Artista é formada em ciências biológicas pela UFRPE e a primeira da família entrar em uma instituição pública, onde começou a nascer o interesse pela cena drag Entretenimento, #CNNPop, Drag Queen, Drag Race Brasil CNN Brasil
De Carnaíba, no sertão do Pernambuco, Ruby Rose, 31, percorreu uma estrada de poesia, forró e resistência e se consagrou a vencedora da segunda temporada do “Drag Race Brasil”, com final exibida na última quinta-feira (11) na plataforma de streaming WOW Presents.
Criada entre histórias de Lampião e Maria Bonita, a sonoridade de Luiz Gonzaga e a força cultural nordestina, a artista ergueu a coroa mais desejada da cena drag. Em entrevista à CNN, a top drag pernambucana diz que ainda tenta assimilar a conquista após semanas de provas que testaram dança, maquiagem, atuação e costura.
“Não consigo processar nada ainda. Eu demoro, naturalmente, a processar as coisas. Então, para mim, nada mudou, parece até que eu não ganhei. Ainda não caiu a ficha de tudo que aconteceu. Mas posso dizer a você que foi incrível. Era um sonho”, revela.
“Nunca passou pela minha cabeça imaginar de forma palpável que isso poderia ser realizado de verdade. Porque, imagina, há 13 ou 14 anos, quando comecei assistir [ao reality], não havia nem perspectiva de ter um ‘Drag Race Brasil’. Então me imaginar hoje, ganhando uma temporada, é literalmente muito surreal”, declara.
Ruby destaca, ainda, a dedicação que tem em relação à arte drag e seu trabalho. “Isso atinge as pessoas de uma forma tão positiva, tão legal, que me deixa muito contente e extremamente realizado.”
Inspirações
Ruby lembra que começou a assistir ao reality na segunda temporada da versão americana e que uma de suas grandes inspirações foi a Raven. “Por conta dela, comecei a fazer drag. Fiquei apaixonado pelo que ela fazia, não só no programa, mas também fora dele. Eu a acompanhava e achava perfeita. Eu me inspirava nela para tentar ser um pouco do que ela fazia na época”, conta.
“Mas um diferencial meu é que eu não fiquei preso ao ‘Drag Race’ e às drags americanas. Fui atrás de conhecer as drags brasileiras, as pernambucanas. Me inspirei, me envolvi e hoje fico muito feliz de ter do meu lado grandes nomes da arte pernambucana.”
Orgulho de ser drag queen
Na final do reality, Ruby destacou o orgulho de ser drag queen e ressaltou, à CNN, que nunca duvidou de seu talento. “Desde o início, sempre tive muita convicção disso. Sempre me vi muito boa enquanto uma artista. Óbvio que eu não era tão boa assim [risos], mas a gente sempre se vê bem. A arte demanda estudar, se dedicar, aprimorar. Ao longo dos anos melhorei em muitos aspectos, justamente pela dedicação e pelo estudo.”
Fiz técnico em teatro, estudei performance. E também aprendi nos camarins da vida com tantas artistas incríveis. Aprendi truques, aprendi na prática. Drag é feita no palco, no camarim. Não existe escola para ser drag queen.
Ruby Nox, drag queen
Para Ruby Rose, ser drag queen vai muito além do glamour do palco e da fama conquistada no “Drag Race Brasil”. “Não é uma arte fácil. Muita gente quer colocar a gente em caixinhas, ‘ele é ator’. Mas nem todo ator consegue ser uma boa drag. Ser drag é muito mais do que isso. É mistura de muitas artes que se encontram para formar um personagem. Por isso eu dou muito valor ao nosso trabalho.”
Trajetória na competição
Durante a competição, Ruby acreditava que seu ponto forte seria a performance, mas acabou surpreendida. “Imaginava que meu maior destaque seria justamente a performance. Acabou que eu me ferrei, porque foi logo no Lalaparuza que eu caí no bottom. Fiquei surpreso em conseguir fazer graça”, diz.
“Sou engraçado naturalmente, sempre fui palhaço, meus amigos sempre disseram que eu ia render memes. Mas eu não imaginava conseguir levar isso para o trabalho drag. Fazer graça não é fácil, improvisar não é fácil. Mas eu tirei a força do meu interior e fiquei surpreso com o resultado. Eu posso não ter sido o melhor em todos os episódios de comédia, mas me saí bem e fiquei orgulhoso.”
Outro destaque foi a forma como Ruby trouxe referências brasileiras e pernambucanas para seus looks. “Quando a gente recebe o briefing do que precisa levar para o programa, eu já imaginei que queria encaixar o máximo de Pernambuco possível. Se eu tivesse mais tempo, teria colocado ainda mais. Sou de Carnaíba, uma cidade que é berço de cultura fortíssimo. Desde pequeno eu escuto forró, Luiz Gonzaga, as histórias de Lampião. Essas coisas sempre estiveram na minha vida, não tinha como fingir que não. São minhas narrativas também.”
Ciências biológicas e o apoio da família
A artista conta também sobre a relação com a mãe. Formada em ciências biológicas pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), e a primeira da família entrar em uma instituição pública, ela começou a fazer drag ainda na universidade.
“Comecei escondido da minha mãe, por cinco anos. Toda vez que ela vinha a Recife eu escondia tudo. Até que um dia ela descobriu, ficou sem falar comigo, mas hoje ela me apoia. Vai aos espetáculos, é minha primeira crítica. No vídeo de apresentação do ‘Drag Race’, foi a primeira vez que parte da minha família me viu montada, pessoalmente. Foi muito emotivo. Muita gente se apaixonou pela minha mãe depois daquele vídeo. Apesar de sermos de uma região machista, minha família é um diferencial e me apoia de verdade. Eu amo todos eles”, diz.
A fama, que veio junto com a vitória, ainda é novidade para a queen. “Para mim, a fama não era tão importante. Sempre quis ser validado enquanto artista, pelo meu trabalho. Mas entendo que agora as pessoas querem saber também da minha vida pessoal, da personalidade, não só do artista no palco. Isso é novo, estou tentando me adaptar, e talvez a terapia ajude [risos]. As pessoas me param na rua, conversam comigo como se fossem íntimas.”
Sobre os próximos passos, Ruby já tem planos no teatro, no cinema e nas turnês. “Já trabalhava com cinema e teatro antes do reality. Tem materiais meus que vão ser lançados ainda este ano ou no próximo. Vai ter a tour com o elenco do programa, e já estou planejando uma turnê fora do Brasil. Também quero viajar o Brasil inteiro, levar um pouquinho do meu trabalho para para cada canto”, finaliza, cheia de sorrisos.
Prêmio
O “Drag Race Brasil” é a franquia brasileira de “RuPaul’s Drag Race” — reality de competição de drag queens, idealizado e apresentado pela icônica drag queen americana RuPaul Charles. O programa coroou sua segunda campeã com um prêmio de R$ 150 mil, um ano de produtos da Anastácia Cosmetics e o tradicional cetro e coroa de Drag Superstar.
Sob o comando da cantora Grag Queen, o reality reuniu novamente Dudu Bertholini e Bruna Braga como jurados fixos e trouxe uma série de convidados especiais para a bancada. Mellody Queen, Melina Blley, Poseidon Drag e Ruby Nox disputaram a grande final.
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