O sequenciamento do DNA do mercado de capitais brasileiro permite e autoriza concluir que tivemos uma década perdida: com abertura de empresas na bolsa praticamente desprezível, o mais grave fechamento de capital, recompra de papéis, escândalos contábeis e operações com enormes prejuízos aos investidores na modalidade estruturada.
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A percepção da modernidade nos leva a pensar que o intuito de atrair pessoas físicas para o mercado, torna-se cada vez mais frágil diante da falta de um conjunto mínimo de regras capazes de assegurar a proteção do capital investido.
Os meios inescrupulosos de ganhos fáceis impregnam o mercado de uma eticidade duvidosa e de uma moralidade em xeque, de tal sorte que investidores inexperientes são lançados ao mar e, quando pretendem sair, não encontram um ponto de apoio, naufragando na inconsistência da falta de transparência, na ilusão do ganho rápido e fácil e, principalmente, nas circunstâncias criadas por agentes que constantemente prospectam papéis alavancados, minando as esperanças de recriação do mercado de capitais.
Grande parte desta sinalização sucede por causa da falta de fiscalização e marcação a mercado em tempo real. Se uma ação apresenta variação e oscilação de preço com possível manipulação, é o momento de questionar a administração sobre os motivos. Caso não sejam esclarecidos, deve-se suspender, até segunda ordem, a negociação, evitando assim prejuízos e especulações sem limites. Posto que, se judicializarmos o assunto, poucos envolvidos terão o enfrentamento e a forma de superar os danos causados aos lesados.
Dentro dessa perspectiva, torna-se interessante realizar o mapeamento do mercado de capitais e identificar seu principal gargalo: a desconfiança frequente dos investidores. Soma-se a isso a fuga de capitais estrangeiros — sim, ultimamente as saídas têm sido bem superiores às entradas —, sendo a oscilação da moeda estrangeira um fator preponderante, especialmente quando os mercados internacionais reduzem suas respectivas taxas de juros.
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O nanico mercado de capitais brasileiro é superado apenas por uma empresa gigante do setor de tecnologia, o que demonstra o quão distantes estamos do crescimento e da evolução do número de investidores. Além disso, nossa bolsa precisaria estar integrada, em funcionamento conjunto, com todo o Mercosul. Assim, Argentina, Uruguai e Chile, exemplificativamente, poderiam ter um assento único, com papéis já customizados à base do dólar e convertidos, o que aumentaria gradualmente o número de ações negociadas no pregão, inclusive mediante o uso de inteligência artificial.
Os tempos difíceis da economia brasileira provocaram a desaceleração da bolsa e reduziram as chances de abertura de capital de empresas, que preferem ser listadas nos Estados Unidos pelas facilidades oferecidas, inclusive quanto ao socorro na hipótese de recuperação judicial. As vantagens superam a instabilidade local e impulsionam muitos bancos digitais a funcionarem no exterior.
Ao que tudo indica, o governo considera o mercado simplesmente rentista e, na contramão do seu crescimento e desenvolvimento, resolve tributar a distribuição de dividendos, a qual é bastante ínfima e restrita a poucas empresas, no máximo meia dúzia. Daí porque quem pretende fazer poupança para uma aposentadoria melhor, tal qual nos EUA, no Brasil sofre vicissitudes inúmeras e a tendência é manter a aplicação em renda fixa ou até mesmo em poupança.
Que o grito de alerta desperte não apenas os agentes, mas também as empresas e o governo, para que encarem de frente um problema que, apesar dos índices artificiais, demonstra que muitos papéis, notadamente os de empresas em recuperação judicial, sequer deveriam ter vez na B3, o que implica em repensar seu funcionamento e propalar melhor transparência e informação ao investidor.

