Neurocientista falou sobre como uso da inteligência artificial pode afetar faculdade mental dos seres humanos Saúde, Cérebro, futuro, Inteligência Artificial, Neurociência CNN Brasil
Considerado um dos nomes mais importantes da neurociência mundial, o médico Miguel Nicolelis apresentou algumas de suas ideias sobre o uso da inteligência artificial, o que chamou de “um dos maiores engodos” que a humanidade já produziu. A fala ocorreu durante o evento Despertar 2025, realizado neste sábado (20), em São Paulo.
A inteligência artificial, chamada por ele de NINA, será abordada no novo livro do estudioso, que levará, inclusive, a sigla no nome.
NINA, detalhou o médico, é o acrônimo para “nem inteligente, nem artificial”. “Estou escrevendo a biografia da NINA. Esse acrônimo descreve a visão da vasta maioria dos neurocientistas sobre a maior venda de snakeoil, o óleo de cobra que os americanos usam para descrever o que é enganação”.
IA – um contrassenso para a neurologia
Segundo o estudioso, nem os próprios neurocientistas têm como descrever precisamente o que é a inteligência, uma vez que não há como quantificar o processo neurobiológico que gera esse fenômeno. “Os grandes atributos da mente humana não são computáveis pela lógica digital, porque nenhum de nós é um computador digital. Nenhum ser humano se comportou como uma máquina de turing, que é o nome original do sistema digital”. E completou. “O que a gente [neurocientistas] chama de inteligência não tem a ver com o que os overlords (expressão para CEOs e investidores) do Silicon Valley chamam de IA, até porque, nenhum deles sabe o que está produzindo”.
A IA vai enfraquecer o cérebro humano?
Em meio ao debate sobre o tema, Nicolelis lembrou que o cérebro humano, assim como o corpo, funciona à base do uso de energia. “Quanto mais a gente delega funções para a máquina, vamos perdendo atributos cognitivos e o cérebro vai percebendo que não precisa mais gastar energia com isso”, explica o pesquisador. “Quem hoje sabe decor dois ou três telefones?”, brincou, lembrando que essas mudanças de hábitos podem transformar também o funcionamento da mente humana.
Se a máquina é ou será capaz de replicar a capacidade cerebral, o neurocientista é categórico ao afirmar que não vai acontecer. “O meu medo não é a replicação do cérebro humano pela máquina. Isso nunca vai acontecer, vai contra as leis da física, o cérebro humano não funciona na lógica digital”, contextualiza.
Qual o futuro da IA?
Nicolelis lembra que as LLMs (Large Language Models) – sistemas avançados para entender e gerar textos pela inteligência artificial – usam o passado para moldar o futuro e que todos alucinam, ou seja, produzem respostas sem sentido ou completamente dissociadas da verdade. “Eles não têm nenhum compromisso com a verdade ou com a acurácia”, completa.
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