Militares israelenses insistiram que vão voltar a aderir trégua; situação para tratar feridos é descrita como “catastrófica” Internacional, ataque, Cessar-fogo, Faixa de Gaza, Israel, Reféns israelenses CNN Brasil
Ataques israelenses em Gaza mataram pelo menos 104 pessoas, incluindo dezenas de crianças, disseram autoridades sanitárias do enclave nesta quarta-feira (29), marcando o dia mais mortal desde o início do cessar-fogo defendido pelo presidente dos EUA, Donald Trump.
Os ataques vieram na noite de terça-feira (28) depois que Israel acusou o Hamas de matar um soldado e encenar a descoberta de um refém morto.
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu instruiu os militares a realizarem “ataques imediatos e poderosos na Faixa de Gaza”, disse seu gabinete em uma breve declaração.
Os EUA foram notificados da decisão de realizar ataques em Gaza, disse um oficial dos EUA à CNN.
Os militares disseram nesta quarta-feira (29) que vão retomar o cessar-fogo, mas continuarão a “responder com força a qualquer violação.”
O Hamas denunciou o que chamou de “bombardeio criminoso” por parte de Israel, que, segundo ele, violou o acordo de cessar-fogo. Também negou atacar soldados israelenses e reafirmou seu compromisso com a trégua.
Pelo menos 104 pessoas foram mortas nos ataques em Gaza na noite de terça-feira (29), de acordo com o Ministério da Saúde no enclave devastado. Entre eles, estão pelo menos 46 crianças e 20 mulheres, disse o ministério.
O diretor do Hospital Al-Shifa descreveu a situação sanitária e humanitária como “catastrófica”.
“Não há medicamentos ou suprimentos médicos para tratar os feridos e os doentes”, segundo o Dr. Mohammed Abu Salmiya disse à CNN.
O exército israelense nomeou o soldado morto como Yona Efraim Feldbaum, de 37 anos, do assentamento de Zayit Raanan na Cisjordânia ocupada.
Feldbaum, que integrava o Corpo de Engenharia de Combate na Divisão de Gaza, morreu em combate no sul de Gaza, disse a Força de Defesa de Israel (IDF).
Um oficial militar disse que o Hamas atacou tropas israelenses a leste da chamada linha amarela, que separa Gaza ocupada por Israel do resto do território. As tropas, na área de Rafah, no sul de Gaza, foram atacadas por granadas lançadas por foguetes e atiradores de elite, disse o oficial.

A CNN entrou em contato com a Defesa de Israel em busca de um posicionamento.
O presidente dos EUA, Donald Trump, disse que entendia que “eles mataram um soldado israelense”, sem nomear o Hamas.
“Então os israelenses retaliaram”, disse ele aos repórteres no Air Force One durante a viagem para a Coreia do Sul, falando antes dos relatos de dezenas de vítimas dos ataques israelenses terem surgido.
“Nada vai comprometer” o cessar-fogo, acrescentou, repetindo as ameaças de que o Hamas seria “eliminado.”
Na terça-feira (28), o escritório de Netanyahu disse que o Hamas estava em “clara violação” do acordo de cessar-fogo de Gaza depois de retornar restos para Israel que não pertenciam a nenhum dos 13 reféns ainda desaparecidos no enclave.
Um funcionário israelense disse à CNN que entre as opções consideradas estão a expansão da chamada linha amarela – a linha de retirada de Israel em Gaza – reocupando território adicional, ou retomando o corredor de Netzarim, que atravessa Gaza.
Outra fonte israelense disse à CNN que qualquer resposta seria coordenada com os EUA, acrescentando que Israel também está considerando restringir o fluxo de ajuda humanitária, mas Washington se opõe a essa medida.
Israel acusa Hamas de encenar descoberta
Os militares israelenses também divulgaram um vídeo de drone na terça-feira (28) que diz mostrar membros do Hamas enterrando um pano branco contendo um corpo na cidade de Gaza e, em seguida, encenar sua descoberta na frente da Cruz Vermelha.
