Presidente do BC afirmou ainda que a solução não tem “bala de prata” e não depende do BC, mas dos governantes e sociedade Macroeconomia, Banco Central, CNN Brasil Money, Gabriel Galípolo, subsídios CNN Brasil
O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou nesta terça-feira (8) que parte das distorções que enfraquecem a eficácia da política monetária pode ser enfrentada com a revisão de subsídios cruzados que deixaram de fazer sentido econômico.
Ao comentar o atual patamar da Selic, em 15% ao ano, Galípolo destacou que o debate sobre juros no Brasil não deve se limitar ao número, mas ao conjunto de fatores que sustentam esse nível por tanto tempo.
“As pessoas geralmente colocam o tema como sendo a taxa de juros mais alta. Isso não traz a pergunta na totalidade. A pergunta é como o Brasil sustenta essa taxa e consegue performar de forma dinâmica”, disse. As falas foram feitas durante participação de um almoço promovido pela Frente Parlamentar do Empreendedorismo (FPE).
O presidente do BC afirmou que esse cenário sugere falhas nos canais de transmissão da política monetária, que exigem “doses maiores do remédio” para surtirem efeito.
Um dos fatores que contribuem para a baixa sensibilidade da economia aos juros, segundo ele, é a existência de subsídios que criam distorções.
“Se eu fosse dizer de maneira mais honesta, é meio acabar com subsídios cruzados que talvez façam pouco sentido”, afirmou. “Alguns subsídios cruzados estão gerando mais distorção. A gente precisa botar na luz do sol para entender se a relação custo-benefício tá valendo a pena ou não”, disse.
Mas, segundo ele, a responsabilidade sobre decisões estruturais é da sociedade e dos representantes eleitos e “não cabe ao Banco Central fazer essas escolhas”.
“Cabe à sociedade, a quem foi eleito democraticamente, tomar essas decisões. Cabe ao BC esclarecer de que maneira essas medidas geram impacto na sua atuação e na política monetária”, destacou.
Galípolo citou exemplos nos dois extremos do mercado de crédito. De um lado, o uso recorrente de linhas emergenciais como o rotativo do cartão de crédito e o cheque especial.
Do outro lado, ele apontou a existência de empresas que emitem dívida a taxas inferiores às dos títulos públicos, o que não é comum em economias maduras.
“No Brasil, você tem empresas que emitem dívida a uma taxa abaixo do título soberano, por conta de algum tipo de subsídio. Quanto maior a taxa, nominalmente ou de forma bruta, o subsídio também é maior. É mais uma distorção”, disse.
Galípolo também mencionou o financiamento imobiliário, que ainda depende fortemente da poupança.
“Hoje ainda depende muito da caderneta de poupança, que vem perdendo fonte conforme as pessoas vêm percebendo outras alternativas”, afirmou. Para ele, trata-se de um “custo de financiamento que não tem relação plena com o ciclo de política monetária.”
Na visão do presidente do BC, essas distorções são resultado de décadas de convivência com juros elevados. “Eu chamo essas lógicas de vacina. Como convivemos durante décadas com taxas de juros mais elevadas, diversos setores da economia foram aprendendo a conviver com isso e criando mecanismos para poder sobreviver. E aí foi empilhando distorções”, frisou.
Galípolo reconheceu que não há solução rápida para o problema. “Diferente do plano real, que você fez uma medida e em seis meses a inflação tinha caído muito. Nesse caso, não parece ter uma bala de prata. Você não vai ter uma vitória por ippon. Vai ser uma coisa de muitos pontinhos, com persistência, especialmente com esse debate público que estamos fazendo aqui”, destacou.
Brasil tem a 2ª maior taxa de juro real no mundo após alta da Selic