A Meta informou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que a conta do Instagram “gabrielar702” está vinculada a um email em nome de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, ao menos desde o dia 19 de janeiro de 2024. Este perfil teria sido usado pelo colaborador para vazar informações sobre o acordo de colaboração premiada firmado com a Polícia Federal. Os diálogos foram anexados nos autos da ação penal sobre a tentativa de golpe no Brasil em 2022, pelo advogado Eduardo Kuntz, advogado do réu coronel Marcelo Câmara.
Informações direto ao ponto sobre o que realmente importa: assine gratuitamente a JOTA Principal, a nova newsletter do JOTA
Em outro documento, o Google confirmou a existência do mesmo email desde 2005. Disse ainda que o email está vinculado a um número de telefone do estado do Rio de Janeiro, que o email de recuperação da conta também está em nome de Mauro Cid e que a data de aniversário do dono da conta é 17 de maio de 1979, mesma data de aniversário de Mauro Cid.
Os documentos das empresas de tecnologia foram enviados ao STF na semana passada, mas estavam sob sigilo. Nesta segunda-feira (23/6), o relator, Alexandre de Moraes, tornou os documentos públicos.
Sobre o perfil “Gabriela R”, a Meta esclareceu que “não é possível identificar quaisquer contas com base no nome Gabriela R, uma vez que esse não é um identificador válido”.
Durante interrogatório no STF, o advogado de Jair Bolsonaro, Celso Vilardi, perguntou se Cid conhecia o perfil “gabrielaR”. O colaborador titubeou e disse que poderia ser da sua esposa.
As informações prestadas pela Meta foram juntadas na AP 2668.
Áudios e prints
O advogado do coronel Marcelo Câmara, Eduardo Kuntz, anexou na quinta-feira (17/6) nos autos da ação penal uma série de áudios e prints de diálogos entre ele e o colaborador, Mauro Cid, por meio do perfil do Instagram “Gabrielar702” em que ele daria detalhes sobre a colaboração premiada firmada com a Polícia Federal.
Inscreva-se no canal de notícias do JOTA no WhatsApp e fique por dentro das principais discussões do país!
Ao anexar as conversas na ação penal, Kuntz requer a nulidade do acordo de colaboração premiada de Mauro Cid por falta de “voluntariedade”, bem como a retirada de todas as provas derivadas da delação. “Sem embargos, nas palavras de ‘desabafo’ do delator, conforme se depreende desta conversa o princípio da voluntariedade foi absolutamente arranhado, para não dizer que foi ferido de morte”, escreveu Kuntz.
Segundo o documento apresentado ao relator da ação, ministro Alexandre de Moraes, foi Cid quem teria tomado a iniciativa de procurar o advogado por meio do perfil fake. Nos anexos há um print em que Kuntz pergunta a Cid se era ele mesmo nas mensagens. Cid, então, teria mandado uma foto comprovando a autenticidade. Os dois se conheciam antes e, em primeiro momento, Kuntz achou que o motivo do contato seria “uma possível troca na defesa técnica”.
O advogado documentou as trocas de mensagens e telefonemas para se proteger de uma “ação controlada”. De acordo com o texto, por meio de uma ligação efetuada pelo aplicativo foi possível constatar que se tratava da pessoa Mauro Cid. O advogado disse que a ligação foi rápida, “oportunidade que serviu apenas para estabelecer contato para conversas futuras, ´matar a saudade`, falar da família e sobre os casos em si, coisas bem breves” e que depois prosseguiram a conversa via aplicativo por mensagens de áudio e texto.
O acordo implica Bolsonaro e aliados do ex-presidente e é um dos elementos que fundamentam a denúncia do Procurador-Geral da República (PGR), Paulo Gonet, sobre a trama golpista.