Ex-presidente uruguaio não teria participado da elaboração de plano para sequestrar diplomatas, mas teria concordado com a ideia, segundo livro
Este conteúdo foi originalmente publicado em Movimento guerrilheiro de Mujica sequestrou cônsul brasileiro no Uruguai no site CNN Brasil. Internacional, Pepe Mujica, Uruguai CNN Brasil
A guerrilha Movimento de Liberação Nacional, os Tupamaros, da qual Pepe Mujica foi um dos líderes, sequestrou o cônsul brasileiro em Montevidéu por mais de 200 dias entre 1970 e 1971.
O diplomata Aloysio Dias Gomide foi sequestrado aos 41 anos em sua casa na capital uruguaia, no dia 31 de julho de 1970. Para entrar na moradia, onde também estavam a esposa e um dos filhos do cônsul, os guerrilheiros fingiram que eram trabalhadores do serviço estatal de telefonia. Gomide foi levado em seu próprio automóvel, ainda vestindo pijama.
Simultaneamente, os Tupamaros sequestraram Dan Mitrione, chefe da missão policial dos Estados Unidos no Uruguai, mas segundo o jornal Folha de S. Paulo da época, fracassaram ao tentar sequestrar mais dois diplomatas americanos.
O sequestro dos diplomatas brasileiro e dos EUA fazia parte de um plano dos guerrilheiros, batizado de “Plano Satã”, para forçar o governo uruguaio a libertar presos políticos.
Apesar das súplicas da esposa do cônsul brasileiro, Maria Aparecida Gomide, o presidente uruguaio da época, Jorge Pacheco Areco, se recusou a negociar com os Tupamaros.
Operações policiais foram realizadas para identificar o paradeiro do diplomata, principalmente depois que o embaixador britânico em Montevidéu, Geoffrey Jackson, também foi sequestrado posteriormente.
Mas as buscas não deram frutos. Em uma das cartas enviadas por Gomide do cativeiro para sua esposa, ele disse pressentir a proximidade de sua morte.
Campanha pela soltura de diplomata
Diante da intransigência do governo uruguaio da época ao falar com os guerrilheiros, Maria Aparecida tomou as rédeas da negociação e de uma campanha para arrecadar, no Brasil, um milhão de dólares exigidos pelos sequestradores.
Ela participou de programas de televisão, recebeu apoio dos amigos de Gomide que promoveram uma caravana no Rio de Janeiro para ajudá-la na campanha, e de bancos que se dispuseram a abrir contas em seu nome para a arrecadação de fundos em centenas de agências.
Jornais da época relatam que a população se mobilizou, fazendo enormes filas para contribuir com dinheiro e entrando em contato para oferecer doações de itens como relógios, para ajudar na arrecadação.
O cônsul acabou solto depois de 205 dias de sequestro, em 21 de fevereiro de 1971, após o pagamento do dinheiro do resgate por Maria Aparecida, que negociou diretamente com os guerrilheiros no Uruguai.
Na época do sequestro, Mujica estava preso na penitenciária de Punta Carretas. No livro Comandante Facundo, que romantiza a vida do ex-presidente, o jornalista uruguaio Walter Penas conta que nesta prisão nasceu a ideia de sequestrar diplomatas para exigir a libertação de prisioneiros pelos Tupamaros.
O livro não inclui o ex-presidente como participante da elaboração do plano, mas afirma que ele concordou com a ideia, que partiu de integrantes da “direção” do movimento e em particular de Eleuterio Fernández Huidobro, que depois viria a ser ministro da Defesa de Mujica.
Após a passagem pelo Uruguai, Gomide ainda foi embaixador do Brasil no Haiti. O diplomata brasileiro faleceu em 2015, aos 86 anos, depois de sofrer uma parada cardíaca.
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