Há algo de podre no reino da direita brasileira. E não é apenas a ressurreição de seus reiterados flertes e noivados (para não dizer casamentos) com o golpismo. O último enlace, tendo Jair Bolsonaro (PL) à frente dos eventos que culminaram no golpe fracassado de 8 de janeiro de 2023, ainda rende frutos bastardos, como o bolsonarismo envergonhado dos governadores de direita que receberam de Carlos Bolsonaro a alcunha de ratos, com o apoio do irmão Eduardo, que segue sua campanha contra o Brasil desde os Estados Unidos.
Em desabafo no X (antigo Twitter), Carlos escreveu no último domingo (17/8) que “…até agora, ser a pessoa mais paciente possível diante desses chamados ‘governadores democráticos’. Mas os fatos, todos os dias, me provam que não há como levar nenhum desses sujeitos a sério”.
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Depois de elencar fatos para defender seu argumento, entre eles o titubeio dos tais governadores em se comprometer com a anistia aos golpistas — inclusive seu pai —, o filho 02 concluiu: “A verdade é dura: todos vocês [governadores] se comportam como ratos, sacrificam o povo pelo poder e não são em nada diferentes dos petistas que dizem combater. Limitam-se a gritar ‘fora PT’, mas não entregam liderança, não representam o coração do povo. Querem apenas herdar o espólio de Bolsonaro, se encostando nele de forma vergonhosa e patética”.
Ratos são seres de esgoto. Com a devida vênia, quem a si deixa-se rotular de tal forma em troca de migalhas eleitorais não merece a confiança mesmo dos cidadãos para chegar à suprema magistratura da nação. Até a manhã desta segunda-feira (18/8), nenhum dos potenciais alvos das ofensas de Carlos tinha se manifestado acerca delas.
Provavelmente se trata de estratégia para herdar os votos e eventualmente o apoio de Bolsonaro e família. Nada mais suicida poderia haver não apenas para a democracia brasileira, mas para a própria direita que ambiciona declarar independência do bolsonarismo ainda que abrace elementos cruciais da pauta de extrema direita, notadamente o ódio a minorias.
Dos governadores de direita de maior destaque, Romeu Zema (Novo-MG) emerge como alvo imediato das diatribes da família Bolsonaro. No longo prazo, o principal objetivo é torpedear a posição de Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) como herdeiro do bolsonarismo com verniz aceitável para o mercado, mídia e até mesmo parcelas significativas do mundo acadêmico brasileiro.
Zema lançou sua pré-candidatura no sábado (16/8), em evento em São Paulo, prometendo tirar o Brasil dos Brics e defendendo o “desmame” dos mais pobres do Bolsa Família. Em postura low profile, Tarcísio segue o preferido da Faria Lima e dos grandes grupos de mídia para 2026.
Falta combinar com os radicais e pretensos centristas. Representando a família mais golpista do Brasil, as urnas de 2026 podem trazer para a Presidência desde a ex-primeira-dama Michele Bolsonaro (que não se cansa de fazer campanha xingando Lula) até o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que transita bem entre caciques do centrão.
O traidor-mor da pátria Eduardo também não pode ser carta fora do baralho, pois seria o candidato ideal, que concorreria desde o exterior para denunciar a suposta ditadura brasileira, num cenário em que o presidente americano Donald Trump venha a liderar uma campanha de não reconhecimento do processo eleitoral do próximo ano porque Jair Bolsonaro encontra-se inelegível.
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Entre os pretensos centristas, Tarcísio e Zema podem ser preteridos pelo governador Ratinho Júnior (PSD-PR), que vem sendo mais habilidoso que seu colega à frente do estado de São Paulo para costurar uma via até o Planalto, ainda que como os demais nomes da direita tenha aderido ao discurso absurdo de culpar o atual governo brasileiro pelo tarifaço imposto por Trump contra a iminente condenação de Bolsonaro. O presidente do PSD e secretário de Tarcísio, Gilberto Kassab, já sinalizou que prefere Ratinho Júnior para o Planalto.
Ratos, ratinhos, ratazanas: a direita brasileira está bem servida de roedores. Alguém poderia encarnar o papel de um animal da mesma família de roedores, a capivara: tranquila, querida por todos, brasileira por excelência e não prepostos de uma potência estrangeira. Enfim, a direita (e, portanto, a democracia brasileira) precisa de um animal político capaz de romper com o bolsonarismo. Os inimigos do conservadorismo brasileiro não são Lula tampouco Alexandre de Moraes, mas a sanha ditatorial da família Bolsonaro, que, defendendo o extremismo, sufoca aqueles que legitimamente procuram por uma alternativa democrática direitista.

