Na atual novela da 21h da TV Globo, personagem de Alice Wegmann vive com a DM1 desde a infância Saúde, Diabetes CNN Brasil
O diabetes tipo tem se tornado um tema recorrente na mídia. Primeiro ao ser citada em “Vale Tudo”, com Solange Duprat, personagem interpretada por Alice Wegmann no remake. Em uma das primeiras cenas da novela, a diretora de criação da agência Tomorrow aparece monitorando sua glicose e aplicando insulina com caneta.
Além disso, o tema voltou recentemente às rodas de conversa com o sensor de glicose comprado por Murilo Huff para seu filho com a cantora Marília Mendonça.
Mas diabetes não é uma doença que geralmente acomete pessoas mais velhas? Não exatamente: a seguir, entenda melhor o que é o tipo 1 da condição que surge na infância ou adolescência.
O que é o diabetes tipo 1?
Descoberta em 1921, a insulina é um hormônio essencial para a regulação da glicose no organismo. No entanto, alguns mecanismos podem tornar sua produção insuficiente ou inexistente. É o que ocorre no diabetes tipo 1, uma condição caracterizada pelo ataque do sistema imunológico às células do pâncreas, dificultando ou até mesmo impossibilitando a produção de insulina.
Dados da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) indicam que, atualmente, 13 milhões de brasileiros têm diabetes e entre 5% e 10% deles convivem com o tipo 1 da doença.
Chama atenção, ainda, o número crescente de crianças com diabetes tipo 1 no Brasil. Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), estima-se que em 2040 serão mais de 17 milhões de casos, frente aos 8,8 milhões registrados em 2020. Esse aumento pode estar associado a fatores ambientais que influenciam o desenvolvimento da doença.
Genética e o que ainda não sabemos sobre as causas
De acordo com Melanie Rodacki, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), as causas dessa variação do diabetes ainda não são totalmente compreendidas pela ciência.
O que se sabe é que a doença tem origem genética. No entanto, é possível carregar essa predisposição e nunca desenvolver a condição.
“É multifatorial”, diz a endocrinologista. Entre os gatilhos estão infecções virais, dieta na infância e até o estresse emocional. Nesse ponto, o tipo 1 difere do tipo 2, que está relacionado à resistência à insulina e a hábitos como tabagismo e má alimentação.
Como identificar os sintomas do diabetes tipo 1
Na novela, Solange conta ao amigo que convive com a doença desde que nasceu. Segundo Melanie, o diagnóstico de DM1 em bebês é raro.
“Pode acontecer, mas é importante diferenciar de um tipo chamado diabetes neonatal, causado por outra questão genética e com tratamento diferente. Às vezes, nem exige insulina e pode ser temporário ou permanente.”
No caso do tipo 1, a identificação geralmente ocorre na infância, adolescência ou fase adulta.
Os sintomas clássicos incluem:
- sede excessiva;
- urina frequente;
- fome constante;
- perda de peso;
- cansaço.
Sinais em crianças para ficar atento
Por serem muito pequenos e não conseguirem comunicar exatamente o que sentem, cabe aos pais identificarem os sintomas em crianças menores. Assim, é importante prestar atenção aos sinais:
- dificuldade para se desenvolver e/ou ganhar peso;
- excesso de urina;
- muito cansado;
- emagrecimento;
- muita sede;
- fome em excesso o tempo inteiro.
“Os pais e responsáveis precisam estar atentos. Muitas vezes, a doença aparece em pessoas que não têm histórico familiar”, alerta Rodacki.
Rastreamento e diagnóstico precoce
Atualmente, exames laboratoriais que avaliam a quantidade de glicose no sangue. De acordo com diretrizes da SBD, os testes mais comuns incluem:
- glicemia de jejum: mede a glicose após 8 horas,no mínimo, sem ingestão de alimento. Resultado igual ou superior a 126 mg/dL em duas dosagens diferentes é indicativo de diabetes;
- teste oral de tolerância à glicose (TOTG): após o consumo de uma solução açucarada, a glicemia é medida em jejum e duas horas depois. Valor igual ou superior a 200 mg/dL na segunda medição confirma o diagnóstico;
- hemoglobina glicada (HbA1c): indica a média da glicemia dos último 90 dias. Valor igual ou superior a 6,5% sugere diabetes.
Segundo a especialista, há um movimento global em andamento para detectar o diabetes tipo 1 em estágios iniciais, antes mesmo do surgimento dos sintomas, por meio de exames de anticorpos no sangue.
Países da Europa e os Estados Unidos já iniciaram programas de rastreamento, e há uma expectativa para que essa iniciativa chegue ao Brasil.
“Se a pessoa tiver dois ou mais tipos desses anticorpos, a chance de desenvolver a doença ao longo da vida é quase 100%”, explica. Assim, identificá-los o quanto antes permitiria que o tratamento correto se inicie antes e, quem sabe, retardar a progressão da doença.
Tratamento com insulina
O tratamento clássico do diabetes tipo 1 envolve a aplicação diária de insulina, mas os recursos disponíveis têm evoluído. Além das canetas aplicadoras e do monitoramento de insulina de ponta de dedo, existem as bombas de infusão automatizadas e sensores contínuos de glicose.
Essas tecnologias facilitam o controle da doença e reduzem o estresse e a vigilância constante que o diabetes exige.
Há também pesquisas promissoras com medicamentos capazes de atrasar o surgimento do diabetes tipo 1 em pessoas predispostas. Um exemplo é o teplizumab, aprovado nos Estados Unidos em 2022 pela Food and Drug Administration (FDA).
Além disso, estudos com células-tronco buscam alternativas para restaurar a produção de insulina, embora ainda enfrentem desafios, como a necessidade de imunossupressão.
Qualidade de vida é possível, mas com cuidados
Com acompanhamento médico adequado, pessoas com diabetes tipo 1 podem ter uma vida longa e saudável. Mas atenção é indispensável.
Em um capítulo da novela, Solange bebe álcool e é alertada por Sardinha. Ela o repreende e diz que já havia aplicado insulina em casa. A endocrinologista salienta que a cena em questão apresenta falhas na conduta ideal para uma pessoa com diabetes tipo 1.
“Ao tomar um drink com álcool e açúcar, há mais risco de hipoglicemia (glicose baixa) ou pico de glicose. Então, é complexo. O fato de aplicar a insulina em casa e muito tempo antes não consegue regular tudo isso.”
Ela recomenda monitoramento constante, alimentação adequada e decisões em tempo real para lidar com as variações.
Melanie também destaca a importância do planejamento para mulheres com diabetes tipo 1 que desejam engravidar, buscando alcançar níveis de glicose o mais próximo possível do normal antes da concepção para evitar malformações e outras complicações (como hipoglicemia neonatal, pré-eclâmpsia e macrossomia fetal).
Na fase idosa, os cuidados devem continuar com o mesmo rigor. Com controle adequado, é possível evitar complicações nos olhos, rins, sistema nervoso e garantir uma boa expectativa de vida.