Incluída na lista de foragidos da Interpol, a deputada foi condenada a 10 anos de prisão pelo STF Política, Carla Zambelli, Deputada, Itália, Prisão CNN Brasil
Presa na Itália nesta terça-feira (29), após ser condenada a 10 anos de prisão pelo STF (Supremo Tribunal Federal) e incluída na lista de foragidos internacionais da Interpol, a trajetória política da deputada federal licenciada Carla Zambelli (PL-SP) é marcada por controvérsias e polêmicas.
Em julho, o nome de Zambelli foi incluído na lista de procurados da Interpol, o que permitiu a cooperação internacional para sua localização e eventual prisão fora do Brasil.
Em vídeo divulgado nas redes sociais, Zambelli afirmou que está “segura” em se “apresentar” à justiça italiana por não acreditar no judiciário brasileiro.
Relembre a trajetória da parlamentar
Zambelli nasceu em 3 de julho de 1980, em Ribeirão Preto (SP) e fundou o movimento “Nas Ruas”, que ficou conhecido por integrar os protestos em favor do impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PL), entre 2015 e 2016.
Anos depois, durante as eleições de 2018, integrou a base de apoio a Jair Bolsonaro (PL) e foi eleita para o cargo de deputada federal pelo PSL. Na época, dizia que sua linha de atuação seria a de “combate à corrupção” por meio de três pilares: “menos Estado, mais justiça e educação de verdade”.
Ameaça com arma
Às vésperas do segundo turno das eleições de 2022, a parlamentar foi flagrada em vídeo ameaçando um homem com uma arma, no bairro dos Jardins, região central de São Paulo. O episódio levou o Supremo Tribunal Federal a formar maioria para condená-la pelos crimes de porte ilegal e constrangimento ilegal com uso de arma de fogo.
Um mês antes do acontecido, em setembro de 2022, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) havia proibido o transporte de armas por colecionadores, atiradores e caçadores no dia das eleições, assim como nas 24 horas que antecedem e nas 24 horas seguintes ao dia de votação. Em entrevista a jornalistas, ela afirmou ter “ignorado conscientemente” a resolução do TSE.
Distanciamento de Bolsonaro
Naquele ano, Bolsonaro, que concorria à reeleição, foi derrotado nas urnas pelo atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O ex-presidente atribuiu a Zambelli o resultado eleitoral. Ele afirmou que a parlamentar “tirou o mandato” de sua chapa nas eleições de 2022.
“Aquela imagem da Carla Zambelli, da forma que foi usada, perseguindo o cara lá… Teve gente [que pensou]: ‘olha, o Bolsonaro defende o armamento’. Mesmo quem não votou no Lula, anulou o voto. Ela tirou o mandato da gente”, disse o ex-presidente.
Posteriormente, em entrevista à CNN, a deputada afirmou que a declaração de Bolsonaro a deixou “entristecida”.
Invasão ao sistema do Conselho Nacional de Justiça
A deputada foi condenada a dez anos de prisão pelo STF por ter invadido o sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) junto ao hacker Walter Delgatti.
Além da prisão, o STF também determinou a perda do mandato da deputada, que ainda não aconteceu. Na Câmara dos Deputados, a análise da cassação precisa ser feita pelo plenário da Casa, que ainda não tem data definida.
Segundo a denúncia da PGR (Procuradoria Geral da República), os atos de Zambelli e Delgatti atentaram “contra a segurança do Poder Judiciário”.
A defesa chegou a entrar com embargos de declaração contra a decisão, alegando não ter tido acesso total às provas; o recurso, porém, não altera a condenação, apenas adia o trânsito em julgado do processo.
Estado de saúde
Depois da decisão pela condenação, a deputada convocou jornalistas à sede do PL, em São Paulo, para realização de uma entrevista coletiva em que definiu a condenação como “injustiça” e disse que “não sobreviveria na cadeia”.
Ela disse ser portadora de uma síndrome chamada Ehlers-Danlos, que afeta os tecidos conjuntivos do corpo. Ela disse ainda que tem um problema no coração chamado síndrome hipercinética postural ortostática, que não permite que ela permaneça muito tempo de pé, e que toma medicamentos para tratar depressão.
“Eu estou pegando vários relatórios dos meus médicos e eles são unânimes em dizer que eu não sobreviveria na cadeia. Então, a gente deve apresentar isso em momento oportuno”, disse.
Durante a entrevista, um de seus assessores interrompeu a deputada para lhe entregar remédios. Segundo ele, ela tomou os comprimidos naquele momento porque ele havia esquecido os remédios e atrasado o horário, e não para que tomasse em frente às câmeras.
Advogado deixa a defesa
Após o anúncio de que deixou o Brasil, o advogado Daniel Bialski disse, por meio de nota, que estaria deixando a defesa da parlamentar.
“Eu fui apenas comunicado pela deputada que estaria fora do Brasil para dar continuidade a um tratamento de saúde. Todavia, por motivo de foro íntimo, estou deixando a defesa da deputada, como já lhe comuniquei”, diz o comunicado.