Apesar da linguagem da vilã ‘Vale Tudo’ ser rebuscada, especialista alerta: redação pede texto direto e objetivo, sem termos complexos Educação, redação CNN Brasil
Se você pensa que Odete Roitman, interpretada por Debora Bloch no remake de “Vale Tudo”, só serve para chocar com seu cinismo, prepare-se para uma surpresa. Na reta final para o Exame Nacional do Ensino Médio, a vilã mais amada (e odiada) da televisão brasileira surge como uma aliada inusitada e cheia de estilo para quem busca aprimorar o vocabulário. Afinal, como ela mesma diria: “Enem é uma coisa pequeno burguesa, mas não é de bom tom deixar passar, meu bem!”
Enquanto muitos buscam relaxar antes da prova com filmes e séries, assistir ao envolvente remake da Globo e, principalmente, prestar atenção às falas afiadas da personagem, pode ser surpreendentemente produtivo.
Com um repertório linguístico invejável e um humor ácido que já virou marca registrada, Odete Roitman não apenas domina as cenas, mas também oferece um verdadeiro banho de termos e expressões que podem elevar o nível da escrita dos estudantes na redação. Afinal, a riqueza do nosso idioma se manifesta em todas as suas nuances, até mesmo no sarcasmo mais refinado.
A vilã, que não suporta a “humanidade” e seus “idiotas sem a mínima elegância”, paradoxalmente, se torna uma guia para a elegância verbal. A reportagem mergulhou nas pérolas da personagem e desvendou como o cinismo pode ser uma ferramenta poderosa para brilhar no Enem, transformando o entretenimento em conhecimento.
Linguagem rebuscada
Mas por que o vocabulário de uma vilã tão peculiar, seria útil para o Enem? Para Tássia Hallais, mestra em Literatura Brasileira e autora dos livros infantis “A Coragem de Lina” e “Uma Heroína Chamada Firmina”, a resposta está na própria estratégia da vilã.
Para a especialista, as frases de Odete Roitman demonstram que a vilã faz uso de uma linguagem rebuscada, com adoção de termos pouco conhecidos pela população em geral, com o intuito de expor seus pensamentos preconceituosos de um modo que soe “elegante” e que, ao mesmo tempo, aumente o valor do seu discurso.
“É como se por ser um discurso de difícil compreensão necessariamente fosse verdadeiro, demonstrasse um conhecimento a mais. Ou seja, ela busca afirmar que está num patamar acima do ‘povão’. Esse tipo de estratégia pode até reforçar sua posição de poder, mas prejudica o entendimento.”
Um exemplo clássico dessa “elegância” que beira o desprezo é quando Odete dispara: “Eu não costumo acompanhar rede social de ninguém, eu acho isso uma das coisas mais aviltantes que alguém pode fazer com o próprio cérebro!”
Dicas para redação
No dia a dia, e nas redações para vestibulares, Enem e concursos públicos, a comunicação deve ser a mais simples e direta possível. Tássia dá dicas de como aumentar o vocabulário e, mais importante, como recorrer à linguagem de forma eficaz na escrita.
O uso da norma culta da língua portuguesa precisa ser respeitado nas redações, segundo a especialista, porém deve-se evitar adoção de uma linguagem excessivamente rebuscada, com termos muito complexos, quando há equivalentes mais simples.
“O ideal é o candidato escrever um texto direto, objetivo, e que se atenha ao que foi solicitado pela banca em termos de forma e conteúdo. É necessário prestar atenção na pontuação, na gramática e no desenvolvimento do texto. Fazer o básico bem-feito, sem ‘inventar a roda’”.
Para aumentar o repertório, segundo Tássia, é interessante que o aluno vá além do conteúdo dos livros didáticos. Obras de literatura, cinema, exposições de arte, teatro e leitura de sites confiáveis de notícias são essenciais para a especialista.
“Há uma infinidade de possibilidades, incluindo telenovelas e seriados, para aumentar o conhecimento geral dos alunos, o que pode ajudar não apenas a descobrir quem matou Odete Roitman, mas também a passar no Enem.”
Glossário Odete Roitman:
- “Minha senhora, nós não temos lastro, nem intimidade, para uma agressão dessa monta”
A pessoa que a ofende não tem moral, base ou proximidade suficiente para fazer uma crítica tão grande ou importante. - “Eu não costumo acompanhar rede social de ninguém, eu acho isso uma das coisas mais aviltantes que alguém pode fazer com o próprio cérebro”
Acredita que acompanhar redes sociais é algo extremamente humilhante, degradante ou que rebaixa a inteligência de uma pessoa. - “É só você botar os pés no Galeão e você já começa a sentir esse calor horroroso, a ver aquela gente horrível no caminho, aquela gente feia parada esperando aqueles ônibus caquéticos”
Descreve os ônibus como velhos, em mau estado de conservação, quase caindo aos pedaços. - “Mas é o apogeu do mau gosto”
Considera algo como o ponto mais alto, o auge do mau gosto, o pior que se pode ver em termos de estética ou elegância. - “O que que muda o nome Celina, que diferença faz chamar de alcoolista, alcoólatra pinguça, bêbada, pé de cana… se mudasse alguma coisa, se resolvesse o problema, eu chamava a doença da Heleninha até de meu amor, meu bem”
Questiona a importância de usar termos mais “corretos” para a condição de Heleninha, afirmando que a nomenclatura não resolve o problema real. - “Comemorar domingo é um coisa tão pequena burguesa que me dá até vergonha”
Considera que comemorar o domingo é um hábito típico de pessoas de classe média, com gostos e valores que ela julga banais ou sem sofisticação. - “Não se usa mais marcar encontro não? É um hábito muito civilizado que você deve praticar no seu dia a dia”
Sugere que marcar encontros é uma prática educada, refinada e que demonstra boas maneiras, algo que deveria ser comum. - “A hipocrisia é tão elegante”
É um comentário cínico que mostra como o fingimento e a falsidade são, ironicamente, vistos como algo sofisticado ou aceitável na sociedade. - “Depois de uma certa idade a gente não deve ficar de mau humor em público, meu bem. Não é de bom tom”
Afirma que, após uma certa idade, é inadequado ou deselegante demonstrar mau humor em público, pois isso não segue as regras de boa conduta social. - “Você acha o que? Que eu quero salvar a humanidade? Eu não suporto a humanidade! Bando de idiotas sem a mínima elegância”
Expressa seu desprezo pela humanidade, que ela vê como um grupo de pessoas sem inteligência ou sofisticação.