O caminhão-tanque apreendido com cerca de 6,5 toneladas de maconha no município de Cristalina (GO), no Entorno do Distrito Federal, em janeiro de 2023, foi encomendado pela facção criminosa Comboio do Cão (CDC), conforme concluiu a Polícia Civil (PCDF). O carregamento foi adquirido em áreas fronteiriças com o Paraguai e tinha como destino a capital da República.
O Comboio do Cão nasceu no Recanto das Emas, no DF, e não tem vínculos com outras organizações criminosas. Por isso, a capacidade logística e organizacional da movimentação da quantidade assustadora do produto ilícito chamou a atenção – por se igualar a de grandes facções, como o Primeiro Comando da Capital (PCC).
A conclusão que vinculou as toneladas com o CDC foi possível após intensa investigação de agentes da Coordenação de Repressão às Drogas (Cord) que atuam na desarticulação da facção na capital.
Caminhão-tanque
À época da apreensão, a droga, que estava dividida em aproximadamente 250 pacotes com 26 kg cada, foi encontrada por servidores da PCDF e da Polícia Rodoviária Federal (PRF), escondida dentro de um caminhão-tanque de óleo vegetal. O conteúdo presente no veículo, segundo as corporações, tinha o objetivo de despistar a fiscalização.
Na data da apreensão, o motorista do veículo disse aos policiais que não receberia dinheiro pelo transporte, porque tinha uma dívida com os traficantes. As investigações, contudo, apontaram que, na verdade, o condutor tem vínculo direto com a lideranças do Comboio do Cão.
Tráfico de drogas e lavagem de dinheiro
Meses antes da apreensão das 6,5 toneladas pela PCDF, outras 2,5 toneladas de maconha pertencentes à facção foram interceptadas pelo Batalhão de Polícia de Fronteira do Paraná. À época, a droga foi localizada pelas autoridades entre os municípios de Campo Mourão e Goioré, no Paraná.
A investigação subsequente desenvolvida pelo Departamento de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado revelou que o destino do carregamento, encomendado por integrantes da CDC, era o Distrito Federal. As investigações confirmaram que o motorista que conduzia as 2,5 toneladas fazia parte da facção criminosa e já havia feito outros transportes para o grupo.
Em dezembro de 2023, foi deflagrada a Operação Shot Caller. Na data, foram cumpridos 22 mandados de prisão cautelar e 35 mandados de busca e apreensão. Ao fim do inquérito, 29 pessoas foram indiciadas por integrarem a facção criminosa, incluindo dois advogados. Dessas, 23 foram indiciadas por lavagem de dinheiro.
A investigação revelou, ainda, o envolvimento da facção em ações criminosas que incluíam o tráfico de drogas e lavagem de dinheiro utilizando empresas de fachada.
Em 25 de abril de 2024, a Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco) deflagrou uma nova etapa da Operação Shot Caller – com foco na desarticulação da rede de lavagem de dinheiro da organização criminosa.
Foram cumpridos seis mandados de busca e apreensão, além do sequestro judicial de patrimônios. A ação abrangeu Planaltina, Ceilândia, Taguatinga e Planaltina (GO), onde empresas de fachada, como uma construtora e uma transportadora, foram identificadas como instrumentos para lavagem de dinheiro e transporte de drogas e armas.
Na data também houve a apreensão de veículos de luxo, jet skis e caminhões, bem como o bloqueio de contas bancárias de pessoas físicas e jurídicas ligadas à facção. O valor total do patrimônio sequestrado ultrapassou R$ 5 milhões. Nessa fase, 20 investigados, incluindo lideranças como TH, Juninho e Bruno Xita, foram indiciados por associação ao tráfico, tráfico de drogas e lavagem de dinheiro.
Condenações
Após denúncias e inquéritos finalizados, integrantes do alto escalão do Comboio do Cão foram condenados por integrar a organização criminosa. Entre eles estão: Cícero da Silva Oliveira, conhecido como Padrinho, Bruno da Silva Santarém, José Regis Santos Santana, Jose Adriano Santos Santana e Filipe Fernandes de Melo.