Especialistas ouvidos pela CNN divergem sobre início do ciclo de suavização dos juros Macroeconomia, Banco Central (BC), CNN Brasil Money, Copom, Juros, Selic CNN Brasil
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) pegou parte do mercado de surpresa ao subir os juros em 0,25 ponto nessa quarta-feira (18), elevando a Selic a 15% ao ano.
O comunicado do Copom desta sinalizou que, caso o cenário econômico evolua como o esperado pelo comitê, esta deve ser a última alta deste ciclo.
Porém, ressaltou que os juros devem ser mantidos em terreno contracionista por um longo período e não descartou a retomada do aperto monetário em caso de deterioração.
Com o sinal de fim do ciclo, começam as expectativas para o movimento de afrouxamento monetário. Analistas ouvidos pela CNN, porém, divergem sobre quando o BC deverá tomar o caminho para redução dos juros.
Para eles, o comunicado do BC evitou dar brechas para especulações.
“O texto ainda usa ‘bastante prolongado’ para sinalizar a estratégia à frente. Assim, tenta inibir a previsão de antecipação de cortes. Para frente, o comitê deixa claro que o cenário base é pausar o ciclo. Aqui mais uma tentativa de reforçar o higher for longer ao manter a ameaça de retomar o ciclo”, avalia Natalie Victal, economista-chefe da SulAmérica Investimentos.
Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos, ressalta que o recado do BC veio mais objetivo ao visto nas outras reuniões, porém, não apresenta clareza sobre mudanças na estratégia de manter as taxas inalteradas.
“O BC fez o certo e não deu brecha para que esta discussão ganhasse qualquer espaço, correndo o risco de perder ao menos parte da credibilidade conquistada junto ao mercado até aqui”.
“Assim, entendemos que com um comunicado levemente hawkish, o Copom passou o recado de responsabilidade com a inflação e não deu espaço para que se antecipe a discussão sobre corte de juros – o que inevitavelmente vai acontecer, afinal, o ciclo de altas está declaradamente encerrado.”
Tanto a B.Side Investimentos como a Galapagos Capital apontam que o afrouxamento dos juros deve começar já no final deste ano.
“O cenário externo seguirá complexo no curto prazo e o impacto desinflacionário sobre os emergentes das novas tarifas comerciais impostas pelos EUA também deve ocorrer apenas na segunda metade do ano”, pontua Tatiana Pinheiro, economista-chefe da Galapagos Capital.
“Com isso, reforçamos a necessidade de prudência na condução da política monetária no curto prazo para a configuração da nossa previsão de início de cortes em dezembro de 2025, com uma redução inicial de 50 pontos-base. Projetamos uma trajetória gradual de afrouxamento, com Selic atingindo 10,5% até julho de 2026.”
Mas é aqui onde os analistas começam a divergir, uma vez que, apesar de alguns sinais indicarem um início de controle da inflação e das expectativas, as incertezas ainda predominam.
“As expectativas continuam desancoradas, olhando para frente, tanto em meses quanto em anos — isso é um problema. A atividade econômica segue resiliente, e há vários riscos internos e externos no radar”, indaga Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master.
“A taxa deve permanecer nesse campo contracionista por um período suficientemente longo. Então, acredito que seguiremos com esse juro em 15% por um bom tempo — entrando no ano que vem, senão até o meio do ano que vem.”
Fiscal incerto, mercado de trabalho aquecido e núcleos de serviços elevados são três fatores destacados por Gabriel Malatesta, economista da WHG, como responsáveis por manter as expectativas ainda desancoradas.
“15% tende a ser o pico, e cortes ficam fora do radar até o final do ano ou até mesmo início do ano que vem (algo entre dezembro e março), dependentes de nova queda nos núcleos de serviços e reancoragem das expectativas”, conclui Malatesta.
Ademais, o Inter destaca que a condução da política fiscal será fundamental para a determinação do início dos cortes de juros.
“Caso tenhamos novo aumento de gastos e uma indicação de orçamento mais expansivo em 2026, o Copom pode manter os juros elevados por mais tempo, postergando cortes de juros até uma queda mais significativa da inflação corrente. O fiscal expansionista e sem regras críveis cobra um elevado custo da política monetária”, pontua Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter.
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