Depois de ser o foco de uma das mais graves crises de imagem da gestão Lula, o INSS agora é parte da estratégia de consolidar o processo em curso de recuperação da popularidade do Planalto.
Nessa quinta-feira (24/7), inicia-se o processo de ressarcimento dos descontos indevidos feitos nas aposentadorias nos últimos anos. A expectativa do governo é contemplar diariamente 100 mil pessoas, seguindo a ordem de entrada dos pedidos e critérios sociais. Indígenas, quilombolas e pessoas acima de 80 anos terão preferência na fila.
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Até hoje, 980 mil pedidos de devolução já haviam sido formalizados, pouco menos da metade (45%) do total de pessoas com direito ao ressarcimento.
Estímulo para pedidos de ressarcimento
O governo tem intensificado as ações de mídia para estimular as pessoas a darem entrada nos pedidos e acelerar o encerramento desse capítulo, com um final bem menos dramático do que se desenhava no início do escândalo —que veio à tona em um momento de baixa popularidade do presidente Lula.
A etapa seguinte é buscar cobrar as entidades que fraudaram e tomaram indevidamente recursos dos aposentados, processo que se dará pela via judicial. Para além da questão fiscal, de buscar recuperar o dinheiro que agora está sendo pago por meio de endividamento do governo federal, tem as questões simbólicas e de disputa de narrativas, evitando que cresça a tese de que o contribuinte está pagando a conta de um roubo de entidades ligadas a sindicatos.
Previdência quer acelerar em agosto redução de fila
Com a mira em melhorar a imagem na gestão da previdência social, está em curso um novo esforço para tentar reduzir a fila do INSS, que voltou a crescer neste ano. Esse processo já começou, mas vai se intensificar em agosto, segundo um interlocutor do Ministério da Previdência, com a contratação de 500 peritos.
Ainda que não declarado, o aumento da fila e o consequente represamento do gasto previdenciário, o maior do orçamento primário da União, foram parte da estratégia de contenção fiscal que vigorou do fim do ano passado até o primeiro semestre deste ano.
Retomada da expansão fiscal
A partir de agora, o governo entrou em rota de retomada da expansão fiscal, com o pagamento de precatórios, descontingenciamento de gastos, liberação de emendas parlamentares, entre outras medidas. E a gestão da fila do INSS é parte desse processo de um governo que cada vez mais mira chegar competitivo e com favoritismo à reeleição no pleito de 2026.
Os ataques tarifários deram a Lula e sua equipe a chance de se “enrolar na bandeira” e tomar o discurso do patriotismo da oposição. Isso gerou um alívio geral entre os governistas no campo simbólico, com o aumento da popularidade de Lula e a retomada da narrativa política por parte do Planalto.
O que se pretende com a devolução dos recursos desviados do INSS é, em parte, reforçar essa tendência. Mas isso não permite ao Planalto se descuidar de fazer o governo ampliar suas entregas e, a partir daí, melhorar a percepção da população.