A ação foi a mais extensa na história recente dos EUA Internacional CNN Brasil
Uma enorme fábrica da Hyundai em uma tranquila comunidade do sudeste da Geórgia tornou-se o epicentro na quinta-feira (4) de uma das operações de imigração mais extensas na história recente dos EUA, que durou meses de preparação, terminou com 475 prisões, a maioria de nacionais sul-coreanos.
Enquanto os policiais estaduais bloqueavam as estradas que levam à fábrica e montavam um perímetro de segurança, quase 500 agentes federais, estaduais e locais entraram na vasta instalação de produção de baterias, ainda em construção.
Os agentes agiram rapidamente, alinhando os trabalhadores contra as paredes. A notícia da operação se espalhou pela propriedade, provocando uma corrida entre os trabalhadores que tentaram fugir, com alguns correndo para um lago de esgoto e outros se escondendo em dutos de ar.
Os agentes conversaram com cada trabalhador, um a um, para determinar quem estava legalmente nos EUA, permitindo que alguns fossem liberados e levando os demais sob custódia, retirando-os do local e transportando-os para o Centro de Processamento do ICE, a agência de imgiração dos EUA, em Folkston, segundo autoridades.
Às 20h, o trabalho estava concluído.
A operação de alto risco em Ellabell, cerca de 40 km a oeste de Savannah, Geórgia, foi resultado do que as autoridades caracterizaram como uma investigação meticulosamente coordenada, envolvendo múltiplas agências federais e estaduais e semanas de coleta de inteligência, tudo convergindo em um dia decisivo, marcando a maior ação até agora na atual repressão à imigração da administração Trump em locais de trabalho nos EUA.
Trabalhadores descrevem cena tensa e caótica
Agentes federais chegaram ao local da Hyundai na manhã de quinta-feira como se fosse uma “zona de guerra”, disse um trabalhador da construção da fábrica de carros elétricos à CNN na sexta-feira (5).
O trabalhador, que pediu para não ser identificado para proteger sua privacidade, disse que fez parte do primeiro grupo de pessoas detidas pelos agentes federais.
“Eles apenas mandaram todo mundo encostar na parede. Ficamos lá por cerca de uma hora e depois fomos levados para outra área, onde aguardamos. Depois fomos para outro prédio e fomos processados,” contou o funcionário.
Agentes mascarados e armados davam ordens aos trabalhadores da construção, que usavam capacetes e coletes de segurança enquanto faziam fila, enquanto os policiais realizavam a operação na fábrica, mostraram imagens obtidas pela CNN.
Os agentes pediram a cada trabalhador o número do seguro social, data de nascimento e outras informações de identificação, disse o funcionário. Os trabalhadores que foram liberados receberam um papel com a frase “autorizado a sair” para mostrar aos policiais no portão ao deixar a fábrica, segundo o funcionário.

Outro trabalhador disse à afiliada da CNN, Univision, que se escondeu em um duto de ar para escapar da captura.
“Todo mundo saiu correndo e nos avisou que a imigração havia chegado,” disse o homem não identificado. “Nos escondemos em um duto de ar e estava muito quente.”
Durante a operação, várias pessoas tentaram fugir, incluindo algumas que “correm para um lago de esgoto localizado nas dependências,” informou o escritório do Procurador dos EUA para o Distrito Sul da Geórgia.
“Os agentes usaram um barco para pescá-los da água. Um dos indivíduos nadou por baixo do barco e tentou virá-lo, sem sucesso,” disse o escritório do Procurador. “Essas pessoas foram capturadas e identificadas como trabalhadores ilegais.”
O vídeo mostra trabalhadores na fábrica da Hyundai em Ellabell, Geórgia, sendo detidos após tentarem fugir durante a operação de quinta-feira.
A maioria dos detidos era nacionais sul-coreanos
Um mandado de busca registrado na terça-feira (2) no distrito sul da Geórgia identificou especificamente quatro pessoas a serem revistadas, mas as autoridades chegaram com um grande número de agentes e equipamentos, sugerindo a intenção de realizar uma operação mais ampla.
Todas as 475 pessoas detidas estavam ilegalmente nos EUA, disse Steven Schrank, agente especial responsável pela investigação de Segurança Interna. Alguns entraram ilegalmente nos EUA, outros tinham isenção de visto, mas estavam proibidos de trabalhar, e alguns haviam ultrapassado o tempo de validade do visto, explicou.
A maioria são nacionais sul-coreanos, disse Schrank, acrescentando que não tinha a divisão exata das nacionalidades dos presos. Mais de 300 das pessoas detidas eram sul-coreanas, disse o ministro das Relações Exteriores, Cho Hyun, no sábado (6).
O presidente da Coreia do Sul, Lee Jae Myung, ordenou aos funcionários que tomassem “todas as medidas necessárias” para apoiar os nacionais sul-coreanos, disse Cho após uma reunião de emergência em Seul sobre as prisões.
“Se necessário, estou preparado para viajar pessoalmente a Washington, DC, para dialogar diretamente com autoridades dos EUA para resolver essa questão,” afirmou Cho.
O embaixador da Coreia do Sul nos EUA e o cônsul-geral em Atlanta formaram uma equipe de resposta no local que irá “avaliar contramedidas, enfatizando que os direitos de nossos cidadãos e as atividades econômicas das empresas sul-coreanas que investem nos EUA devem ser protegidos contra violações injustas,” acrescentou Cho.
