Falsas informações colocam a eficácia do protetor solar em dúvida, no entanto, especialistas reforçam a importância do uso diário, seja na prevenção do câncer, envelhecimento precoce e manchas Saúde, Cuidados com a pele, Dermatologia, Protetor solar CNN Brasil
Nas últimas semanas, o TikTok foi bombardeado de vídeos que promoviam a falsa ideia de que a exposição solar sem proteção poderia ser benéfica à saúde da pele. Além disso, parte dos conteúdos também defendia receitas caseiras com o uso de óleos e manteigas. De acordo com recente consulta da CNN, publicações com a hashtags #AntiSunscreen ou #NoSunscreen já somavam mais de 18 milhões de visualizações.
Embora o movimento tenha viralizado recentemente, a tendência Anti Sunscreen começou ainda em 2019, quando a FDA, agência reguladora dos Estados Unidos, solicitou estudos sobre alguns componentes presentes em fórmulas. A medida, que até então fazia parte de um processo de atualização científica, foi interpretada em teor duvidoso, dando abertura para que o filtro solar ganhasse o título de vilão.
O que os especialistas dizem sobre o movimento anti-protetor solar?
À CNN, o dermatologista Lucas Miranda, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, explica que a proteção solar inadequada pode causar diversos danos à pele, incluindo queimaduras, envelhecimento precoce, manchas, imunossupressão local e, principalmente, aumento do risco de câncer de pele, como o melanoma.
“A radiação ultravioleta (UV), mesmo em dias nublados, é capaz de penetrar na pele e causar alterações no DNA celular. Embora a luz solar seja importante para a síntese de vitamina D, essa produção pode ser alcançada com exposição controlada e supervisionada, sem os riscos cumulativos da exposição crônica e desprotegida”, comenta.
Segundo ele, a defesa no uso de óleos e manteigas vegetais no lugar de protetores solares vem, em grande parte, de um apelo ao “natural”, com base na crença de que produtos naturais são sempre mais seguros e saudáveis. “Essa ideia, porém, não leva em conta o rigor científico necessário para comprovar eficácia fotoprotetora”, garante.
“Nenhum óleo ou manteiga vegetal disponível comercialmente apresenta fator de proteção solar (FPS) adequado, estabilidade à radiação UV ou testes dermatológicos que validem sua segurança para esse fim”, acrescenta.
O uso desses produtos como substitutos de protetor solar pode provocar uma falsa sensação de segurança. “Eles não protegem efetivamente contra os danos causados pela radiação UV, e sua aplicação pode, inclusive, potencializar o dano térmico pela absorção de calor. Além disso, alguns desses óleos são comedogênicos, podendo causar acne ou dermatites. Quando aplicados e expostos ao sol, podem ainda oxidar e gerar produtos irritantes ou alergênicos à pele”, detalha.
Também à CNN, o biomédico Thiago Martins, mestre em medicina estética, conta por que algumas pessoas relacionam a exposição solar ao aumento de imunidade.
“Essa crença se baseia parcialmente no fato de que a luz solar contribui para a síntese de vitamina D, um nutriente importante para o funcionamento do sistema imune. No entanto, essa associação tem sido supervalorizada. A vitamina D pode ser obtida por suplementação oral, sem a necessidade de exposição solar prolongada e desprotegida. Além disso, a exposição excessiva ao sol pode, paradoxalmente, ter efeito imunossupressor local na pele, o que facilita o desenvolvimento de lesões cancerígenas”, diz.
Quais os benefícios da proteção solar?
O uso regular de protetor solar reduz significativamente o risco de câncer de pele, protege contra queimaduras solares, previne o envelhecimento precoce (como rugas e manchas) e controla doenças fotossensíveis como melasma, lúpus e rosácea.
Além disso, em pessoas que realizam tratamentos dermatológicos com ácidos, lasers ou peelings, o protetor solar é essencial para garantir segurança e melhores resultados clínicos.
Atualmente, de acordo com Thiago, não há nenhum produto natural que ofereça a mesma eficácia e segurança dos filtros solares testados e regulamentados. Embora certos extratos vegetais possuam antioxidantes ou algum grau de absorção UV, isso não é suficiente para substituir o protetor solar. “Para quem busca alternativas mais naturais, existem opções de protetores com filtros minerais, como óxido de zinco e dióxido de titânio, que são considerados seguros e eficazes, inclusive para peles sensíveis e crianças”, conclui.

