Lula foi o único presidente da República a prestigiar um congresso de contadores em mais de cem anos. Foi em 2008, em Gramado. Na ocasião, Lula aprovou o marco regulatório da profissão contábil e agradeceu aos 5.600 congressistas presentes, enaltecendo o fato de que não haveria empresas se não fossem os contadores. Sem eles, não existiria um centavo de impostos arrecadados. E nenhum negócio no mercado de capitais seria fechado sem um contador ou um auditor. Lula foi aplaudido de pé.
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Esse reconhecimento público traduz a dimensão estratégica da contabilidade. A profissão não se limita à aplicação de normas ou registros técnicos: ela sustenta a transparência das empresas, dá credibilidade às informações financeiras e garante que investidores, reguladores e sociedade possam confiar nos números que orientam decisões. Em outras palavras, é por meio do olhar contábil que se torna possível compreender e interpretar os fenômenos econômicos e sociais que moldam o ambiente de negócios – especialmente no momento de rápidas transformações em que vivemos.
Hoje, esse papel dos contadores ganha ainda mais relevância, diante da recomposição do colegiado da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) em andamento. Responsável por normatizar e fiscalizar as práticas que moldam o mercado de capitais, a autarquia aguarda indicações do Ministério da Fazenda para duas vagas atualmente em aberto. O debate em torno dessa renovação precisa ir além da escolha de nomes: trata-se de discutir que competências e olhares técnicos são indispensáveis para que o órgão esteja preparado para enfrentar as demandas atuais e futuras do ambiente de negócios.
Como nosso presidente da República destacou, a ciência contábil é fundamental para o correto funcionamento do mercado de capitais. Com mais de 526 mil profissionais ativos no Brasil, a contabilidade ocupa papel central ao reduzir a assimetria de informações entre empresas e investidores, sendo responsável pela produção e análise de dados que sustentam a transparência e fortalecem a governança corporativa e pública. É a chamada “linguagem dos negócios”, sem a qual não há comparabilidade de demonstrações financeiras, avaliação adequada de riscos ou confiança plena dos agentes econômicos.
Ao longo das últimas décadas, a contabilidade teve papel decisivo na construção da credibilidade do mercado brasileiro. Foi a partir de sua contribuição que o país pôde implementar arcabouços regulatórios que dialoguem com padrões internacionais, atrair capital e fortalecer a confiança de investidores. Hoje, essa relevância se amplia diante das novas agendas que revolucionam a forma como empresas são avaliadas, em especial a incorporação de métricas ambientais, sociais e de governança (ESG) aos relatórios corporativos. Não se trata apenas de números e normas, mas de interpretar fenômenos complexos e traduzir informações em parâmetros que sustentem a tomada de decisão no mercado.
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Como vemos, a contabilidade é uma ciência em constante evolução. Ano após ano, acompanha as novas normas emitidas por organismos internacionais, tanto para estar na vanguarda de pautas como a de sustentabilidade e ESG, quanto para assegurar a comparabilidade das informações brasileiras com os principais mercados do mundo. Órgãos reguladores como a CVM estão no centro desse processo de adaptação, e a presença do olhar contábil em seu colegiado é essencial para interpretar essas mudanças, transformar exigências globais em referências claras para o mercado local e oferecer previsibilidade regulatória a empresas e investidores.
Por tudo isso, faz sentido que essa expertise esteja presente também no colegiado da CVM. A contribuição de um contador pode acrescentar uma perspectiva que ajude a conectar informações financeiras à dinâmica econômica e empresarial, num cenário de rápidas mudanças. Esse olhar contribui para que as deliberações da CVM incorporem análises mais amplas sobre riscos, impactos e tendências, de forma a evitar distorções de mercado e outros gargalos. Dessa forma, o colegiado se fortalece como espaço de diversidade técnica e visão estratégica, capaz de alinhar o mercado brasileiro às melhores práticas e sustentar a confiança dos agentes econômicos.
A recomposição do colegiado da CVM, portanto, é de caráter estratégico para o futuro do mercado de capitais brasileiro. A presença das ciências contábeis nesse espaço é fundamental para que as decisões da autarquia tenham a precisão técnica necessária e reforcem a transparência, a governança e a solidez do sistema financeiro. Um colegiado plural, que incorpore a visão contábil ao lado de outras competências, fortalece a capacidade institucional da CVM e amplia a confiança no ambiente regulatório. Trata-se de um passo decisivo para consolidar a atratividade do Brasil diante dos fluxos de capital globais e sustentar um mercado de capitais moderno, alinhado às melhores práticas internacionais e às demandas da sociedade.

