Felicce Fazzolari engaja seus alunos com dinâmicas que incluem a produção de clipes musicais usando apenas um celular Educação, Música, Pedagogia, professor, Rock, sala de aula CNN Brasil
Com criatividade e o uso de tecnologia do dia a dia, o professor Felicce Fatarelli Fazzolari, 43, inspirou alunos de um colégio particular na zona leste de São Paulo a produzir um clipe sobre as relações trabalhistas. Usando apenas um celular, os estudantes encenaram a rotina exaustiva dos empregados: acordar de madrugada, enfrentar horas no transporte público lotado em pé, salários baixos, enquanto o lucro gerado por eles beneficia apenas os patrões.
A versão da banda Pato Fu para a música “Vida de Operário”, da Patife Band, serviu como trilha sonora para o vídeo produzido por estudantes do 3º ano do Colégio Júlio Botelho. O projeto escolar bimestral foi desenvolvido em 2024 como parte da disciplina Trabalho, um dos temas do novo currículo do ensino médio. A ideia surgiu enquanto Felicce lavava louça e ouvia a música.
Apaixonado por rock and roll, ele levou a proposta à sala de aula. “Os alunos compraram a ideia na hora, deram mais sugestões e deixei na mão deles. Levei apenas meu violão.”
Ao final da performance, os estudantes receberam a nota máxima: “10 com louvor”: “Foi um trabalho em conjunto, os alunos usaram os espaços da escola e ficou espetacular. Mas boa parte do mérito é deles, extremamente competentes.”
Essa iniciativa pedagógica rendeu frutos: parte dos ex-alunos já ingressou no mercado de trabalho. Juliana Zampieri, 19, é um exemplo do impacto do professor.
Inspirada por Felicce no sonho de ser piloto de avião, ela buscou um trabalho como aprendiz e, três meses após a formatura, tornou-se assistente administrativa em uma empresa de engenharia. As aulas, especialmente o projeto do clipe, onde ela atua, foram fundamentais para compreender direitos e deveres trabalhistas.
“Hoje, vejo o regime CLT [Consolidação das Leis Trabalhistas] como uma necessidade. Estar registrada me dá segurança, estabilidade e acesso a direitos importantes. É uma forma de crescer profissionalmente e me aproximar do meu objetivo, ser piloto, sabendo exatamente quais direitos buscar. Aprendi muito com o professor nessas aulas” afirma Juliana.
Felicce afirma que as aulas são construídas em alinhamento com as diretrizes da BNCC (Base Nacional Comum Curricular). “Essa estrutura oficial me dá liberdade de expressão e de cátedra. Permite usar a criatividade para tornar o aprendizado mais interessante. Aproveito e misturo do popular ao erudito.”
Em 2021, no auge da pandemia, Felicce criou o projeto “Interlocuções Culturais”, buscando uma educação que, naquele momento de isolamento, “fizesse sentido”. A iniciativa, mantida nas escolas em que ele leciona até hoje, convida personalidades de diversas áreas para compartilhar experiências em lives transmitidas em sala de aula, aproximando os estudantes do mundo profissional e conectando suas trajetórias ao universo estudantil.
O projeto já recebeu mais de 80 convidados, incluindo nomes como o ex-vocalista do Iron Maiden Blaze Bayley, o místico Inri Cristo, o campeão olímpico Emanuel Rego, a atriz Rafa Kalimann e a economista Sofia Manzano. A iniciativa impactou cerca de 700 alunos de escolas estaduais e privadas. “Essa interação direta é uma experiência muito rica”, diz o docente roqueiro.
Felicce destaca a importância de conversar diretamente com quem fez ou faz história, como quando convidou Willy Verdaguer, ex-baixista da banda Secos e Molhados, para falar sobre a produção cultural brasileira na década de 1960 e suas participações em clássicos da música brasileira, como “Alegria, Alegria” e “Divino Maravilhoso”.
A estudante universitária Ana Julia Vital Zapata, 18, afirma que Felicce ensinou que “qualquer boa conversa pode ser um grande aprendizado.” Para Julia Oliveira da Silva, 18, propor trabalhos diferentes “tornou o processo de aprendizado mais leve e divertido.”
Para o professor, as aulas são neutras, abertas e democráticas, sendo aplicadas da mesma forma em escolas públicas e privadas, “porque é para todos, assim como deve ser.”
A estudante de psicologia Nathalia Sarau, 18, conta que Felicce também foi fundamental num momento de incerteza sobre o futuro e as carreiras após a formatura. “Ele promovia conversas que davam segurança aos alunos. Ele nos ajudou muito. Sinto saudades das aulas com ele.”
Desde 2001 na rede de ensino, Felicce defende que a criatividade do professor deve ir para a sala de aula, e ele leva suas paixões a sério. Que tal uma aula sobre a Revolução Francesa que, em vez de só datas e nomes, ganha trilha sonora com “Bastille Day” (Dia da Bastilha) da banda Rush? Para ele, é assim que a história realmente faz sentido e revoluciona o aprendizado.
Felicce, que inicialmente sonhava em ser publicitário, encontrou na sala de aula o espaço ideal para sua criatividade e paixão pelo rock. Sua filosofia é clara: transformar vivências e observações cotidianas em material didático, enriquecendo o aprendizado dos alunos.
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