Possibilidade vem crescendo em meio à pressão militar dos Estados Unidos no Caribe; Brasil não é mais uma opção provável Internacional, EUA, Fuga, Nicolás Maduro, Venezuela CNN Brasil
A pressão militar dos Estados Unidos contra a Venezuela vem alimentando a possibilidade de que o ditador Nicolás Maduro deixe o país latino-americano em uma eventual fuga.
O chavista nega qualquer plano de sair do território venezuelano e jurou “lealdade absoluta” ao povo.
Do outro lado, a Casa Branca insiste que Maduro procure refúgio em outra nação, dando a oportunidade de que ele escolha o destino e viaje junto a familiares.
O Departamento de Justiça dos Estados Unidos oferece US$50 milhões por informações que levem à prisão de Maduro, acusado pelo governo Trump de integrar grupos criminosos, como o Tren de Aragua.
Considerando as polêmicas que cercam o ditador e a pressão da Casa Branca, quais países poderiam receber Maduro caso ele fugisse da Venezuela?
Maduro buscará países em que a “proximidade ideológica e uma ligação com o líder do país” sejam fortes, indica a professora de Relações Internacionais da ESPM, Denilde Holzhacker, em entrevista à CNN.
Já o professor de Relações Internacionais, Marcus Vinicius de Freitas, da China Foreign Affairs University, destaca um aspecto mais prático. Segundo ele, um país pode ser descartado da lista de possíveis destinos se a sua “capacidade de proteção é reduzida nesse processo”.
O Brasil, no entanto, não apareceria mais como um lugar provável, já que as relações entre Brasília e Caracas ficaram estremecidas diante da recusa do Itamaraty em reconhecer os resultados eleitorais da Venezuela sem as atas de votação.
Além disso, Maduro é investigado por crimes contra a humanidade no Tribunal Penal Internacional e o Brasil, como signatário do Estatuto de Roma, teria que prender o chavista caso a corte de Haia emitisse um mandado de prisão.
Diante desse cenário, a CNN apurou que quatro países poderiam ser destinos para Nicolás Maduro caso ele fugisse da Venezuela.

Turquia, a relação de “ouro”
Venezuela e Turquia mantêm fortes ligações de comércio internacional, com os fluxos chegando a um bilhão de dólares no ano de 2022. Entre os produtos comprados pelo país de Erdogan, está o ouro.
O comércio rendeu críticas do Ocidente, principalmente dos americanos, que chegaram a acusar os turcos de desviarem o metal para o Irã, o que violaria sanções internacionais.
O ouro recebido pelos turcos também levantou suspeitas sobre a possibilidade de Maduro enviar parte de sua fortuna pessoal ao exterior de forma sigilosa.
A professora Denilde Holzhacker aponta que a Turquia tem se colocado como “menos suscetível a pressões”, o que tornaria o país um refúgio desejado.
Por outro lado, Turquia e Estados Unidos têm desde 1979 um tratado de extradição, o que poderia complicar a situação de Maduro em uma eventual fuga.
Irã, o sentimento antiamericano
Teerã e Caracas também mantêm relações bilaterais próximas, sendo que os dois países assinaram um tratado abrangente de cooperação estratégica, com duração de 20 anos.
Mais do que interesses em comum, os dois têm um inimigo em comum claro: os Estados Unidos.
O professor Marcus Vinicius de Freitas afirma que o Irã pode ser um destino porque a Venezuela tem sido utilizada como “um instrumento de desestabilização dos Estados Unidos como parte da política iraniana”, e há relatos de que o Irã tem uma ” célula operacional na Venezuela”.
Neste contexto, abrigar Maduro poderia ser entendido como um ato de resistência à influência de Washington.
Teerã também já foi acusada de furar o bloqueio imposto à Venezuela com navios de carga comercial.
Rússia, o destino seguro
Muitos dos equipamentos militares exibidos por Maduro nessa retórica de propaganda contra uma eventual invasão americana vieram de transações com a Rússia, parceira importante no comércio e na diplomacia da Venezuela.
As duas nações também compartilham valores anti-Ocidente e antiamericanos e têm proximidade ideológica.
Receber Nicolás Maduro poderia tornar o país alvo de pressões e sanções internacionais, algo que os russos já entenderam como comum, muito por causa da guerra no leste europeu.
Em outras palavras, a Rússia seria um “país que poderia estar disponível” por ser “suficientemente outsider” e não ter preocupação em sofrer mais punições por abrigar o chavista, destaca a professora Denilde.
Em relação à segurança, Moscou é um destino atrativo. A forte estrutura de Estado russa poderia ser empregada para garantir proteção a Maduro e familiares.
Além disso, Moscou tem experiência em abrigar líderes exilados. Há quase um ano, o ditador da Síria, Bashar al-Assad, deixou Damasco às pressas em direção a Moscou após a queda do regime dele.
Cuba, o aliado histórico
A aliança entre Cuba e Venezuela é um dos grandes atrativos para Maduro escolher a ilha como seu local de refúgio.
Os líderes das duas nações são ideologicamente próximos e formaram laços de dependência econômica.
Cuba, após o fim da União Soviética, se tornou um “satélite da Venezuela” devido à “quantidade enorme de investimentos por parte dos venezuelanos em território cubano”, o que tem “assegurado uma sobrevivência do regime da ilha”, de acordo com o professor Marcus Vinicius.
Mesmo assim, escolher Cuba também viria com desvantagens: Havana está a apenas 150 quilômetros de distância da Flórida, proximidade demais para quem buscaria um refúgio seguro dos americanos.

