A derrubada do decreto do IOF pelo Congresso produziu um feito raro no governo Lula 3: a solidariedade entre os ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Rui Costa (Casa Civil). De quebra, embarcaram na mesma canoa Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais) e Sidônio Palmeira (Secom), outros dois ministros graúdos no Planalto.
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Fontes no governo afirmam que os quatro fecharam questão e querem levar o caso ao Supremo Tribunal Federal (STF). A decisão, ainda que possa azedar de vez a relação com o Congresso, já está tomada politicamente e, por ora, rompe o isolamento a que Haddad vinha sendo submetido dentro do núcleo duro do governo.
Mais que um impulso de ministros inconformados, a disposição de judicializar parece ter o aval do próprio presidente. Segundo relatos, Lula ficou francamente irritado com a forma como os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), conduziram o processo.
A sequência dos episódios
Motta anunciou quase à meia-noite — e via rede social — que colocaria o mérito do PDL em votação no dia seguinte, algo que o governo esperava para julho. Alcolumbre, por sua vez, prometeu ao presidente da Câmara que pautaria o texto no Senado assim que os deputados o aprovassem. E assim foi. Nenhum dos dois sequer avisou o Planalto, como é de praxe. Pelo contrário: Motta passou o dia ignorando chamadas de Gleisi, como já fazia com Haddad havia semanas.
Judicialização certa e a relação entre os Poderes
Na prática, é Lula quem dá a palavra final sobre ir ou não ao Supremo. E como a Advocacia-Geral da União entende haver argumento jurídico para tentar reinstaurar o decreto do IOF, a questão agora é sobre quando isso será feito. A menos que haja um recuo, a decisão já está tomada.
Ninguém no Planalto, nem o presidente, vê vantagem em romper com o Congresso às vésperas de um ano eleitoral, com pautas relevantes como a isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil na fila. A expectativa é que Lula ainda tente uma reaproximação com Motta e Alcolumbre — ou, em outras palavras, chame os dois para uma boa DR. Mas é possível que essa conversa venha depois, ou até mesmo independentemente, de o governo bater à porta do STF.
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O consenso no Planalto é que não reagir daria um sinal de fraqueza. Nas palavras de uma fonte, não se pode permitir uma “dilmização” de Lula — um presidente encurralado, cedendo em tudo e para todos enquanto o Congresso conspira contra ele.
No caso do IOF, o governo enxerga que a narrativa de taxar os mais ricos para proteger os mais pobres aglutina a militância e consegue ressoar em parte do eleitorado. É uma briga com ganhos de curto prazo — mas com efeitos imprevisíveis na costura de alianças para 2026. Que é, afinal, o pano de fundo real nessa queda de braço de ferro entre o Planalto e o Centrão.