados e alinhadas com a estratégia da empresa, tendem a gerar resultados consistentes ao mesmo tempo em que reduzem resistências e fortalecem o engajamento da equipe.
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Mais do que cortar custos ou reduzir estruturas, a transformação do jurídico está em redefinir seu posicionamento dentro da organização. Com uso inteligente de tecnologia, simplificação de processos e foco em atividades que realmente agregam valor, o jurídico interno deixa de ser visto apenas como um centro de custo e se consolida como um agente de eficiência, inovação e suporte estratégico ao crescimento do negócio.
Esse reposicionamento não acontece de uma vez: requer liderança para direcionar, disciplina para sustentar e coragem para mudar o que não agrega. Ao avançar em pequenas entregas de alto impacto, o jurídico se fortalece como um parceiro indispensável do negócio, moderno, estratégico e preparado para enfrentar desafios complexos.