Descubra como o estado de cetose atua no organismo, favorece a queima de gordura e pode auxiliar no tratamento da obesidade Saúde, Alimentação, Dieta cetogênica CNN Brasil
A busca pelo emagrecimento saudável tem levado muitas pessoas a experimentar estratégias diferentes das dietas convencionais. Entre elas, a cetose se tornou uma opção de destaque, tanto para quem deseja perder peso, quanto por especialistas em metabolismo. Nesse contexto, vale lembrar que mais do que uma moda passageira, a cetose é um processo fisiológico real, com efeitos diretos sobre a queima de gordura, a obesidade e a saúde metabólica.
A cetose é um estado em que o corpo, ao reduzir drasticamente os carboidratos, passa a usar a gordura como principal fonte de energia. Ela tem se mostrado especialmente útil para pessoas com obesidade, resistência insulínica ou dificuldade em perder peso com métodos tradicionais. Ao mesmo tempo, exige cuidados: não é indicada para todos os perfis e só deve ser feita sob acompanhamento médico ou nutricional.
Diferença entre cetose e déficit calórico
A endocrinologista e clínica geral Lyz Helena Aires Lopes explica que a cetose é um estado metabólico no qual, diante da baixa ingestão de carboidratos, o corpo passa a usar a gordura como principal fonte de energia. “Nesse processo, o fígado converte ácidos graxos em moléculas chamadas corpos cetônicos, que alimentam o cérebro, os músculos e outros tecidos”, explica a especialista.
Essa mudança de combustível interno diferencia a cetose de outra estratégia bastante conhecida: o déficit calórico. A médica explica que enquanto o déficit calórico se baseia em consumir menos calorias do que se gasta, o que acaba levando à perda de peso independentemente da fonte de energia, a cetose é uma adaptação do metabolismo.
“Mesmo sem uma grande restrição calórica, o corpo muda sua ‘prioridade’ de combustível, passando a queimar gordura de forma mais eficiente”, afirma a especialista.
Por que a cetose favorece a queima de gordura
De acordo com Lyz, a principal razão para a cetose favorecer a perda de gordura está na insulina. Ao restringir carboidratos, o corpo reduz a produção desse hormônio, que favorece o armazenamento de gordura. Com menos insulina circulante, há maior mobilização dos estoques de gordura. Além disso, os corpos cetônicos produzidos nesse processo têm efeito direto na saciedade, reduzindo a fome e evitando compulsões.
Outro ponto importante é que, nos primeiros dias de adaptação, o corpo aumenta o gasto energético, já que precisa reorganizar suas rotas metabólicas. “Esse conjunto de fatores — menos insulina, maior lipólise, mais gasto energético e uso da gordura estocada — explicam por que a cetose acelera a utilização de gordura como combustível”, resume a endocrinologista.
Benefícios que vão além da queima de gordura
Apesar de ser buscada principalmente como ferramenta para emagrecimento, a cetose traz efeitos positivos para a saúde metabólica como um todo. A Dra. Lyz destaca alguns benefícios do processo:
- Melhora do controle da glicemia em pessoas com pré-diabetes ou diabetes tipo 2.
- Redução dos triglicerídeos, contribuindo para a saúde cardiovascular.
- Aumento do HDL, conhecido como “colesterol bom”.
- Diminuição de processos inflamatórios no organismo.
“É uma estratégia que pode beneficiar tanto o peso quanto o funcionamento do corpo como um todo”, reforça a endocrinologista.
De acordo com a especialista, a cetose pode ser indicada para pessoas com obesidade, resistência insulínica ou dificuldade em perder peso com estratégias tradicionais. Já pacientes com doenças renais, hepáticas ou histórico de transtornos alimentares não devem seguir esse caminho.
O tempo médio para o corpo entrar em cetose é de dois a quatro dias, dependendo da ingestão de carboidratos, do nível de atividade física e da individualidade metabólica. Em alguns casos, pode levar até uma semana.
Riscos e cuidados necessários
Assim como qualquer intervenção alimentar, a cetose também exige cautela. Entre os efeitos colaterais mais comuns estão:
- Fadiga.
- Constipação intestinal.
- Mau hálito.
- Perda de massa muscular.
De acordo com Lyz, no longo prazo, se não houver acompanhamento profissional, pode ocorrer também sobrecarga renal, deficiências de vitaminas e minerais, além de alterações no perfil lipídico em pessoas predispostas.
Diante desse cenário, a médica reforça: “A dieta cetogênica nunca deve ser feita sem supervisão. Cada organismo responde de um jeito e os riscos precisam ser monitorados com exames periódicos”.
Erros mais comuns ao buscar a cetose
Segundo a especialista, quatro erros aparecem com frequência entre quem tenta alcançar a cetose:
- Consumir excesso de proteínas, que podem ser convertidas em glicose e atrapalhar o processo.
- Não monitorar carboidratos escondidos em frutas, molhos e produtos industrializados.
- Negligenciar a hidratação e a reposição de eletrólitos, o que favorece sintomas como câimbras e fadiga.
- Acreditar que qualquer gordura é válida, abusando de ultraprocessados ricos em gorduras ruins.
A cetose é uma ferramenta poderosa para estimular a queima de gordura e auxiliar no tratamento da obesidade, mas está longe de ser uma solução universal. “Cada pessoa tem um metabolismo, uma condição de saúde e um objetivo diferente. O segredo está em adaptar a estratégia e garantir acompanhamento profissional”, reforça a endocrinologista.