No vídeo de quase 15 minutos, três homens são vistos arrastando uma mortalha branca em um terreno demolido perto de um prédio e cobrindo a mortalha com terra.
Depois que o lençol está completamente coberto, uma escavadeira pega a sujeira e a deixa cair em uma pilha próxima.
Momentos depois, funcionários da Cruz Vermelha chegam ao local quando o pano que contém o corpo é retirado da terra.
Com a Cruz Vermelha de pé nas proximidades, o vídeo mostra o pano branco sendo enterrado e descoberto mais uma vez enquanto alguém filma a cena com celular.
Os militares disseram que o vídeo mostrou que o Hamas “está tentando criar uma falsa impressão de esforços para localizar os corpos” dos reféns mortos que ainda não foram devolvidos.
A CNN não pode verificar de forma independente o vídeo ou as identidades dos indivíduos nele contidos.
A Cruz Vermelha disse que sua equipe “não sabia que uma pessoa morta tinha sido colocada lá antes de sua chegada, como visto na filmagem.”
“É inaceitável que uma falsa recuperação tenha sido encenada, quando há tanto em jogo para o acordo ser mantido e quando tantas famílias ainda estão ansiosamente aguardando notícias de seus entes queridos”, disse a Cruz Vermelha em um comunicado.
A organização disse que tinha concordado em atuar como um intermediário “de boa fé” e observou que a situação em Gaza é “extremamente desafiadora”
A CNN entrou em contato com o Hamas em busca de um posicionamento.

Entrega de corpos adiada
Logo depois que Netanyahu disse que Israel iria realizar novos ataques em Gaza, o braço armado do Hamas anunciou que adiaria a entrega do corpo de um refém que foi recuperado no sul de Gaza na terça-feira (28) devido às “violações” de Israel.”
O grupo militante também alertou que qualquer escalada israelense iria “dificultar as operações de busca e escavação e a recuperação dos corpos” dos reféns israelenses mortos.
O Hamas foi designado para transferir os restos mortais de um refém para Israel através da Cruz Vermelha na terça-feira (28). O grupo disse que o corpo foi retirado de um túnel em Khan Younis.
Um segundo corpo foi desenterrado em Nuseirat, no centro de Gaza, dos escombros de um edifício onde Israel havia realizado uma operação de resgate em junho de 2024.
A operação resgatou três reféns israelenses.
O Hamas disse na época que outros reféns haviam sido mortos durante a operação israelense, o que tanto Israel como os EUA negaram.
Mas a CNN tem imagens geolocalizadas da recuperação do corpo que mostra que é o mesmo edifício onde ocorreu o resgate, levantando novas questões sobre se os reféns israelenses foram mortos durante a missão.
O Ministério da Saúde palestino disse que mais de 270 palestinos foram mortos e centenas feridos como resultado da operação de resgate.
O Hamas devolveu a Israel nesta segunda-feira restos mortais parciais que não pertenciam a nenhum dos 13 reféns ainda desaparecidos no enclave.
Israel identificou os restos como pertencentes a Ofir Tzarfati, um refém que foi sequestrado do festival de música Nova em 7 de outubro e recuperado durante uma operação militar israelense em Gaza em novembro de 2023.
Israel lançou sua guerra contra o Hamas após os ataques terroristas de 7 de outubro de 2023, nos quais o grupo militante e seus aliados mataram mais de 1.200 pessoas e levaram 251 reféns para Gaza.
Nos dois anos desde então, mais de 68 mil palestinos foram mortos e mais de 170 mil feridos no enclave, segundo o Ministério da Saúde de Gaza.
Acredita-se que milhares de palestinos estejam enterrados sob os escombros.
Israel aprovou o cessar-fogo em 9 de outubro de 2025. O acordo incluía várias condições, incluindo a libertação de todos os reféns israelenses vivos e a devolução dos corpos, além da retirada de algumas tropas israelenses de Gaza.
Na terça-feira (28), o Hamas havia devolvido apenas 15 dos 28 corpos de reféns mortos que permaneceram em Gaza no momento da assinatura do cessar-fogo.

