Bento IX teve três papados intercalados e chegou a vender o papado
Este conteúdo foi originalmente publicado em Conheça o papa mais novo ao assumir o comando da Igreja Católica no site CNN Brasil. Internacional, Papa, Roma, Vaticano CNN Brasil
Considerado o papa mais jovem da história a ocupar o trono de Pedro, Bento IX reinou durante o século XI e teve três papados intercalados.
As fontes historiográficas divergem quanto à idade exata que o jovem pontífice tinha quando assumiu o papado, mas acredita-se que isso aconteceu quando ele tinha entre 12 e 20 anos de idade.
Bento IX foi batizado com o nome de Teofilacto de Tusculum.
A família dele, conhecida como a aristocracia dos Tusculum, tinha grande influência sobre Roma e, consequentemente, sobre a Igreja Católica – em um período em que o papado estava profundamente ligado à política secular, segundo Thales Reis, especialista nas Escrituras Sagradas do Cristianismo pela Universidade de Harvard, e em História Moderna da Igreja Católica pela Universidade da Carolina do Norte em Chappel Hill.
“Naquela época, as famílias nobres de Roma disputavam o controle da Igreja para consolidar a influência e o poder político e econômico”, acrescentou Reis, que também é MBA em Relações Internacionais pela FGV-SP.
“Não era visto como um cargo religioso envolto de simbolismo como é hoje, mas como uma fonte de poder. Era o cargo mais importante do mundo”, continuou Thales Reis.
De acordo com a historiadora Susan Wise Bauer, autora do livro A História do Mundo Medieval, em entrevista à CNN para a série documental “Pope: The Most Powerful Man in History” (Papa: O Homem Mais Poderoso da História), o objetivo de Bento IX era “enriquecer a família ainda mais” com o papado.
Ao que os registros disponíveis indicam, o primeiro papado de Bento IX foi de 1032 a 1044. Thales Reis diz que o pontífice, então, foi deposto e substituído por Sylvester III.
James M. Weiss, professor associado de teologia na Boston College, também em entrevista à série “Pope: The Most Powerful Man in History” da CNN, complementa dizendo que Bento IX fez uma espécie de acordo com o alto clero da Igreja.
O segundo papado de Bento IX começou em 1045, se tornando desta maneira, o primeiro papa a voltar ao poder.
As autoridades estavam divididas sobre o fato de Bento IX ocupar o cargo novamente. Diarmaid Macculloch, historiador especializado em História Eclesiástica e História do Cristianismo, afirmou à CNN que havia um conflito entre religião e poder.
Segundo Thales Reis, foi nessa ocasião que, querendo se casar (e financiar seu casamento), Bento IX vendeu o papado ao padrinho, depois eleito como Gregório VI. Pela primeira vez – e única -, na história registrada, um papa renunciou em troca de dinheiro.
Ainda conforme as informações de Thales Reis, Gregório VI teria renunciado após ser acusado de simonia, ou seja, a compra ou venda de serviços espirituais.
Pouco tempo depois, Bento IX retornou pela terceira vez ao trono de São Pedro.
O terceiro papado foi bem curto – teria durado de 1047 a 1048 –, quando foi definitivamente deposto pelo imperador da época.
O contexto histórico era de fragmentação política e reformas eclesiásticas emergentes.
“A Igreja enfrentava instabilidade política, com muitas disputas pelo papado e sucessivas deposições”, complementa Thales Reis.
“Com Bento IX, o cargo do papa perdeu ainda mais a legitimidade e o papado e a Igreja como um todo enfrentaram uma crise moral – o que alimenta movimentos por reforma”, destaca Thales Reis, citando também a intervenção imperial, o que levou a uma maior influência da política externa.
De certa forma, pode-se dizer que Bento IX foi catalisador dessas reformas.
“O papado dele destacou a necessidade de reformar o processo de eleição papal, em que a corrupção estava enraizada”, analisa Thales Reis. “Exemplificou estes problemas, influenciando na criação de estruturas mais regulamentadas, com mais rigor e estabilidade”, continuou.
Como no século XI os conclaves ainda não existiam, não havia uma maneira oficial para eleger um papa.
O processo era controlado por um pequeno círculo de cardeais e elites romanas com forte influência de dinheiro, poder militar e alianças políticas, com os interesses espirituais ficando em segundo plano, de acordo com Thales Reis.
O conclave como conhecemos surgiu no século XIII e desde então tem passado por modernizações.
*Sob supervisão de Derla Cardoso
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