Pela oitava vez desde adoção do regime de metas, presidente da autarquia precisou enviar carta ao ministro da Fazenda
Este conteúdo foi originalmente publicado em Entenda por que BC deve se explicar à Fazenda caso inflação fique fora da meta no site CNN Brasil. Macroeconomia, -agencia-cnn-, Banco Central (BC), CNN Brasil Money, Inflação, Meta de inflação, Ministério da Fazenda CNN Brasil
A missão definida por lei ao Banco Central (BC) é a de proteger o valor da moeda brasileira. Defender o valor do real significa controlar a inflação.
Para tal, desde 1999 a autarquia atua sob um regime de metas de inflação. A perseguição do alvo é um dos “pés” de um modelo bancado pelo então presidente da República, Fernando Henrique Cardoso (PSDB), para manter a estabilidade da economia brasileira: o tripé macroeconômico.
Por sua vez, esse regime se sustenta através de quatro pilares:
- Conhecimento público e prévio da meta;
- Autonomia do BC – sem interferência política – na adoção das medidas necessárias para o cumprimento do objetivo;
- Comunicação transparente e regular sobre os objetivos e justificativas das decisões da política monetária;
- Mecanismos de incentivo e responsabilização/prestação de contas para que a autoridade monetária cumpra a meta.
Até 2024, o objetivo foi perseguido com base na inflação do ano-calendário em questão. Em caso de descumprimento da meta, após a divulgação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) consolidado do período, o presidente da autarquia tem de vir a público e explicar o motivo do estouro em uma carta encaminhada ao ministro da Fazenda.
Nesta sexta-feira (10), o atual presidente e ex-diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, endereçou o informe a Fernando Haddad. Mais cedo, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou o resultado da inflação de 2024, que encerrou o ano em 4,83%, superando o teto de 4,5% da meta.
Com isso, o BC teve de se explicar pela oitava vez desde o início do sistema de metas.
Junta de uma nota no Relatório de Política Monetária, a carta deve trazer um diagnóstico detalhado das causas por trás do descumprimento, um receituário para levar a inflação de volta à meta e o prazo esperado para que os efeitos sejam atingidos.
O BC deverá realizar um novo comunicado caso não cumpra o objetivo no prazo estipulado ou se julgar necessário atualizar as providências ou o tempo necessário para retomar a meta.
Contudo, a partir deste ano, o BC passa a adotar um regime de metas contínuas de inflação – invés de uma fechada por ano. Com a mudança, o presidente do BC é obrigado a prestar explicações caso o índice acumulado em 12 meses ultrapasse a meta por seis meses consecutivos.
O que diz a carta enviada por Galípolo?
Na carta enviada a Haddad, Galípolo afirma que a inflação ficará acima da meta até o terceiro trimestre deste ano.
“De acordo com as projeções do cenário de referência do Relatório de Inflação de dezembro, a inflação ficará acima do limite do intervalo de tolerância até o terceiro trimestre de 2025, entrando depois em trajetória de declínio, mas ainda permanecendo acima da meta”, escreveu o presidente da autarquia.
Dentre os “porquês” por trás do estouro da meta, Galípolo aponta o crescimento da economia, depreciação cambial e fatores climáticos.
“O fato de o real ter sido a moeda de maior depreciação em 2024, considerando seus pares ao nível internacional e os países avançados, sugere que fatores domésticos e específicos do Brasil tiveram papel expressivo nesse movimento cambial”, disse a autoridade monetária.
“No âmbito doméstico, a percepção dos agentes econômicos sobre o cenário fiscal afetou, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes, especialmente o prêmio de risco, as expectativas de inflação e a taxa de câmbio.”
Este conteúdo foi originalmente publicado em Entenda por que BC deve se explicar à Fazenda caso inflação fique fora da meta no site CNN Brasil.