Líder afirma que sucessor nascerá fora da China e diz para seguidores rejeitarem qualquer pessoa escolhida por Pequim Internacional, Budismo, China, Dalai Lama, Tibete CNN Brasil
O Dalai Lama discursará em um grande encontro de três dias com figuras religiosas budistas nesta semana.
O evento acontece antes de seu aniversário de 90 anos, enquanto seguidores aguardam que o líder espiritual tibetano compartilhe detalhes sobre a sucessão, uma atitude que pode irritar a China.
Os budistas tibetanos acreditam que os monges iluminados renascem para levar adiante o legado espiritual.
O governo da China considera o Dalai Lama, que fugiu do Tibete em 1959 após uma revolta fracassada contra o domínio chinês, um separatista e afirma que escolherá o seu sucessor.
Por sua vez, ele pontuou que o escolhido nascerá fora da China e pediu aos seguidores que rejeitem qualquer pessoa escolhida por Pequim.
O 14º Dalai Lama completará 90 anos no domingo (6) e afirmou que consultará monges seniores e outras pessoas nesta ocasião para compartilhar possíveis pistas sobre onde o próximo na linhagem, seja um menino ou uma menina, poderá ser encontrado após sua morte.
“Dedicarei o resto da minha vida ao benefício dos outros, tanto quanto possível, o mais extensamente possível”, pontuou o líder religioso a um grupo de seguidores nesta segunda-feira (30), enquanto ofereciam orações por sua vida.
“Haverá algum tipo de estrutura dentro da qual possamos falar sobre a continuidade da instituição dos Dalai Lamas”, disse ele, sem entrar em detalhes sobre.
O líder espiritual já havia dito que poderia reencarnar na Índia, onde vive exilado perto da cidade de Dharamshala, no norte do Himalaia.
O atual Dalai Lama foi identificado como a reencarnação do antecessor quando tinha dois anos.
Dolma Tsering Teykhang, vice-presidente do Parlamento tibetano exilada em Dharamshala, comentou que era importante que o mundo ouvisse diretamente o Dalai Lama sobre o assunto.
Isso porque, enquanto a China “tenta difamá-lo a cada oportunidade… está tentando formular regras e regulamentos sobre como ter a reencarnação do Dalai Lama em suas mãos”.
“A China está tentando se apropriar desta instituição… para seus fins políticos”, avaliou.
“Queremos que a encarnação do Dalai Lama nasça não apenas para a sobrevivência do Tibete como uma cultura, religião e nação distintas, mas também para o bem-estar de toda a humanidade”, concluiu.
Thupten Ngodup, principal oráculo estatal do Tibete, ressaltou que normalmente tais discussões sobre a reencarnação não acontecem enquanto um monge ainda está vivo, mas que as coisas são diferentes agora, principalmente porque o “governo chinês está interferindo”.
A China destacou em março que o Dalai Lama era um exilado político que “não tinha o direito de representar o povo tibetano”.
Além disso, argumentou estar aberta a discutir o futuro se ele reconhecer que Tibete e Taiwan são partes inalienáveis da China.
Conferência co Dalai Lama
A conferência religiosa desta semana, que será realizada pela primeira vez desde 2019, contará com a presença de mais de 100 líderes budistas tibetanos e terá uma declaração em vídeo do Dalai Lama.
O astro de Hollywood Richard Gere, seguidor de longa data do budismo tibetano, estará entre os participantes, segundo os organizadores.
O líder religioso participará das orações convocadas pelo governo tibetano no exílio em 5 de julho e das comemorações de aniversário no dia seguinte, segundo a programação divulgada pelos organizadores.
Ele discursará no evento por cerca de meia hora. O ministro de Assuntos Parlamentares da Índia, Kiren Rijiju, e algumas outras autoridades indianas são esperadas.
Os tibetanos têm rezado pela saúde do líder, especialmente desde a cirurgia no joelho nos EUA no ano passado, embora o Dalai Lama tenha dito à Reuters em dezembro que poderia viver até os 110 anos.
Próximo Dalai Lama
O Dalai Lama anterior morreu mais cedo do que o esperado, aos 58 anos.
Tanto as autoridades tibetanas quanto o líder religioso afirmam que existe um sistema em vigor para que o governo no exílio continue o trabalho político, enquanto funcionários da Fundação Gaden Phodrang buscam e reconhecem o próximo Dalai Lama.
O atual Dalai Lama criou a fundação em 2015 e entre os principais funcionários estão vários de seus assessores.
Dolma Tsering Teykhang, vice-presidente do Parlamento tibetano e outras autoridades afirmaram que o Dalai Lama vem preparando seu povo para o dia em que partir.
Isso acontece especialmente por meio da decisão em 2011 de entregar o papel político a um governo democraticamente eleito, encerrando uma tradição de 368 anos de ser o líder espiritual e temporal dos tibetanos.
“Como ele veio na forma humana, temos que concordar que chegará um momento em que ele não estará conosco. Sua Santidade realmente nos preparou para esse dia, ele nos fez agir como se ele não estivesse lá”, afirmou Teykhang.