Schrank observou que alguns dos trabalhadores podem ter sido contratados como prestadores de serviço ou subcontratados. Um porta-voz da Hyundai disse à CNN que não acredita que alguém preso fosse funcionário direto da Hyundai Motor Company.
“Estamos revisando nossos processos para garantir que todas as partes que trabalham em nossos projetos mantenham os mesmos altos padrões de conformidade legal que exigimos de nós mesmos. Isso inclui uma rigorosa verificação das práticas de emprego de contratantes e subcontratantes,” disse a empresa em um comunicado na noite de sexta-feira, acrescentando: “A Hyundai tem tolerância zero para aqueles que não seguem a lei.”
Estar em situação irregular nos Estados Unidos, seja por cruzar a fronteira sem autorização ou por permanecer além do prazo de um visto, é normalmente considerado uma infração civil e não um crime.
Empregadores em todo o país utilizam o sistema federal E-Verify, lançado há mais de 20 anos, para verificar a elegibilidade legal para trabalho dos novos contratados. No entanto, autoridades da administração Trump criticaram o sistema por ser pouco confiável, sem apresentar uma alternativa mais eficaz.
A Coreia do Sul informou que está enviando diplomatas ao local em resposta à operação e acrescentou que entrou em contato com a embaixada dos EUA em Seul para pedir que os EUA “tenham extrema cautela” em relação aos direitos dos cidadãos sul-coreanos.
O advogado de imigração da Geórgia, Charles Kuck, disse à CNN que dois de seus clientes foram detidos na operação após chegarem da Coreia do Sul pelo programa de isenção de visto, que permite viagens para turismo ou negócios por até 90 dias.
Um cliente chegou aos EUA na semana passada e o outro, há algumas semanas, afirmou ele.
“Eles estavam autorizados a trabalhar nos EUA sob um programa de isenção de visto,” disse Kuck. “Cada um estava realizando atividades compatíveis com o programa de isenção de visto.”
Os clientes, ambos engenheiros, vieram aos EUA “para dar consultoria por um curto período” e planejavam retornar à Coreia do Sul em breve, segundo Kuck.
“Essa viagem fazia parte das suas atribuições no exterior,” afirmou Kuck.
Meses de planejamento coordenado por várias agências federais
As investigações da agência de imigração e da segurança interna foram acompanhados pelo Departamento de Segurança Pública da Geórgia, pelo escritório do Inspetor Geral do Departamento do Trabalho, pelo FBI, DEA, Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA, pelo Escritório de Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos, pela Receita Federal (IRS) e pela Patrulha Estadual da Geórgia.
“Esta não foi uma operação de imigração em que os agentes entraram nas instalações, reuniram as pessoas e as colocaram em ônibus,” disse Schrank em uma coletiva de imprensa na sexta-feira.
“Esta foi uma investigação criminal de vários meses, na qual desenvolvemos evidências, conduzimos entrevistas, reunimos documentos e apresentamos essas provas ao tribunal para obter mandados de busca judiciais,” uma referência a algumas operações anteriores de fiscalização migratória que foram questionadas por falta de causa provável.
Todas as agências participaram da execução de um mandado de busca como parte de uma investigação criminal em andamento sobre “alegações de práticas ilegais de emprego e outros crimes federais graves”, disse o Departamento de Segurança Interna em um comunicado.
“Juntos, estamos enviando uma mensagem clara e inequívoca: aqueles que exploram nossa força de trabalho, prejudicam nossa economia e violam as leis federais serão responsabilizados.”
O mandado revelou que as autoridades buscaram registros relacionados a “violações de conspiração para ocultar, abrigar ou proteger” pessoas em situação ilegal nos EUA. Os registros procurados incluíam documentos de emprego e recrutamento, correspondências com autoridades federais e documentos de identificação e imigração.
A operação foi a maior ação de fiscalização em um único local na história do departamento de investigações da Segurança Interna e da agência de imigração.
Em 2022, a Hyundai anunciou um acordo com o estado da Geórgia para construir as suas “primeiras instalações dedicadas totalmente à fabricação de veículos elétricos e baterias nos Estados Unidos”, segundo a empresa.
O vasto complexo Hyundai Metaplant, com 2.900 acres, é dividido em duas partes: um local para fabricação de veículos elétricos da Hyundai e uma fábrica de baterias para veículos elétricos, que é uma joint venture entre a Hyundai e a LG. Estima-se que a planta empregará até 8.500 pessoas quando estiver concluída.
A operação policial paralisou a construção da fábrica de baterias para veículos elétricos, informou a Associated Press.
Pequenos grupos de manifestantes se reuniram em Savannah e em um viaduto próximo à instalação na sexta-feira, gritando “Tirem o ICE de Savannah!” e segurando cartazes com os dizeres “ICE, vá para casa”.
O gabinete do governador da Geórgia, Brian Kemp, emitiu uma nota na sexta-feira em resposta à operação. “Na Geórgia, sempre aplicaremos a lei, incluindo todas as leis estaduais e federais de imigração”, disse um porta-voz de Kemp.
“O Departamento de Segurança Pública coordenou com o ICE para fornecer todo o suporte necessário para esta operação, a mais recente de uma longa série de cooperações e parcerias entre as forças estaduais de segurança e a imigração federal.”

