Após o início da leitura do voto do ministro Alexandre de Moraes no terceiro dia de julgamento da Ação Penal (AP) 2.668, que apura a tentativa de golpe de Estado em 2022, na 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), a Embaixada dos Estados Unidos no Brasil repostou mensagem publicada ontem pelo subsecretário da Diplomacia Pública dos Estados Unidos, Darren Beattie. A embaixada traduziu para português o texto que diz que “medidas cabíveis” continuarão a ser tomadas em relação ao ministro.
“Dia 7 de setembro marcou o 203º Dia da Independência do Brasil. Foi um lembrete do nosso compromisso de apoiar o povo brasileiro que busca preservar os valores de liberdade e justiça”, escreveu a embaixada em post no X (antigo Twitter), na manhã desta terça-feira (9/9).
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“Para o ministro Alexandre de Moraes e os indivíduos cujos abusos de autoridade têm minado essas liberdades fundamentais – continuaremos a tomar as medidas cabíveis”, reforçou na publicação.
Dia 7 de setembro marcou o 203º Dia da Independência do Brasil. Foi um lembrete do nosso compromisso de apoiar o povo brasileiro que busca preservar os valores de liberdade e justiça. Para o ministro Alexandre de Moraes e os indivíduos cujos abusos de autoridade têm minado essas… https://t.co/hViIVdfzfI
— Embaixada EUA Brasil (@EmbaixadaEUA) September 9, 2025
No último domingo (7/9), apoiadores e aliados do ex-presidente manifestaram-se na Avenida Paulista, em São Paulo (SP), em prol da anistia a Bolsonaro.
Desde o fim de agosto, com a proximidade do início do julgamento de Bolsonaro e de seus aliados, o governo brasileiro e o STF têm esperado uma escalada na crise política. O governo do presidente Lula acionou Lei de Reciprocidade e acelerou respostas ao tarifaço. No STF, o ministro Alexandre de Moraes abriu o julgamento dizendo que a Corte não se submeterá a coações ou obstruções no exercício de sua missão constitucional.
Bolsonaro é líder da tentativa de golpe, disse Moraes ao votar
Durante a leitura de seu voto, Moraes, que é relator da ação penal, apontou o ex-presidente Jair Bolsonaro como líder da organização para a tentativa de golpe de Estado em 2022. O ministro apresentou um organograma em um slide projetado no auditório com as funções de cada réu na organização para a tentativa de golpe.
“Sobre a liderança de Jair Messias Bolsonaro, é de se verificar que, durante o período de julho de 2021 até 8 de janeiro de 2023, essa organização criminosa, com divisão de tarefas de forma permanente e hierarquizada — o que caracteriza o crime de organização criminosa — praticou vários atos executórios”, disse o ministro.
Segundo Moraes, foram praticados atos executórios destinados a atentar contra o Estado Democrático de Direito e para tentar depor, por meio de violência ou grave ameaça, o governo legitimamente constituído. O ministro defendeu que a análise dos fatos deve se dar de forma conjunta, não por fatos isolados, conforme o apresentado pelo Procurador-Geral da República (PGR), Paulo Gonet. Para Moraes, a tentativa de golpe ocorreu de julho de 2021 até 8 de janeiro de 2023.
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Ainda na leitura de seu voto, Moraes disse que “o Brasil quase voltou a uma ditadura que durou 20 anos porque um partido político não sabe perder eleições, porque uma organização criminosa constituída por um grupo político, liderado por Jair Bolsonaro, não sabe que o princípio democrático republicano é a alternância de poder”.
E seguiu afirmando que “quem perde vira oposição e disputa as próximas eleições. Quem ganha assume e tenta se manter nas eleições, mas tenta se manter pelo voto popular, não tenta se manter utilizando órgãos do Estado, não tenta se manter coagindo, ameaçando gravemente, deslegitimando o Poder Judiciário de seu país e a Justiça Eleitoral”.
Sanções ao Brasil
O STF tem sido alvo de críticas do presidente norte-americano, Donald Trump, que acusa a Corte de promover uma “caça às bruxas” contra Jair Bolsonaro. Em julho, Trump anunciou uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, alegando uma “resposta a políticas, práticas e ações recentes do Governo do Brasil que constituem uma ameaça incomum e extraordinária à segurança nacional, à política externa e à economia dos Estados Unidos”.
Em comunicado, Washington afirmou que há “perseguição política, intimidação, assédio, censura e processos judiciais movidos pelo Governo do Brasil contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e milhares de seus apoiadores”, e citou o ministro Alexandre de Moraes como responsável por “ameaçar, perseguir e intimidar milhares de opositores políticos”.
Em 30 de julho, o governo americano anunciou a aplicação da Lei Magnitsky contra Moraes. A norma, de 2016, permite sanções unilaterais dos EUA contra estrangeiros acusados de violações de direitos humanos ou corrupção. Com isso, Moraes teve bens e interesses bloqueados sob jurisdição americana, medida que pode afetar operações em bancos e serviços internacionais.
O julgamento de Bolsonaro
Além de Bolsonaro, são réus na ação outros sete aliados: Alexandre Ramagem, ex-diretor da Abin; Almir Garnier, ex-comandante da Marinha; Anderson Torres, ex-ministro da Justiça; Augusto Heleno, ex-ministro do GSI; Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência; Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa e Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil.
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Eles estão sendo julgados pelos crimes de organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado.

